(Capa da obra) |
A proposta dos autores neste livro é de demonstrar o quanto as sociedades são capazes de moldar o corpo e suas expressões. O período da idade média foi escolhido porque nessa época foram instaurados a maioria dos costumes que seguimos atualmente como a vida nas cidades, os trabalhos manuais e a arte do teatro, entre outros hábitos. Então vamos conhecer cada parte dessa importante obra procurando analisar os fundamentos de Le Goff e Troung? Seria muita ambição de minha parte tentar contradizer esses ícones renomados, mas abaixo seguem os resumos modestos de cada capítulo:
1. Quaresma e Carnaval: uma dinâmica do Ocidente
Na Idade Média os corpos mostravam a renuncia ao corpo evidenciando a situação da pessoa, por exemplo, os padres eram sadios, os guerreiros carregavam marcas de batalhas e os trabalhadores tinham a marca do cansaço exposta na aparência. O corpo, antes glorificado na antiguidade, será reprimido e demonificado no medievo.
No século XII o Papa Gregório estabeleceu o celibato para os religiosos. Mais tarde, no século XIII, o casamento religioso foi instituído para controlar os desejos carnais, a finalidade da convivência amorosa será procriar e o homem foi apresentado como o dominador da relação, pois a mulher havia sido condenada pelo pecado original e devia ser mantida na submissão.
A Igreja Católica autorizava a relação sexual entre marido e mulher durante 180 ou 185 dias por ano, no máximo, porque todas as datas santas deveriam ser respeitadas. A monogamia foi fixada, mas os nobres pouco seguiam essa regra, afinal, sequer os clérigos praticavam a abstinência. Assim, a idade medieval impôs abstinência e jejum. A quaresma representava o jejum enquanto o carnaval provocava a abundância.
No século XIII os estigmas de Cristo ganharam espaço na sociedade, mas a autoflagelação era hostilizada pela Igreja embora fosse muito comum em tempos de crise por pedidos de paz. O trabalho era divino já que a partir dele surgiu o mundo, mas também era visto como castigo oriundo do pecado original. O corpo foi subdivido em partes nobres (cabeça e coração) e outras ignóbeis (ventre, mãos e partes sexuais).
O riso, entre os séculos IV e X, era considerado diabólico, segundo a bíblia Jesus não riu em toda a sua vida. O riso dos sábios era o sorriso, este era permitido. As lágrimas por sua vez eram sagradas, uma verdadeira dádiva purificante por isso era alvo de pedidos a Deus, só era monge aquele que chorava.
Assim como o riso, o sono também era controlado porque os sonhos eram considerados previsões do futuro, práticas do satanás. A penitência para quem previa era de cinco anos. Entretanto, até o século XII, a Igreja aceitava que reis, santos e monges sonhassem porque estes eram livres de tentações.
2. Viver e morrer na Idade Média
A expectativa de vida era baixa, entre 35 e 40 anos, logo pessoas idosas eram raridades duns 45 anos se preparando para a vida eterna. Os anciãos eram consultados frequentemente sobre diversos assuntos devido a falta de arquivos, mas as senhoras eram vistas com maus olhos sendo consideradas feiticeiras maléficas. A idade perfeita era a dos trinta anos, idade com a qual Jesus Cristo foi batizado.
Durante a vida a regra era ignorar o amor, entretanto esculturas e miniaturas eróticas com figuras de animais eram populares. O desinteresse por mulheres grávidas era evidente e o homossexualismo comum, tanto que era tolerado até o século XII, só foi condenado no século XIII, mas aumentou significativamente no século XV. Já as crianças só se tornam importantes no século XIII porque o menino Jesus passa a ser cultuado.
As doenças eram vistas como castigo, acreditava-se que o leproso pagava pelo pecado da luxúria de seus pais que teriam concebido-o em alguma data santa, para evitar o contagio deviam se afastar da população e usar uma matraca quando precisasse se aproximar. A cura podia ser obtida por obra divina através de Jesus Cristo, mas também era encontrada nos curandeiros mágicos enviados pelo demônio.
A peste bubônica matou um quarto da população européia em cinco anos (1347 - 1352) tirando o prestígio dos médicos. Os cadáveres eram empilhados nas ruas e chegaram a ser utilizados por tribos bárbaras para infectar o povo de várias vilas que pretendiam invadir. A medicina carnal (médicos) não conseguia controlar a situação nem mesmo quando se juntava á poderosa medicina espiritual (padres).
Os médicos eram apoiados pela Bíblia por isso surgiam escolas médicas a todo momento, mas as descobertas médicas eram escondidas da Igreja, na maioria das vezes os descobridores de uma teoria afirmavam te-la descoberta na leitura de textos antigos, sobretudo árabes. Primeiro vinham as leituras e a dissecação do corpo humano era feita em último caso, embora o catolicismo não criticasse a prática.
Para a medicina as doenças ocorriam quando o equilíbrio entre os quatro humores (sangue, fleuma, bile amarela e bile escura) era perdido conforme pregava Aristóteles. Os exames eram feitos com urina e sangue e a descoberta do álcool ajudou demais os tratamentos principalmente quando aliado ao mercúrio. Os cirurgiões eram considerados inferiores aos médicos mesmo com o surgimento dos hospitais públicos.
O medo da dor era menor do que o da própria morte nessa época em que a vida era tão difícil, mas mesmo assim ocorreram tentativas de criar esponjas soníferas para evitar sensações dolorosas. Philippe Ariés considerava a morte mais doce na idade medieval pois viver era um desafio diário, mas a arte ajudou a difundir o terror pela morte a partir do século XIV, as poesias, afrescos, esculturas, miniaturas, cartas de jogo e principalmente a dança eram repletas de figuras macabras.
Os cemitérios foram reservados para os fiéis e somente sepulturas de santos podiam ser veneradas, para as pessoas comuns restava somente pedir aos santos, praticar a eucaristia e dar esmolas para conseguir o perdão dos pecados. Só no século VIII surgem as missas funerárias, mas somente quinhentos anos depois os rituais saem das casas rumo ás igrejas. As confissões e bençãos antes da morte também surgiram. As mulheres deviam preparar o corpo dos defuntos, que, caso fossem poderosos, tinham o corpo dividido em pedaços para o enterro.
Entre os séculos X e XI começaram a circular histórias de aparições clamando por missas e esmolas. O corpo das criaturas não apodrecia e era capaz de atravessar, queimar, atormentar, beber o sangue e lutar com os humanos que a vissem. Essas narrativas comprovam o medo de morrer sem batismo ou perdão indo parar no purgatório, no limbo dos não batizados ou pior ainda, no inferno.
3. Civilizar o corpo
Os costumes romanos e germânicos se fundem na cozinha fornecendo um equilíbrio alimentar: verduras, legumes, carnes e peixes. Entretanto a carne era somente pros ricos restando vegetais e farinha aos pobres. A água era mantida fora da alimentação por ser muito doentia. A caça era considerada um costume primitivo que levou a civilização das florestas e a apreciação do porco negro e aves domésticas.
A sociedade medieval herdou da culinária romana o trigo, vinho e óleo, já dos germânicos adotou a cerveja e a carne, logo comer carne era considerado um ato grosseiro vindos dos bárbaros e devia ser evitado ao máximo por isso os monges comiam somente plantas e ervas a exemplo do Jardim do Éden, mas se acostumaram a comer carne com os nobres e juntos desenvolveram a gastronomia.
Nessa época a gula era um dos piores pecados capitais, embora fosse praticada abertamente. Era costume enquanto se estava á mesa comer grosseiramente, cuspir no chão, pegar os alimentos com as próprias mãos, arrotar, entre outras coisas. Com a burguesia surge a arte da mesa extinguindo os atos grotescos, oferecendo talheres e apresentando-a bonita para despertar o apetite dos visitantes, que como agradecimento devem elogiar a refeição repetidas vezes.
Não foi só a alimentação que passou por uma série de mudanças, mas também o esporte que foi extinto. os ginásios e estádios foram demolidos, pois praticar esportes em equipes era considerado demoníaco Nesses locais clássicos da antiguidade os garotos andavam nus o que era repugnante aos olhos da igreja católica medieval. Restaram somente exercícios físicos praticados em campos, praças e vilas, os mais praticados eram a péla, soule, lutas corporais, e cabo de guerra.
Outras instituições também foram excluídas da idade média como o circo e os banhos públicos. O circo foi condenado pelo excesso de gesticulações e contorcionismos que eram consideradas coisas do diabo como a dança e o teatro. Já os banhos públicos cederam lugar ás estufas termais que recebiam poucas pessoas, lembravam o ato do batismo e não aceitavam a animação dos antigos banhos.
Gestos delicados e suaves eram permitidos e usados frequentemente para firmar decisões, acordos, etc. Como no caso dos nobres que ao aceitar um novo servo em suas terras segurava suas mãos e o beijava na boca, este ato simbolizava o toque de suas almas era o fechamento espiritual da relação que firmavam, uma vez que o corpo era sujo, mas seu interior era puro.
O corpo era considerado impuro e a nudez intolerável. A principio o nu era visto como a pureza da criação humana no Éden, tanto que as imagens nuas de Eva ganham força no século XIII quando atração pelos corpos aumenta e surgem muitas imagens corporais nas igrejas, mas por outro lado a exibição do corpo era castigada por despertar a luxuria.
Relatos da época comprovam que a nudez foi mantida nas estufas termais e no leito de sono apesar da condenação católica. As historias e sobretudo as novelas de cavalaria demonstravam que a atração física surgia mesmo com os corpos cobertos, a delicadeza das roupas das damas e a masculinidade dos heróis armados provocavam os instintos tanto quanto os corpos nus.
4. O corpo como metáfora
Cada parte do corpo humano era ligada a um sentimento ou comportamento: o coração era a sede do sofrimento e das sensações, ele é que conduzia a vida e os sentidos humanos. Já o cérebro abrigava a alma e por isso abrigava a personalidade e o poder. Por sua vez o ventre (resumido ao fígado) coordenava todos os membros ao transformar o alimento em sangue, logo tinha o poder de esquentar o corpo gerando a luxúria. As mãos significavam a proteção e o comando de Deus, mas também eram símbolo dos trabalhos inferiores. Fica claro que cada parte do corpo era vista ora de maneira positiva, ora negativa, assim como a visão que podia proporcionar a imagem do paraíso ou do inferno após a morte.
As contradições do corpo humano seguem durante os mil anos de idade média enquanto a cabeça e o corpo eram utilizados para representar os poderes do Estado e da Igreja, comparação que cresce no século XII. O papa era visto como a cabeça social que abrigava os nervos (responsável pela alma), já o príncipe era o coração que abrigava as veias (responsável pelo sangue), logo não era possível afirmar qual deles era mais importante ás pessoas e ambos coexistiam em harmonia, cada qual em seu espaço.
Com o passar do tempo e a confirmação de que o coração se formava antes da cabeça nos fetos humanos o papa foi deixado em segundo lugar, assim o rei passa a ocupar o cargo mais importante dentro da sociedade medieval. Mas além do Estado e da Igreja as cidades também eram comparadas ao corpo, nelas cada cidadão era um membro fundamental para sua manutenção. Dentro de casa a cabeça era o marido devendo a esposa segui-lo sem questionamento, enquanto que dentro da fé Deus era a cabeça de Cristo, já dentro das igrejas Cristo era a cabeça e a igreja seu corpo.
5. Conclusão
Após a leitura completa da obra é possível perceber como o corpo é modelado pela sociedade que frequenta, como os hábitos são alterados e principalmente como o uso corporal é moldado e imposto socialmente. A obra expõe várias criações medievais como na maneira de se alimentar, na moda, no perfil atraente, no uso de maquiagem, na invenção da braguilha e do óculos que se tornou tendência no século XI. Tantas invenções e novidades vindas somente da necessidade corporal, sendo assim é imprescindível nos desapegarmos da noção de que a Idade Medieval foi um tempo de trevas sem comunicação e criatividade, muito pelo contrário. Torna-se necessário conhecer e reconhecer cada uma das inovações da época por mais sutis que pareçam, pois de tão corriqueiras parecem insignificantes, mas na realidade são fundamentais aos dias de hoje. Procure maiores informações acessando o livro, é sem dúvida alguma uma leitura prazerosamente reveladora. Até mais.
A sociedade medieval herdou da culinária romana o trigo, vinho e óleo, já dos germânicos adotou a cerveja e a carne, logo comer carne era considerado um ato grosseiro vindos dos bárbaros e devia ser evitado ao máximo por isso os monges comiam somente plantas e ervas a exemplo do Jardim do Éden, mas se acostumaram a comer carne com os nobres e juntos desenvolveram a gastronomia.
Nessa época a gula era um dos piores pecados capitais, embora fosse praticada abertamente. Era costume enquanto se estava á mesa comer grosseiramente, cuspir no chão, pegar os alimentos com as próprias mãos, arrotar, entre outras coisas. Com a burguesia surge a arte da mesa extinguindo os atos grotescos, oferecendo talheres e apresentando-a bonita para despertar o apetite dos visitantes, que como agradecimento devem elogiar a refeição repetidas vezes.
Não foi só a alimentação que passou por uma série de mudanças, mas também o esporte que foi extinto. os ginásios e estádios foram demolidos, pois praticar esportes em equipes era considerado demoníaco Nesses locais clássicos da antiguidade os garotos andavam nus o que era repugnante aos olhos da igreja católica medieval. Restaram somente exercícios físicos praticados em campos, praças e vilas, os mais praticados eram a péla, soule, lutas corporais, e cabo de guerra.
Outras instituições também foram excluídas da idade média como o circo e os banhos públicos. O circo foi condenado pelo excesso de gesticulações e contorcionismos que eram consideradas coisas do diabo como a dança e o teatro. Já os banhos públicos cederam lugar ás estufas termais que recebiam poucas pessoas, lembravam o ato do batismo e não aceitavam a animação dos antigos banhos.
Gestos delicados e suaves eram permitidos e usados frequentemente para firmar decisões, acordos, etc. Como no caso dos nobres que ao aceitar um novo servo em suas terras segurava suas mãos e o beijava na boca, este ato simbolizava o toque de suas almas era o fechamento espiritual da relação que firmavam, uma vez que o corpo era sujo, mas seu interior era puro.
O corpo era considerado impuro e a nudez intolerável. A principio o nu era visto como a pureza da criação humana no Éden, tanto que as imagens nuas de Eva ganham força no século XIII quando atração pelos corpos aumenta e surgem muitas imagens corporais nas igrejas, mas por outro lado a exibição do corpo era castigada por despertar a luxuria.
Relatos da época comprovam que a nudez foi mantida nas estufas termais e no leito de sono apesar da condenação católica. As historias e sobretudo as novelas de cavalaria demonstravam que a atração física surgia mesmo com os corpos cobertos, a delicadeza das roupas das damas e a masculinidade dos heróis armados provocavam os instintos tanto quanto os corpos nus.
4. O corpo como metáfora
Cada parte do corpo humano era ligada a um sentimento ou comportamento: o coração era a sede do sofrimento e das sensações, ele é que conduzia a vida e os sentidos humanos. Já o cérebro abrigava a alma e por isso abrigava a personalidade e o poder. Por sua vez o ventre (resumido ao fígado) coordenava todos os membros ao transformar o alimento em sangue, logo tinha o poder de esquentar o corpo gerando a luxúria. As mãos significavam a proteção e o comando de Deus, mas também eram símbolo dos trabalhos inferiores. Fica claro que cada parte do corpo era vista ora de maneira positiva, ora negativa, assim como a visão que podia proporcionar a imagem do paraíso ou do inferno após a morte.
As contradições do corpo humano seguem durante os mil anos de idade média enquanto a cabeça e o corpo eram utilizados para representar os poderes do Estado e da Igreja, comparação que cresce no século XII. O papa era visto como a cabeça social que abrigava os nervos (responsável pela alma), já o príncipe era o coração que abrigava as veias (responsável pelo sangue), logo não era possível afirmar qual deles era mais importante ás pessoas e ambos coexistiam em harmonia, cada qual em seu espaço.
Com o passar do tempo e a confirmação de que o coração se formava antes da cabeça nos fetos humanos o papa foi deixado em segundo lugar, assim o rei passa a ocupar o cargo mais importante dentro da sociedade medieval. Mas além do Estado e da Igreja as cidades também eram comparadas ao corpo, nelas cada cidadão era um membro fundamental para sua manutenção. Dentro de casa a cabeça era o marido devendo a esposa segui-lo sem questionamento, enquanto que dentro da fé Deus era a cabeça de Cristo, já dentro das igrejas Cristo era a cabeça e a igreja seu corpo.
5. Conclusão
Após a leitura completa da obra é possível perceber como o corpo é modelado pela sociedade que frequenta, como os hábitos são alterados e principalmente como o uso corporal é moldado e imposto socialmente. A obra expõe várias criações medievais como na maneira de se alimentar, na moda, no perfil atraente, no uso de maquiagem, na invenção da braguilha e do óculos que se tornou tendência no século XI. Tantas invenções e novidades vindas somente da necessidade corporal, sendo assim é imprescindível nos desapegarmos da noção de que a Idade Medieval foi um tempo de trevas sem comunicação e criatividade, muito pelo contrário. Torna-se necessário conhecer e reconhecer cada uma das inovações da época por mais sutis que pareçam, pois de tão corriqueiras parecem insignificantes, mas na realidade são fundamentais aos dias de hoje. Procure maiores informações acessando o livro, é sem dúvida alguma uma leitura prazerosamente reveladora. Até mais.