terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Maçonaria

(Símbolo de um grupo maçônico - Fonte: desconhecida)
Acredita-se que os primeiros grupos maçônicos tenham surgido na Idade Média, formados por homens dos canteiros de construção das grandes catedrais católicas, entre eles pedreiros, escultores, carpinteiros, etc... Esses profissionais, altamente qualificados, eram respeitadíssimos por seus trabalhos e muito bem remunerados. Costumavam se reunir em Guildas, uma espécie de sindicato trabalhista.

Cada guilda era um local de reunião utilizado como escola para qualificar novos trabalhadores além de servir como ponto de encontro afim defender os interesses da classe. Na Inglaterra essas guildas eram chamadas de "lodges" sinônimo de loja. Dessa maneira as lojas de construtores reuniam homens riquíssimos em busca de ascensão social, o que era praticamente impossível nas sociedades medievais.

Em 1717 surge a Grande Loja, em Londres, a partir da união de quatro lodges, esse é considerado o ano oficial do surgimento da Maçonaria, mas a essa altura seus integrantes já guardavam segredos que iam além dos empregados nas construções catedráticas, eles começavam a formular opiniões políticas. Usavam do conhecimento como forma de alcançar espaço de prestígio nas sociedades europeias, dominadas pelo poder do sangue azul.

Eram homens ricos em busca de poder, que até então era destinado somente aos bem nascidos filhos da alta nobreza. Por sua ambição foram considerados uma ameaça, encarados como conspiradores e tiveram seus planos rapidamente detidos pela poderosa Igreja Católica. A católica Ordem dos Cavaleiros Templários compunha características maçons e durante as cruzadas se tornou um verdadeiro Banco Internacional.

Felipe IV, rei da França, precisou recorrer a empréstimos com os Templários e sem condições para pagar a dívida conseguiu convencer o Papa Clemente V a excomungar e extinguir a Ordem confiscando seus tesouros. De lá para cá as comunidades maçônicas vem atuando na clandestinidade e sofrendo diversas perseguições por todo o mundo.

As lendas que foram surgindo em torno dos maçons tornaram-nos verdadeiros pactuantes do demônio aos olhos das sociedades. Hoje despertam medo em todos os cantos do planeta, mas o fato é que não passavam de homens destinados a conquistar o seu espaço social que foram forçados a agir às escuras para não sofrerem a perseguição católica, que geralmente, terminava com as torturas aplicada pela Santa Inquisição.

A maçonaria, que teve como berço, supõe-se, a região da Escócia, esteve por trás das maiores transformações ocorridas nos séculos XIX e XX; seus integrantes criaram o lema "liberdade, igualdade e fraternidade" e a marcha Marselhesa durante a Revolução Francesa, também integraram o rol dos libertadores da América Espanhola através de homens como Simón Bolívar, Bernardo O'Higgins e José de San Martín.

Na Independência Americana dos 56 homens que assinaram a declaração 54 eram maçons, entre eles estavam Benjamin Franklin e George Washington. No Brasil, os três monarcas estavam envolvidos na comunidade maçônica, tanto que Dom Pedro II chegou a ser grão-mestre maçom de uma loja carioca. Na  primeira republica não foi diferente, dos 12 presidentes brasileiros, 8 eram maçons.

Após a leitura deste texto não seria o caso de repensarmos todas as barbaridades que ouvimos até então sobre as comunidades maçônicas, mais conhecidas por seitas demoníacas? Creio que sim, não é mesmo?! Pense, pesquise mais sobre o assunto e evite o constrangimento de julgar aquilo que não conhece. Até mais.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Marquesa de Santos, a "preferida" de Dom Pedro I

(Óleo sobre tela atribuído a F.P do Amaral - Acervo: Museu Histórico Nacional - RJ)
De todas as aventuras extraconjugais do primeiro imperador brasileiro, Dom Pedro I, nenhuma causou tanto alvoroço quanto a relação de sete anos vivida com Domitila de Castro Canto e Melo que acarretou em cinco gravidezes. Nascida na cidade de São Paulo em 27 de dezembro de 1797, Domitila era um ano mais velha do que o monarca e considerada um tanto quanto feia.

Suas curvas eram generosas segundo os relatos da época, seu rosto bastante arredondado, preenchidos por olhos grandes e negros, sobrancelhas espessas, mas bem delineadas, lábios finos e nariz pontiagudo. Sua expressão era altiva, séria, enigmática, e sobretudo, determinada e insinuante. Boa educação não era seu ponto forte, algumas de suas cartas revelam seu semianalfabetismo. 

Em 1813, com apenas 15 anos de idade, casou-se com o alferes mineiro Felício Pinto Coelho de Mendonça. Acusada de adultério, sofreu a tentativa de homicídio por parte do marido enfurecido que lhe atacou a facadas. Após o incidente, voltou a morar com seus país e foi processada por Felício que reinvindicava a guarda de seus filhos.

Com a ajuda de seu irmão conheceu Dom Pedro e pediu para que ele interferisse por ela no julgamento, assim feito, foi julgada uma senhora de boa conduta e teve seu casamento anulado uma vez que o marido foi culpado por adultério e maus tratos. Para deixa-la em paz Felício recebeu muitos benefícios das mãos do jovem imperador.

Na noite de 29 de agosto de 1822 acontece a primeira noite de amor do casal iniciando uma história repleta de tumultos. Em poucos meses de relação foi levada para morar no Rio de Janeiro, mais tarde recebeu um palacete ao lado do paço real, que, dizem, possuía uma passagem secreta para facilitar os encontros amorosos, mas esse foi apenas um dos diversos presentes que receberia do monarca brasileiro.

Os presentes que receberia variavam entre flores, animais e comidas até poderosas e imponentes jóias. Dom Pedro I que aniversariava em 12 de outubro costumava presentear Domitila nessa data, assim no ano de 1825 foi agraciada com o título de Viscondessa de Santos que no ano seguinte seria elevado ao de Marquesa de Santos.

Já em 1827 a lembrança que recebera junto de uma carta foi um tanto duvidosa. O envelope continha dois fios de seu bigode, mas a natureza encaracolada dos cabelos indicava que poderia ter sido removida de uma parte mais íntima de seu corpo. Para poder acompanhar o amante ela foi nomeada dama de honra da imperatriz Leopoldina, humilhando publicamente a esposa traída, mas nem todas as surpresas eram felizes.

Sua irmã, Maria Benedita, também acabou se envolvendo com o imperador, oito anos mais novo do que ela, caso comprovado com o nascimento de um menino. Certa noite Maria sofreu um sério atentado a tiros em sua carruagem e todas as suspeitas recaíram sobre Domitila, a irmã traída, mas o inquérito foi rapidamente arquivado a pedido do governante galanteador.

Em 1826 com o falecimento da imperatriz brasileira, Dom Pedro I começa a procura de uma nova consorte européia, de berço respeitável e bons costumes. Nesse momento a paixão avassaladora pela Marquesa de Santos já havia prejudicado-o demais no cenário político. A morte de Leopoldina humilhada e melancólica aumentou o descontentamento da sociedade, era necessário tirar a amante preferida de cena.

Após ignorar vários pedidos para que deixasse a corte carioca, em 17 de agosto de 1829, Domitila foi ameaçada de perder todos os benefícios que conquistara e ter o inquérito sobre o ataque à sua irmã reaberto caso não deixasse o Rio de Janeiro em sete dias, assim, resolveu regressar a São Paulo encerrando o escandaloso caso de amor imperial. 

Em 14 de junho de 1842 casou-se com o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar com quem teve cinco filhos. Após dezesseis gravidezes que geraram quatorze filhos de três pais diferentes, ela ainda conseguiu ingressar no seleto rol das damas da alta sociedade brasileira falecendo em 13 de novembro de 1867 vítima de enterocolite. Mais informações sobre essa personagem polêmica podem ser encontradas no livro 1822 de Laurentino Gomes. Até mais.

A Guerra de Independência do Brasil, um confronto de esfarrapados

(Óleo sobre tela de Antônio Parreiras)

A Guerra de Independência do Brasil foi deflagrada em fevereiro de 1822 e chegou ao fim em novembro de 1823, contabilizando 21 meses de batalhas contra Portugal que desejava reafirmar seu poder sobre nosso país restabelecendo a condição metrópole/colônia. As cortes portuguesas estavam exaltadas e começaram a enviar tropas para nosso país.

Esta guerra é pouco conhecida porque não foi tão grandiosa. O numero de mortos, calcula-se, não ultrapassou a margem de 2.000 a 3.000 pessoas. Os dois países estavam em situação difícil, pouco podiam investir nos conflitos. Portugal conseguia empréstimos com um pouco mais de facilidade do que o Brasil, até então uma colônia com sonhos de liberdade e 8000km de litoral para defender.

A prioridade brasileira era, sem dúvida alguma, criar e manter um Exército, mas sobretudo uma Marinha de Guerra. Para isso foram organizadas doações públicas que foram iniciadas com as benesses de Dom Pedro I e sua esposa, Dona Leopoldina. O mutirão nacional teve suas contribuições destinadas primeiramente para a equiparação da indústria naval.

A melhor saída era evitar que os navios portugueses aportassem, uma vez que, em terra o exército brasileiro era muito frágil, recém criado, ainda estava mal preparado pra combater as eficientes tropas lusitanas. Grande parte dos soldados locais eram escravos ou jovens recrutados a força. Muitos homens amputavam dedos das mãos para não ter que ingressar nas batalhas.

Uma saída encontrada foi buscar auxílio na Europa. Com o fim das incursões de Napoleão Bonaparte as nações europeias eram verdadeiros celeiros de navios de guerra e oficiais da mais alta habilidade militar. Na Inglaterra o recrutamento havia sido proibido por lei, então os enviados brasileiros afirmavam que estavam em busca de colonos para as terras produtivas do Brasil, muitos chegaram aqui iludidos com essa ideia.

Nas ruas brasileiras o clima era de instabilidade. Os portugueses que andavam por aqui eram constantemente atacados, a não ser que fossem reconhecidos adeptos da causa de independência. As batalhas tinham duas frentes e por isso aconteciam quase que simultaneamente no sul e no norte do país, a mais significativa delas foi a Batalha de Jenipapo.

A Bahia foi a que mais sofreu com os ataques, sobretudo na cidade de Salvador. Pará e Maranhão se mantiveram fiéis a Lisboa por muito tempo. Os três redutos se renderam somente com a chegada do almirante Cochrane. A reconquista do trono português para Dom João VI executada por seu filho Dom Miguel, irmão de Dom Pedro I, acalmou o conflito provocado pelas cortes. Mais detalhes sobre a Guerra de Independência do Brasil podem ser encontrados no livro 1822 de Laurentino Gomes. Até mais.



domingo, 15 de janeiro de 2012

Thomas Alexander Cochrane, herói ou vilão da Independência Brasileira?

(Fonte desconhecida)
O escocês Thomas Alexander Cochrane, alto, bonito, destemido, rei dos mares, era uma verdadeira celebridade, reconhecido internacionalmente ao ponto de ser chamado de "El Diablo" pelo maior estrategista militar de sua época, Napoleão Bonaparte. Integrante da grandiosa marinha britânica, perdeu seu cargo junto do seu título de nobreza ao ser acusado de fraudes na bolsa de valores.

Teimoso, narcisista e ganancioso, possuía o hábito de desacatar seus superiores. Expulso das poderosas embarcações da Inglaterra passou a trabalhar para as nações emergentes que buscavam a independência de suas metrópoles se tornando uma espécie de libertador dos povos. Seus barcos incendiários eram capazes de vencer inimigos poderosos.

Suas manobras eram ousadas e acompanhadas de invenções como lâmpadas de comboio usadas em navios, propulsores a vapor, máquinas de alta pressão e armas químicas. Atuando em países vizinhos foi visto como uma saída para a Independência brasileira. Só um militar deste calibre poderia libertar nosso país das invasões portuguesas que atrapalhavam os planos de separação dos dois países.

O ministro brasileiro, José Bonifácio, decide contratar os serviços de Cochrane que atuou na Independência do Brasil e também na Confederação do Equador. Os serviços do primeiro almirante da marinha brasileira foram satisfatórios, fez um verdadeiro milagre ao vencer as batalhas com os péssimos navios a disposição e o baixo valor em caixa para comprar armamentos e manter as embarcações em bom estado.

O problema é que o general tinha o péssimo hábito de fazer fortuna saqueando os lugares por onde passava. Em São Luiz do Maranhão, por exemplo, após expulsar os portugueses acabou furtando a cidade num valor aproximado de quarenta milhões de reais. Juntas Salvador, São Luiz e Belém sofreram uma perda de praticamente setenta e cinco milhões.

O governo brasileiro não considerou todo esse valor como soldo de guerra, devolvendo muita coisa a seus verdadeiros donos, desconsiderando o pedido de Cochrane que desejava receber todo o dinheiro. Aborrecido, o  oficial decidiu partir do país em 18 de maio de 1825 levando consigo a fragata Ipiranga. Essas atitudes deixam a dúvida: afinal ele foi um herói ou um vilão de nossa independência?

O homem que planejara trazer Napoleão para a América e formar uma confederação terminou seus dias no ano de 1860, já reabilitado na marinha britânica e tido como herói. Até 1874 o Brasil ainda pagava indenizações a seus familiares descontentes pelo pagamento considerado injusto. Você pode encontrar mais detalhes da vida desse polêmico navegador em 1822 de Laurentino Gomes.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

José Bonifácio de Andrada e Silva, o nome que está por trás da Independência do Brasil

(José Bonifácio idealizando a Bandeira do Brasil em tela de  Eduardo Sá)

José Bonifácio de Andrada e Silva, filho de comerciantes moradores de Santos, partiu para a Europa no ano de 1783 com apenas vinte anos de idade rumo a uma das mais importantes universidades do mundo, a de Coimbra, onde se formou em Direito, Filosofia e Matemática. Além de brilhante aluno também possuía o dom da poesia. 

Pequeno, pálido e magro, fazia uma trança nos longos cabelos negros que escondia dentro do casaco nas ocasiões formais. Dos Andrada herdou a insolência. A respeito de seus trabalhos era vaidoso e arrogante. Boêmio, bom de copo, terminou muitas noites dançando sobre mesas de bares. Adorava contar histórias e piadas, logo seu caráter afável e divertido lhe tornou popular entre as pessoas humildes.

No vestir e morar tinha hábitos bastante simples, mas quando o assunto era mulher costumava se esbanjar.  Teve dois filhos ilegítimos mesmo estando casado com a irlandesa Narcisa Emilia O'Leary. Ótimo com a espada e as palavras, formou uma biblioteca com mais de 6000 exemplares. Viajado e cosmopolita, retornou ao Brasil somente em 1819  quando conseguiu a autorização do príncipe regente Dom João VI.

Chegando ao país, anos mais tarde, foi nomeado tutor dos filhos de Dom Pedro I. Ás voltas com as ameaças de Portugal, a imperatriz Dona Leopoldina tentou convencê-lo a entrar no ministério. A portas fechadas impôs condições ao imperador antes de aceitar o cargo, o conteúdo da conversa permanece em sigilo até os dias de hoje. Abolicionista convicto, tinha em mente uma série de idéias para a nação:

"[..] um conjunto notável de propostas inovadoras, que ainda hoje fariam sentido no Brasil. Além da preocupação com a unidade brasileira, Bonifácio defendia a catequização e a civilização dos 'índios bravios', a transformação dos escravos em 'cidadãos ativos e virtuosos' e uma reforma agrária que substituísse o latifúndio improdutivo pela pequena propriedade familiar. O plano incluía educação primária gratuita para todos e a criação de 'pelo menos uma universidade' para o ensino superior de medicina, ciências naturais, direito e economia. Mais surpreendente ainda era a proposta de transferência da capital, do Rio de Janeiro para uma cidade a ser criada nas cabeceiras do rio São Francisco, com o objetivo de promover e facilitar a integração nacional - projeto que seria executado um século e meio depois por Juscelino Kubtschek em Brasília." (GOMES, Laurentino)

Esse homem com pensamento tão a frente de seu tempo elaborou a Declaração de Independência do Brasil ao lado de Dona Leopoldina, encaminhando-a junto com seus conselhos até a colina do Ipiranga ao encontro do jovem príncipe regente, que, após seguir seus conselhos, declarou a independência do país sagrando-se imperador da pátria. 

Em 1823 com a dissolução da Assembléia Constituinte, Bonifácio é demitido, preso e deportado para a França devido suas idéias abolicionistas para os rumos da nação, lá tornou-se um crítico voraz das ações de D. Pedro I. De volta as terras brasileiras, completamente desiludido com os rumos que a política nacional havia tomado, resolve se exilar na Baía de Guanabara aonde faleceu em 06 de abril de 1838.

Mais detalhes da vida desse homem de idéias liberais, mas governo firme e autoritário no livro 1808 de Laurentino Gomes, base deste pequeno resumo. Até mais.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Dona Leopoldina, a imperatriz mineralogista

(Retrato da imperatriz D. Leopoldina, de Josef Kreutzinger)

Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo nasceu em 22 de janeiro de 1797 em Viena. Dona Leopoldina, como ficou conhecida popularmente, pertencia ao berço mais nobre de sua época, o austríaco, que vinha formando meninas para ocupar posições de prestígio nas nações enquanto esposas de homens ilustres de nossa história. A pequena Leopoldina não fugiu a regra.

Foi educada, exclusivamente, para ser consorte de algum governante, em prol das negociações de seu pai. Ao que tudo indica sua formação era perfeita, pois Dom Pedro I, com quem se casara via procuração no ano de 1817, alegou que a mulher possuía todas as qualidades que admirava em uma dama, exceto por um detalhe, lhe faltava o essencial aos olhos do imperador brasileiro, beleza.

Seus cabelos loiros, olhos azuis e sua pele rosada não puderam amenizar os efeitos que nove gravidezes no espaço de nove anos causariam ao seu corpo. Por desleixo a imperatriz não fez uso dos espartilhos que dominavam a moda de seu tempo, deixando transparecer o gradual aumento de peso que lhe abateu. Logo sua formas se tornavam cada dia mais rechonchudas a despeito das preferencias de seu amado.

Não era a personificação da beleza, mas de longe, era a mulher mais culta da corte, tanto que sua aura intelectual lhe levou a escrever um manual de conduta pra si própria no ano de seu casamento. Quando chegou ao Brasil, em 05 de novembro de 1817, trazia consigo 42 caixas da altura de um homem contendo suas coleções de livros, rochas, borboletas, plantas e animais exóticos.

Na viagem foi acompanhada pela maior expedição científica que já aportara em nossas terras e embora fosse apaixonada por tudo o que existia na natureza nada lhe dava mais prazer do que a mineralogia. Estava fascinada por vir morar na América e poder conhecer de perto os minérios que enriqueciam os países europeus, mas o encanto pelas terras tropicais durou tão pouco quanto seu entusiamo no matrimônio.

Em poucos meses o calor brasileiro já a incomodava demais, a ele se somavam as nuvens de insetos provocadas pela falta de higiene e as chuvas que tornavam as ruas enlameadas. Se a situação estava ruim do lado de fora do palácio, dentro não era nada diferente, a boa relação com o monarca não ultrapassou três anos de existência.

Além de comer em alas separadas, já que tinham cozinheiros diferentes especializados na gastronomia nacional de cada um, o jovem casal também dormia em quartos distintos, mas isso não era tudo. A porta do quarto de Leopoldina era vigiado durante toda a noite, não para sua segurança, mas para o divertimento do marido, que dessa maneira podia sair para suas noitadas tranquilamente.

Mesmo desmotivada, sem ânimo para usar sua jóias, pentear seus cabelos ou trocar sua camisola surrada, a sábia imperatriz não abandonou seu homem no momento mais crítico da história brasileira. Ela conseguiu convencer José Bonifácio a aceitar o cargo de primeiro ministro e junto dele construiu a declaração de independência do país e aconselhou Dom Pedro I sobre as medidas a serem seguidas para o bem da nação.

Depois de consolidada a separação de Portugal, ela ainda trabalhou junto as nações estrangeiras para que reconhecessem a nacionalidade brasileira, no entanto, seu marido não foi capaz de retribuir seus esforços. Depois de muitas escapadas Dom Pedro acaba conhecendo Domitila, futura marquesa de Santos, e apaixonado por ela, acaba se afastando ainda mais de sua esposa que, não suportando mais a situação que vivia, chegou a pedir a autorização de seu pai para retornar a sua casa.

Depois de perder a atenção de seu consorte, acaba perdendo também a pensão que recebia a partir do corte de gastos deflagrado em 1821.  Desacostumada a viver com baixa renda a imperatriz termina endividada com um agiota. A maior parte de seu dinheiro era usado em boas ações, ajudando os mais pobres. Falece jovem, depressiva, melancólica, abandonada e endividada.

A causa de seu falecimento, em 11 de dezembro de 1826, ainda é desconhecida. Suspeita-se que uma discussão entre ela, o imperador e Domitila, tenha levado Dom Pedro I a deflagrar um golpe em sua barriga, que grávida acabou por desencadear vários problemas de saúde. Ao saber da notícia os populares apedrejaram a residência da amante real.

Uma carta que escrevera pra sua irmã mais velha, ex esposa de Napoleão Bonaparte, três dias antes de sua morte parece confirmar essa hipótese. Assim, a jovem que trouxera 3 caixões ornamentados para o caso de morrer na viagem ao Brasil iria, enfim, usar um deles após dias de febre e agonia. Para maiores informações consulte o vídeo a seguir. Até mais.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A maldição dos Bragança

(Brasão da Real Família de Bragança)
Segundo a tradição monárquica o primeiro filho homem do rei deveria herdar o trono de seu pai, era a regra da hereditariedade da coroa, um direito divino conferido as famílias de sangue azul que compunham a Europa, uma tradição seguida a risca durante séculos que despertou muitas desavenças entre irmãos, algumas delas terminariam em verdadeiras tragédias familiares, era a ganância e a fome de poder fazendo vítimas.

A dinastia dos Bragança, a quarta de Portugal, foi fundada em 1640 pelo duque de Bragança intitulado Dom João IV. Conta a lenda que o rei foi abordado por um frade franciscano que lhe pediu uma esmola. O duque teria dado-lhe um pontapé, humilhado, o religioso teria lhe rogado uma maldição, segundo esta nenhum filho primogênito viveria até assumir o governo, morrendo na infância.

Lenda ou verdade, o fato é que todos os primogênitos dos Bragança faleceram ainda crianças. O Brasil recebeu esta família em 1808 e assistiu a morte de dois herdeiros do trono português, em fevereiro de 1821 faleceu o primeiro filho legítimo de Dom Pedro I, o pequeno João Carlos. Mais tarde, em 1847 foi Dom Pedro II quem sofre a perda de Afonso Pedro que contava apena dois anos de vida.

Todos os primogênitos dos Bragança morreram desde a ascensão da família em 1640 até a sua queda em 1910 quando a República foi instituída em Portugal. Uma tragédia que assolava as imperatrizes que relutavam na tentativa de manter seus filhos vivos. Acreditar em 270 anos de coincidência é um pouco difícil não acham? Nesse caso a maldição realmente existiu e funcionou. E você, é supersticioso ao ponto de acreditar nessa história?

D. Pedro I, o "rapazinho" da Independência

(Caricatura de Dom Pedro I premiada no XVI Salão Carioca de Humor)
Treze anos após a fuga da família real portuguesa para o Brasil, Portugal passava por sérios problemas internos. O sentimento de humilhação, desprezo e desconsideração era indisfarçável. Todos os portugueses se sentiam trocados pelo Brasil, era uma metrópole menosprezada por sua colônia. Então, em 1820 a Assembléia das Cortes foi convocada, após cento e vinte anos em desuso, para debater a situação lamentável que o país enfrentava. 

Nessas reuniões o rei ouvia os nobres da terra, os chefes militares e os religiosos mais importantes do reino acerca das leis e o papel que as cortes desempenhariam no governo. No entanto, esta de 1821, foi um tanto diferente, composta por padres, professores, advogados e comerciantes, que formavam a nova elite portuguesa. Ao contrário das cortes precedentes, esta não tinha um fundamento conservador, mas sim liberal, influenciada pela Revolução Francesa e foram convocadas a revelia do conhecimento do rei.

O verdadeiro intuito das cortes era dissolver a monarquia absolutista de Dom João VI, substituindo-a por uma monarquia constitucional, mais democrática. A intenção, no fundo, era devolver ao Brasil sua posição de colônia e revogar sua posição de Reino Unido a Portugal e Algarves conferida em 1815. Eram medidas de cunho vingativo. Em 1821, quando o Rei retorna a Portugal, mas mantém seu filho, D. Pedro I como príncipe regente nas terras brasileiras os ânimos se exaltam.

As cartas portuguesas que chegavam a capital, Rio de Janeiro, eram repletas de ameaças e provocações. A mensagem era clara, as decisões tomadas por Dom João VI nos treze anos em que permaneceu nos trópicos seriam anuladas e o príncipe deveria retornar imediatamente para Portugal para passar uns tempos na Europa sendo educado. As cortes vinham chamando Dom Pedro I de "rapazinho" demonstrando seu desprezo pelo monarca que afirmou ao padre Belchior: "Pois verão agora quanto vale o rapazinho."

Em 28 de agosto de 1822 o navio Três Corações chegava ao Rio de Janeiro com papéis explosivos contendo os decretos das cortes constituintes portuguesas. Elas destituíam Dom Pedro do papel de príncipe regente dando-lhe o cargo de delegado das autoridades de Lisboa, anulavam suas decisões, informavam que seus ministros seriam nomeados em Portugal, limitavam seu poder somente a capital e regiões vizinhas, e declaravam que as demais províncias deveriam se reportar diretamente a capital portuguesa.

Essas noticias foram levadas pelos mensageiros Paulo Bregaro e Antônio Ramos Cordeiro até o encontro do príncipe regente na colina do Ipiranga junto dos conselhos da imperatriz Leopoldina e do primeiro ministro José Bonifácio, o ultimo afirmava que só haviam duas saídas: retornar a Portugal e virar prisioneiro das cortes como seu pai Dom João ou proclamar a independência fazendo-se imperador ou rei. Dom Pedro I após ser bombardeado com tantas informações pediu os conselho do padre Belchior e decidiu, era chegado o momento de separar Brasil de Portugal.

O ressentimento português acabou gerando essa separação, com ela o país europeu só foi prejudicado, afinal, perdeu sua maior e mais importante colônia, a que lhe rendera mais riquezas. E assim o "rapazinho" provou que aos 23 anos de idade já era maduro o suficiente para tomar uma decisão tão difícil e manter a integridade de suas posses como lhe pedira seu pai antes de retornar a Portugal. Mais detalhes no livro 1822 da autoria de Laurentino Gomes.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

"Independência ou Morte!"

("Independência ou Morte" ou "O grito do Ipiranga" de Pedro Américo, 1888)

O famoso grito proferido por Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga foi eternizado na memória nacional através do famoso quadro de Pedro Américo intitulado "Independência ou Morte". A imagem apresenta a proclamação da independência do Brasil de maneira heroica e grandiosa, no entanto, esse acontecimento se deu no ano de 1822, enquanto que o quadro foi confeccionado somente em 1888. Será que a tela realmente expressa o fato com fidelidade?

Os relatos de alguns acompanhantes do imperador mostram que não. As descrições feitas por esses homens revelam que a montaria utilizada pelo monarca nem de longe se assemelhava ao belo alazão pintado por Américo, na realidade era uma simples mula, o único animal que suportava aquele trajeto íngreme. E quando Dom Pedro menciona sua mais famosa frase: independência ou morte, ele não estava desembanhando sua espada com altivez às margens do Ipiranga.

Nesse momento o proclamador da república estava aproximadamente a 400 metros de distância do famoso rio, que, aliás, não possuía águas límpidas e azuis como retratadas na tela, mas sim vermelhas e enlameadas. Além de que sua postura não poderia ser das mais elegantes uma vez que vinha sofrendo com fortes dores intestinais desde que acordara. Essas informações foram retiradas de documentos escritos pelo padre Belchior, o alferes Canto e Melo e o coronel Marcondes, amigos do príncipe regente presentes nessa ocasião.

A guarda de honra que acompanhava o futuro imperador do Brasil também não poderia estar vestindo tales trajes, uma vez que o uniforme militar ilustrado na pintura foi criado somente anos mais tarde para designar os Dragões da Independência, os mesmos que fazem a guarda do presidente da república até hoje. Além destas controvérsias ainda há a extrema semelhança da obra com um quadro confeccionado treze anos antes para celebrar uma famosa vitória de Napoleão Bonaparte, indicando uma cópia quase idêntica, observe:

(1807, Friedland, de Jean-Louis Ernest Meissonier, 1875)

Isso quer dizer que o célebre pintor enganou seu público? Não, ele simplesmente estava cumprindo sua função que era registrar uma cena importantíssima para a nação de forma a engrandecê-la. Era seu dever, através daquela tela, reportar os brasileiros a um momento sublime de nossa história. Fazia-se necessário construir um passado nacional do qual se orgulhar, até então não passávamos de mera colônia a ser explorada por Portugal, a partir desta data precisávamos nos enxergar enquanto uma nação.

Nação forte, sólida, capaz de seguir com suas próprias “pernas”. O apoio da sociedade era fundamental e sem dúvida alguma a pintura era mais impactante do que a realidade, que cá entre nós, era um tanto cômica, diga-se de passagem. Caso tenha gostado do assunto e queira se informar melhor leia o livro 1822 do jornalista Laurentino Gomes, uma leitura leve repleta de conhecimento e curiosidades, você não irá se arrepender. Até mais.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Percalços e perigos durante as grandes navegações portuguesas

(Fonte desconhecida)

Navegar nas grandes embarcações do século XV era um desafio diário mesmo estando a bordo dos melhores navios da época, aqueles confeccionados na moderna Portugal. Dentre as dificuldades enfrentadas muitas significavam, inevitavelmente, a morte. Podemos destacar as calmarias, os naufrágios e os ataques piratas como os mais aterrorizadores dos acontecimentos em auto mar. 

As calmarias dos ventos atrasava as viagens, as vezes dias, outras vezes semanas. A estagnação dos barcos causava o racionamento de comida e provocava surtos nos embarcados. O desespero de não ter como alcançar as terras chegava a causar vertigens e alucinações. Há registros de marujos que tinham miragens ao olhar as águas, assim como acontecia nos desertos, e acabavam se lançando ao mar pensando estar vendo terra, comida e familiares. A loucura acometia a tripulação após horas de aflição a deriva. 

Os naufrágios eram acontecimentos desoladores. Os tripulantes enfrentavam um desespero lento e gradual, a morte era praticamente inevitável. As dezenas que conseguiam acesso aos barcos salva vidas teriam que conviver dias com a falta de mantimentos e os destroços humanos e materiais a rondar sua pequena embarcação. Há registros em que mães chegam a esquecer seus próprios filhos na caravela que afundava, outras assim o faziam para evitar sobrepeso no bote, uma vez que teriam que trazer a ama de leite consigo.

Aqueles que alcançassem o litoral teriam que enfrentar o desconhecido, os nativos, a comida exótica, as terras inóspitas, poucos encontrariam hospitalidade a tempo de sobreviver. Existem raras ocasiões em que os tripulantes conseguiram evitar o naufrágio contornando a situação até ancorar em segurança. A premissa de que o capitão nunca abandona seu barco é uma mera ilusão, os fatos mostram que este era o primeiro a embarcar no barco reserva, seu lugar era garantido, assim como os da alta nobreza, religiosos e oficiais graduados.

Os ataques piratas eram muito comuns nas rotas das especiarias orientais. Tudo indica que essa prática de ataque surpresa foi inventada pelos próprios portugueses, se essa suposição for verdadeira o feitiço acabou virando contra o feiticeiro. A violência era marca registrada nos navios piratas, geralmente os oficiais eram mortos, a tripulação largada a deriva, as crianças empregadas em trabalhos sujos e as mulheres abusadas sexualmente. Isso para nos poupar dos detalhes sórdidos da ação desses corsários.

Seja qual for das três situações não é de se estranhar a dificuldade para encontrar tripulantes para as embarcações não é mesmo?! Nenhum familiar, por mais ganancioso que fosse, gostaria de incentivar seu ente querido a partir nestas aventuras além mar. Caso tenha se interessado pelo assunto você pode encontrar mais detalhes destas empreitadas audaciosas no livro Por Mares Nunca Dantes Navegados de Fábio Pestana Ramos. Até mais.

O cotidiano nas caravelas portuguesas

(Charge Mario Alberto)
Os dias de confinamento dentro das caravelas portuguesas eram desafiadores. Somente homens muito corajosos ou sem motivos para permanecer em Portugal ousavam se arriscar na busca além mar pelas especiarias orientais. As naus que seguiam para o oriente eram lentas e enfrentavam meses a deriva, já as caravelas que mais tarde eram enviadas para o Brasil eram menores, mais leves e desfrutavam de uma distancia consideravelmente mais curta, logo todas as adversidades que serão citadas a seguir eram, particularmente, mais comuns e intensas para os velejadores que seguiam rumo as terras do sol nascente.

As acomodações eram minusculas. Os marinheiros de baixo escalão dormiam todos juntos numa espécie de beliche de madeira, sem colchão, montada nos cascos das embarcações. Os oficiais de ponta desfrutavam de um pouco mais de conforto em algumas cabines particulares ou compartilhadas com alguns colegas de profissão. Banheiros não compunham o aparato naval, então as necessidades eram feitas em baldes ou pinicos. Os mais habilidosos se satisfaziam sentando na beirada do barco, contudo muitos desapareceram.

A alimentação compunha o maior desafio. Ao embarcar cada pessoa levava alguns mantimentos próprios que eram guardados em cavidades da embarcação. O abastecimento geral ficava por conta da coroa que nunca embarcava a quantidade realmente necessária de gêneros, até mesmo porque, era certo que apodreceria e seria desperdiçada. A água e o vinho a disposição ao fim do primeiro mês já era racionado e se encontravam em processo de putrefação. A comida era escassa, composta basicamente por biscoitos.

Cada nau contava com um único fogão e cozinheiro, este era encarregado do preparo dos alimentos de todos os embarcados, logicamente, acabava privilegiando aqueles que tinham condições de suborna-lo. O mercado negro de comida era uma prática enriquecedora. A falta de alimentos provocava o escorbuto, doença advinda da falta de vitaminas que ocasionava fraqueza nas articulações, inchaço da gengiva e perca dos dentes levando a morte. A fome levava ao desespero, loucura, suicídio e lançamentos ao mar.

Além do escorbuto, outras doenças aterrorizavam no mar. As infestações de pragas como piolhos e pulgas contribuíam com a atmosfera insalubre. Os médicos a bordo resolviam praticamente toda e qualquer doença com a aplicação de sangrias, o que, na maioria das vezes, levava o paciente a morte e provocava uma epidemia nos demais embarcados dependendo da enfermidade em questão. As mulheres quando atingidas por piolhos costumavam raspar a cabeça, mas perder os cabelos era o menor dos problemas para elas.

O maior perigo para as embarcadas era sem dúvida alguma o estupro. Conseguir evita-lo até o desembarque era praticamente impossível. Os marujos após semanas embarcados estavam praticamente loucos por uma mulher. A violação das crianças embarcadas era cotidiana e mesmo as orgias grupais não satisfaziam os desejos carnais dos homens em alto-mar. As prostitutas e mulheres pobres muitas vezes eram sequestradas na calada da noite e embarcadas contra vontade para suprir a demanda por sexo.

Muitas eram compartilhadas por até 5 homens simultaneamente, assim não é de se estranhar a ausência de mulheres nos navios, uma vez que sequer freiras, noviças e nobres eram poupadas da violência sexual. O homossexualismo se tornou a saída encontrada e os meninos embarcados eram os principais alvos de cobiça. As únicas datas respeitadas durante as viagens eram os dias santos, comemorados com festas e muito aguardados pelos tripulantes. Você pode aprofundar o estudo sobre o cotidiano dentro das embarcações portuguesas lendo Por Mares Nunca Dantes Navegados de Fábio Pestana Ramos. No próximo post vamos conhecer os principais perigos que essas viagens apresentavam. Até mais.

Brasil, a terra dos "lançados"

(Fonte desconhecida)

Após a oficialização da "descoberta" do Brasil no ano de 1500 pelo navegador Pedro Alvares Cabral o reino português ficou envolto em mistério. Tudo nas novas terras era exótico e provocante, assim não tardou para que lendas das mais diversas figuras sobrenaturais começassem a circular entre os portugueses. A cartografia da época tentava controlar os boatos negativos apresentando belas imagens das terras americanas, valorizando a riqueza da fauna e flora, provocando a curiosidade, buscando despertar o desejo de conhecer as novas terras.

Atrair colonos para a Terra de Santa Cruz era um problema. Todos tinham medo do desconhecido. A nudez dos aborígenes espantava, era a personificação do pecado original, assim, em pouco tempo, o território se tornou uma espécie de purgatório para aqueles que não eram bem vistos em Portugal. O Brasil passou a ser um verdadeiro depósito de degredados, náufragos, desertores e lançados. Esses últimos eram homens da pior índole, condenados por crimes hediondos em terras portuguesas. 

Esses homens foram a saída encontrada para explorar o desconhecido. Se não sobrevivessem não fariam falta ao reino, agora, caso tivessem sorte e vivessem, poderiam ser úteis a coroa cedendo informações sobre as terras brasileiras. E, dessa maneira, em 1511 já haviam registros do embarque de lançados rumo ao nosso país. Essas pessoas repudiadas em sua terra natal acabaram ajudando-a porque alcançaram lugar de destaque entre os nativos, conseguindo, junto deles, auxiliar a colonização portuguesa e a expulsão francesa do litoral brasileiro.

A figura dos ameríndios era a mais polêmica dentre as novidades encontradas aqui. Os portugueses, inicialmente, enxergavam os índios como seres puros, inocentes, pouco racionais e gentios (pessoas a serem catequizadas por desconhecerem a doutrina cristã). Associavam sua forma física aos ideais de força e beleza romanas representadas por Hércules e Apolo. Mas o contato direto com os nativos, aos poucos, desperta outra concepção acerca desses povos.

A nudez indígena causa alvoroço entre os religiosos e carolas. As nativas passam a ser acusadas de provocar o canibalismo com essa exposição carnal, sendo associadas as bruxas medievais. Os aborígenes são vistos como os "filhos do cão", a personificação da maldade, algo a ser combatido, e nesse momento a missão de catequizar e impor a religião católica eclode como o bem a ser feito, era necessário salvar os povos da terra do fogo do inferno e essa boa ação é usada para justificar a colonização.

A fé de cada um lhe fazia enxergar a América como o paraíso na terra ou o inferno do purgatório nesse primeiro contato com o desconhecido. Mais tarde os portugueses conseguiram se estabelecer no litoral, um pouco depois abandonaram as fortalezas penetrando no interior do país provocando a fuga desenfreada dos índios amedrontados, porque embora estivessem em número maior, estes se viam ameaçados pelas geringonças de metal que faziam um barulho aterrorizador. 

As armas portuguesas apesar de antigas e de péssimo funcionamento causavam panico, para os índios elas eram mágicas, assim, exerciam um poder muito mais psicológico do que militar. Poucas tribos se arriscaram a guerrear com os homens brancos. Algumas foram vencidas pela tática de terra arrasada, outras por guerras bacteriológicas, ambos os procedimentos foram adotados pelos governadores gerais. São Vicente, atual São Paulo, foi o maior foco de resistência nativa do país. 

Depois de expulsar, escravizar e massacrar os indígenas, os portugueses perceberam que a estratégia dos lançados não daria conta de colonizar tantas terras e garantir sua posse a coroa portuguesa, tampouco a população se mostrava inclinada a abandonar a Europa para vir morar na selva. Então a miscigenação surge como alternativa. Portugal passa a incentivar o amancebamento de brancos e índias com o intuito de povoar a vasta terra de Santa Cruz, livrando-a, enfim, do cargo de depósito de lançados.

Mais informações sobre esse processo no livro Por Mares Nunca Dantes Navegados de Fábio Pestana Ramos. Boa leitura.

O "Descobrimento do Brasil"

(Davi Sales / iStock Photos)


A história tradicional menciona o ano de 1500 como data oficial do descobrimento do Brasil. O fato é que alguns registros anteriores a Cabral já apresentavam a existência das terras americanas. Moedas da antiguidade já foram encontradas em escavações por aqui, algumas romanas e outras cartaginenses o que indica que esse território vem sendo explorado desde os primeiros séculos. Um mapa chinês de 1421 já trazia em sua apresentação os contornos de toda a América.

Além destes registros materiais, as lendas e textos populares eram repletos de boatos acerca da existência destas terras perdidas no Atlântico. Tanto que em 1488 o reino de Portugal criou uma lei estabelecendo que todos os relatos sobre descobertas territoriais deveriam ser feitos somente ao rei em pessoa ou a seus acessores de inteira confiança para evitar que outras nações ficassem sabendo do fato e se lançassem ao mar em busca da mesma colonia. 

Prova maior de que as terras brasileiras haviam sido descobertas antes de 1500 foi a tentativa portuguesa de alterar os limites de posse do Tratado de Alcaçovas no ano de 1490. Portugal pretendia conseguir junto a Espanha o direito de posse sobre parte maior do globo terrestre, parte essa que contemplaria o litoral brasileiro. Ainda em 1498 Duarte Pereira Pacheco mapeava os limites do Tratado de Tordesilhas cedendo essa faixa litorânea ao reino português.

Ao que tudo indica Portugal realmente já havia alcançado as terras brasileiras muito antes de 1500, provavelmente, durante uma tentativa de abastecer as naus que navegavam para a Índia. Sua existência com certeza foi mantida em sigilo para preservar a rota das especiarias orientais, mantendo o monopólio português. Certamente com a descoberta das Américas em 1492 por Cristovão Colombo a coroa portuguesa se sentiu ameaçada e decidiu oficializar a descoberta da Terra de Santa Cruz.

Para essa oficialização enviaram Pedro Alvares Cabral, um fidalgo de baixa nobreza, não era necessário muito mais do que isso para esse serviço, além do mais seus dotes diplomáticos lhe proporcionavam certa grandeza. Desta maneira a História Tradicional do "Descobrimento do Brasil" foi forjada, esta mesma que inunda os bancos escolares em pleno século XXI. Creio que já passa da hora de uma boa revisão historiográfica não acha?! Para mais detalhes leia Por Mares Nunca Dantes Navegados de Fábio Pestana Ramos. Até mais.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A recepção dos portugueses nas terras "descobertas" através do Oceano Índico

(A chegada dos portugueses ao Japão, pormenor de um biombo Namban)

A costa africana foi a primeira parada das embarcações portuguesas durante as investidas marítimas iniciadas no século XV. Na África a cor branca da pele lusitana provocou a associação dos recém chegados a almas sagradas. Os africanos acreditavam que os portugueses eram deuses por isso os recepcionaram com afeto, mas o desrespeito e as doenças que os brancos trouxeram consigo logo encerraram a relação pacifica entre os povos. A rivalidade entre as tribos locais logo foi notada e utilizada em favor da subjugação dos povos iniciando o processo de exploração territorial e mais tarde de escravização.

Ao alcançar a Índia os lusitanos se deparam com ampla variedade cultural e comércio efervescente. Ao aportarem foram confundidos com mendigos por seu estado esfarrapado, vistos como piratas mal intencionados em busca das especiarias indianas. Os padres jesuítas tentaram uma persuasão pacífica para implantar o catolicismo, entretanto os demais portugueses tentaram impor sua religião com violência suscitando grande resistência e posteriormente quando Holandeses e Franceses chegam a costa de forma pacífica acabam conquistando o apoio dos asiáticos, desta forma Portugal acaba perdendo seu domínio no país.

A China foi a maior surpresa aos olhos portugueses. A beleza e organização das cidades impressionaram ao ponto de se tornaram referencia para a antiquada Portugal. Os hábitos de leitura e boa conduta chinesa causaram grande admiração. Os marujos lusitanos ao desembarcarem em busca de seda completamente maltrapilhos após meses sofrendo privações em alto mar eram vistos com muita desconfiança. O governo e a marinha chineses extremamente poderosos impediram que os lusos agissem através da força, então pela primeira vez durante a conquista de novos territórios eles precisaram agir com diplomacia e respeito.

O Japão composto por diversas ilhas, vivendo num sistema feudal, enfrentando tempestades e guerras civis apresentava um quadro desafiador personificado na figura dos inteligentes orientais munidos de suas espadas ágeis e ameaçadoras. Portugal acabou auxiliando esse país ao re-estabelecer seu comércio com a China. Contudo os japoneses um tanto avessos a intervenções acabaram expulsando os padres jesuítas do território em respeito a tradição budista. Aos poucos o país se fechou a estrangeiros desconsiderando o incentivo comercial português que, desta maneira, perdeu sua fonte de extração de prata.

Após essas quatro, e outras, aventuras pelo oceano Índico, Portugal acabou se deparando com mais terras desconhecidas, desta vez atravessando o oceano Atlântico, era a vez de explorar a Terra de Santa Cruz que hoje conhecemos por Brasil, mas essa é uma outra história. Você pode aprofundar esse tema lendo Por Mares Nunca Dantes Navegados de Fábio Pestana Ramos.