sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Índia, os tolerantes


Você sabia que a Índia é uma das superpotências mundiais? Que é considerada a maior democracia do mundo? E que conquistou tudo isso em apenas 60 anos quando se libertou do domínio britânico? Conheça um pouquinho mais da história desse país encantador:

A formação: 

A sociedade indiana começou a se formar há 10.000 anos atrás, ao mesmo tempo em que a linguagem humana  começava a surgir. Por volta de 7.000 a.C as primeiras cidades indianas começaram a se formar na beira do rio Indo, a primeira foi Harappa (que hoje fica no território do Paquistão). Punjab, fundada em 3.500 a.C, chegou a abrigar 200 mil pessoas que no inicio eram comerciantes fluviais de marfim, teca e lápis lazuli. O fim das primeiras cidades indianas ainda é um mistério, mas acredita-se que o povo tenha migrado em direção ao rio Ganges devido a falta de chuvas. Em 1.500 a.C surgiu a primeira língua indiana, o sânscrito, que hoje é uma língua morta como o Latim, por sinal ela era muito parecida com o latim e também com o grego.

A religião: 


Segundo suas crenças o homem nasceu de um ovo dourado colocado na espuma do mar pelo deus Brahma e todo humano deveria buscar dharma (virtude), artha (fortuna e sucesso), kama (prazer) e moksha (iluminação). Muitos seguiram essa idéias e marcaram a história da Índia através da não violência, como Buda, Asoka e Mahatma Gandhi, entre outros. Os indianos são muito religiosos, tanto que o primeiro grande rei indiano, Chandragupta, morreu de fome enquanto fazia penitência. Eles acreditam que o fogo sagrado que queima as piras funerárias é capaz de purificar a alma por isso está aceso há 3.500 anos e só pode ser manipulado por uma família da cidade de Varanasi. Essas pessoas fazem parte da casta mais baixa (párias, intocáveis). Desde a antiguidade as terras indianas possuem pessoas de várias religiões, que hoje vivem em harmonia, inclusive, algumas religiões foram misturadas e originaram novas crenças. As principais religiões indianas são:
Hinduísmo: religião politeísta. Seus principais deuses são: a Deusa-mãe, Indra (deus da chuva e do trovão), Minakshi (deusa do casamento e maternidade), lakshmi (deusa da riqueza) e Brahma (deus criador).
Budismo: religião sem Deuses. Seus seguidores acreditam na felicidade alcançada no próprio interior humano seguindo as idéias e forma de viver de Buda. (Mais detalhes em: http://entretantashistorias.blogspot.com.br/2014/01/buda.html
Islamismo: chegou a Índia quando os muçulmanos (turcos, islâmicos) invadiram o norte de Multan, na Idade Média. Os sufis (homens santos) pregavam que o ser humano devia se aproximar de Deus sem se apegar a coisas mundanas. Em 1192 a construção do Qutub, uma das maravilhas do mundo, provou a dominação islâmica sobre os indianos. Somente no século XVI os sufis promoveram uma mistura pacifica entre a crença islã e hindu, mas esse "islamismo indiano" ainda é mal visto pelos mais ortodoxos. Atualmente as mesquitas no estilo mongol muçulmano são símbolos da Índia, como o grandioso Taj Mahal (construído para servir de túmulo).  
Sikhismo: um grupo religioso radical que surgiu da interação entre hinduísmo e islamismo no século XVI. Seus gurus enfatizam um único Deus e a caridade. Os sikhs são simbolizados pelo turbante masculino utilizado dentro dos santuários, como o Templo Dourado. Seus praticantes são adeptos dos Cinco Ks: kesh (cabelo longo), kanga (pente de madeira guardado dentro do próprio cabelo), kara (bracelete), kaccha (calções largos) e kirpan (tipo de faca para auto defesa).
Não podemos esquecer que, além destas religiões, existem muitas outras no território indiano, como o Jainismo e o Catolicismo. A tolerância religiosa indiana é visível e levou a uma paz dentro do país que permitiu o avanço da ciência, da arte, da literatura e da medicina.

O comércio: 

 Há 2.000 anos atrás os romanos já iam à Índia atrás de produtos especiais que só nasciam naquelas terras férteis. Esses produtos eram chamados de especiarias e não passavam de coisas simples como erva daninha (pimenta), capim (arroz) e larva (seda), além de gengibre, cardamomo, pedras preciosas, pérolas, tecidos, algodão,  berilo e pavões (usados como animais de criação pelos aristocratas romanos). Era o inicio de um comércio globalizado. Em troca destes materiais, a Índia recebia ouro no formato de moedas e medalhas romanas, além de prata, cobre, estanho, antimônio, vinho, azeite e molho de peixe (garum). As moedinhas romanas eram usadas pra fazer jóias, por isso os colares indianos tradicionais ainda são feitos com réplicas dessas moedas. O comércio se tornou tão intenso que foram construídos de 40 a 50 portos no oeste indiano para os romanos ancorarem e ainda hoje os artesãos de Kerala produzem navios de madeira com técnicas romanas. Graças aos kushans (vindos da região da China e adeptos do budismo) os produtos indianos aumentaram seu mercado, pois eles dominaram a Índia e abriram a Rota da Seda ligando a região da Índia, China e Mediterrâneo com os ocidentais através de caravanas com o centro comercial em Peshawar. O comércio levou à explosão populacional, urbana e econômica do país. 

A Arte, Ciência, Tradição e Alimentação: 

No ano 400 surgiu a Era de Ouro da Arte Indiana iniciada pela dinastia dos Guptas na cidade dourada do deus e rei Rama (Ayodhya). Essa época foi marcada pela preocupação com a qualidade nos artefatos de metal (principalmente o ferro), literatura, ciência, matemática (pi), astronomia (circunferência da terra, heliocentrismo), psicologia dos relacionamentos e a arte do sexo (kamasutra,  um livro que servia para o despertar profundo de todos os sentidos através do amor). Todas as artes e ciências indianas foram aprimoradas pelos Cholas (apelidados de atenienses indianos) entre 900 e 1300 quando esse grupo estabeleceu sua capital em Tanjore, Tamil Nadu. Os registros históricos da Índia guardam até endereços de pessoas comuns q serviam aos reis e a tradição está por toda parte, por exemplo: o sul ainda mantêm o estilo de dança chola, o Bharanatium, onde moças dançam 108 posições para o deus Shiva. Muitos artesãos ainda produzem estátuas de bronze a partir de moldes feitos com cera de mel de abelha e folhas de palmeiras dobradas como réguas, essas peças se destacam por apresentar os deuses dançando, assim como eram demonstrados nas primeiras obras de arte feitas na região. É importante lembrar que os mongóis muçulmanos que invadiram a Índia no século XVI foram artesãos e joalheiros de uma qualidade excelente e fizeram uma mistura de arte islã e hindu que ficou conhecida como a Renascença Indiana. A alimentação até hoje é a mesma consumida pelo deus Shiva, completamente vegetariana. Pois matar seres vivos é inadmissível, a vaca, por exemplo,  é um animal sagrado por oferecer tudo que um humano precisa para sobreviver: comida para nutrição e pele para aquecer o corpo, então esses animais são cultuados como deuses pelas ruas indianas. As famílias se alimentam no chão usando folhas de bananeiras como pratos, mas as mulheres só se servem após os homens estarem satisfeitos com a refeição. 

A Invasão e Libertação da Índia: 

O primeiro contato entre a Índia e o lado ocidental do mundo aconteceu após 331 a.C quando Alexandre o grande venceu os Persas e entrou no oriente em nome dos gregos. Desse momento em diante as terras indianas sofreram uma série de invasões, algumas pacíficas, outras bastante violentas, mas nenhuma delas foi tão marcante quanto a chegada dos britânicos (Inglaterra). No século XVIII o litoral sul indiano (Tanjore) foi invadido pelos britânicos. Inicialmente, eles se mantiveram somente no leste, pois não viam condições de competir com o colonato comercial que holandeses e portugueses já vinham desenvolvendo nas outras áreas indianas desde o século XVI. O sul da Índia sofreu com guerras entre ingleses e franceses, especialmente em Tamil. Mas houve o lado positivo, por exemplo: alguns britânicos começaram a pesquisar e organizar o passado indiano, alguns membros da Companhia das Índias Orientais chegaram a ser acusados de adorar mais o Alcorão do que a Bíblia, e o fato é que os britânicos uniram a Índia, que antes era dividida em diversos grupos diferentes. Em 1857 os indianos se uniram, independente de sua religião, para expulsar os britânicos que vinham se tornando prepotentes há aproximadamente 20 anos. Os britânicos foram pegos de surpresa, mas reagiram de forma aterrorizadora, exterminando cidades com 250 mil pessoas, como Dhéli. Em 1858 a Índia havia se libertado da presença de britânicos e mongóis em suas terras, isso após mais de 300 anos de ocupação de seu território. No século XIX a Inglaterra comandou um colonialismo perverso sobre os indianos para manter sua Revolução Industrial que havia sido iniciada através da produção de tecidos, uma especialidade indiana. Somente em 1880 a Índia conquistou a liberdade de imprensa. Os principais ativistas do boicote comercial contra os britânicos eram advogados indianos educados na própria Grã-Bretanha: Mohandas K. Gandhi, Mohammed Jinnah e Jawaharlal Nehru. Somente em 1947 os britânicos abriram mão do território indiano, neste momento surge o Paquistão de maioria muçulmana que passou a expulsar e matar hindus e shiks (cerca de 1.000.000 de assassinatos e 14.000.000 de emigrados). De lá para cá Índia e Paquistão já entraram em guerra 3 vezes e outra parte indiana se separou para formar o país de Bangladesh, mas a democratização segue firme e já levou o país a alcançar o título de super potência mundial.

Para mais detalhes sobre essa sociedade tão diversa, colorida e misteriosa, assista aos vídeos da Série Grandes Civilizações: