quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Roma, quem era quem



A civilização romana foi uma das maiores de todo o mundo e, por isso mesmo, era composta por pessoas muito diferentes, mas que deviam seguir os critérios sociais do governo de Roma. Cada pessoa sabia muito bem qual era o seu papel social e quais os deveres que deveria cumprir. Conheça um pouquinho melhor as classificações sociais romanas e como era o estilo de vida de cada uma delas, divirta-se:

O pai de família

Um homem se torna pai de família após ficar órfão ou ser emancipado. A partir desse momento, nada mais o liga aos seus irmãos porque, em Roma, as famílias eram as formadas por casamento.  Após se casar, se possível, cada casal terá sua própria casa aonde o pai de família será o chefe e ficará responsável por sua esposa (adquirida em jantar familiar), seus filhos ( ao menos três que podiam ser legítimos e educados severamente ou adotados e educados com mais liberdade), seus escravos, seus escravos libertos e seus clientes (homens fiéis). O pai protegia seus filhos por causa de seu dinheiro ou com o interesse de herdar algo por eles, mas não os mantinha sobre seu olhar. Também era dever do pai de família dar ordens e distribuir tarefas ao amanhecer de cada dia.

A mãe de família

Eram chamadas de senhoras e raramente eram responsáveis pela distribuição das tarefas dentro de casa porque dificilmente os maridos lhe ofereciam esse mérito. Os médicos afirmavam que fazia bem pra saúde das esposas que elas se ocupassem com alguma atividade, mas, geralmente, as únicas coisas que elas faziam eram se ocupar na roca ou no fuso preparando tecidos para sua família, essa era uma maneira decente de uma mãe de família ocupar o seu tempo. A mulher sequer podia desfrutar de privacidade porque as casas eram repletas de escravos que trabalhavam e descansavam por todos os lugares, inclusive em frente ao quarto do casal. Muitas mulheres gregas preferiam ser trancadas durante a noite por seus esposos em seus quartos para poderem estar sozinhas sem os olhares vigilantes de seus escravos. Basicamente, ser mãe de família era uma honrosa prisão. Caso a mulher estivesse descontente com o casamento ela poderia retornar a casa de seu pai.

As viúvas

As mulheres que enviuvavam se tornavam donas de si e de todas as suas propriedades, agora ela não tinha mais senhor e poderia fazer de sua vida o que considerasse melhor. Geralmente possuíam amantes abertamente e causavam espanto entre os religiosos. Elas tinham a melhor condição de vida entre as mulheres nascidas em Roma devido a liberdade que podiam desfrutar.

As concubinas

Eram mulheres extremamente amadas por um homem, mas que não podiam se casar com ele devido a sua situação social inferior. As concubinas mais comuns eram as escravas que haviam sido libertas. Muitos homens tinham suas concubinas, mas jamais deveriam ter mais do que uma ou serem casados.

Os filhos bastardos

Grande maioria dos filhos gerados fora do casamento dos homens eram concebidos com suas escravas e, pela lei romana, era proibido a um senhor assumir seu filho com uma escrava. A única coisa que o pai poderia fazer pelo filho bastardo era libertá-lo, pois sequer adotá-lo era permitido.

Os queridinhos

Eram crianças encontradas na rua ou de origem escrava que eram criadas por um senhor rico que lhe oferecia brincadeiras, mimos e educação liberal. Em troca, esses jovens deveriam estar sempre presentes nos jantares, usar suas jóias, se vestirem como príncipes e saírem de casa com seu cortejo. Muitos deles eram filhos mantidos em segredo pelo senhor. Geralmente os queridinhos e queridinhas serviam apenas como brinquedo ou filho adotivo, mas outros eram escolhidos para ocupar o cargo de favorito para satisfazer alguns desejos do seu senhor em segredo.

Os favoritos

Eram meninos escolhidos por um homem de bem. A sociedade considerava pecado a escolha de um favorito, mas era um pecado relativamente pequeno que encaravam com sorrisos de modo respeitoso. Vários imperadores tiveram um favorito, mas não os beijavam na boca na presença de suas esposas, pois, apesar do beijo entre homens ter se tornado um hábito comum e simbolizar devoção, ele ainda provocava ciúmes nas mulheres. Por regra. os favoritos só poderiam ser mantidos até a puberdade quando ainda não haviam definido seu sexo, mas assim que surgisse o primeiro bigode eles deveriam cortar seus cabelos e abandonar a posição de predileto. Entretanto, alguns despertaram tamanho amor de seus senhores que foram mantidos por eles mesmo após a idade adulta sem se preocupar em disfarçar a união.

Os pajens

Eram meninos bonitos que formavam um batalhão dentro da casa de um homem para servir-lhe o jantar e o acompanhar até a cama. Eram escravos, mas vinham de famílias importantes e por isso eram chamados de pajens para serem diferenciados dos queridinhos.

Os escravos (lembrando que não eram somente negros)

Os romanos não viam seus escravos apenas como objetos, eles os consideravam seres humanos que deveriam ser amados e corrigidos pelo fato de serem inferiores. A relação entre senhor e escravo era quase familiar, como entre pai e filhos pequenos. Muitos escravos chegaram a ser mais rico e poderosos do que os homens livres. Havia três maneiras de se tornar escravo: ser vendido ainda recém nascido por causa da pobreza familiar, se vender para não morrer de fome ou se vender para administrar os bens de algum homem muito importante.  Caso fosse comprado, era dever do vendedor informar todas as características negativas do futuro escravo para seu dono. Não era descente enfatizar que um escravo havia nascido livre e se vendido para a escravidão.

Após se tornar um escravo, a pessoa ganharia um nome simples como fazemos com nossos cães de estimação e depois iriam trabalhar no campo para camponeses humildes levando uma vida muito dura ou então serviriam de domésticos nas ricas casas romanas aonde viviam mais de dez escravos que desempenhariam cada qual a sua função para o bem estar familiar. Dentro dos lares haviam escravos simples encarregados de tarefas cotidianos até escravos poderosos que cuidavam de todas as riquezas de seu senhor, tanto que muitos escravos causavam medo nas pessoas que disfarçavam sua aflição. Entretanto, mesmo sendo um escravo poderoso ou cúmplice, ele era tratado como os demais escravos de seu senhor, ou seja, poderia ser vendido, castigado, queimado pelo carrasco municipal ou torturado para confessar erros de seu dono.

Apesar dos pesares, os escravos em Roma não eram tão oprimidos, tanto que tinham o direito de exercer um pouco de sua vida particular indo aos cultos ou até mesmo se tornando sacerdotes ou padres, assim como podiam aproveitar os dias de folga indo ao teatros públicos, circos ou arenas. Se um escravo fosse considerado preguiçoso ou mal educado, a culpa era de seu dono que lhe passou maus exemplos. Inclusive, os escravos tinham o direito de fugir para pedir ajuda a um dos amigos de seu dono caso cometesse um erro que gostaria que fosse perdoado por seu senhor. Geralmente os escravos ganhavam a liberdade através do testamento de seu dono que era lido logo após a sua morte, caso o testamento não fosse claro a liberdade seria ofertada por ser mais digno. Um escravo libertado recebe o sobrenome de seu antigo dono que não pode voltar atrás nessa decisão.

O senhor de escravo (os)

Os donos perdiam a moral se agissem com raiva ou crueldade sobre os seus escravos, sem contar que poderiam causar danos materiais a si mesmos se machucassem seus cativos. O que o senhor poderia fazer era realizar um julgamento correto dentro de seu lar, se ao final do julgamento ele considerasse adequado condenar o escravo a morte não haveria problemas, mas se ele matasse seu escravo durante um ato de fúria ele seria julgado por um juiz e deveria convencê-lo de que seu ato foi gerado por um motivo muito sério. Ou seja, os romanos poderiam punir seus escravos como quisessem, mas deveriam respeitar as formalidades legais para decidir os castigos que aplicaria. Mesmo após vender o escravo, o dono poderia estabelecer condições como mantê-lo sempre em correntes caso fosse um mal escravo.

Com o passar dos anos em Roma, foi percebido uma leve humanização da escravidão que aumentou cada vez mais, por exemplo: próximo ao ano 200 os escravos receberam o direito de se casar. Lodo depois também surgiu o costume de enterrar os escravos, deixando de lado o costume de simplesmente jogar seus corpos no lixo ou deixá-los como responsabilidade dos demais escravos. Talvez essa maior consideração pelos escravos tenha começado porque muitos homens importantes acabaram se tornando escravos quando perderam batalhas importantes e eles seguiam sua nova posição social porque respeitavam o que o destino lhes tinha oferecido. Dar a liberdade não era um ato feito para o bem do escravo, mas sim uma prova da bondade de seu dono que realizou essa ação por decência já que não tinha esse dever.

Os libertos

Eram ex escravos que haviam sido libertados por seu senhor, não moravam mais com ele, mas deveriam frequentar a sua casa para lhe prestar homenagem. Geralmente se tornavam artesãos ou negociantes por conta própria e se destacavam economicamente. Para ganhar a liberdade existiam quatro condições: os escravos estavam prestes a morrer e mereciam morrer como homens livres, o senhor os libertava no testamento como um ato de dignidade, negociavam sua liberdade com seu senhor para fechar um bom negócio para ele ou faziam um acordo e continuavam trabalhando nos negócios de seu senhor com o mérito de serem libertados por bons serviços prestados.

Raramente alguém era libertado sem receber uma pensão ou um pedaço de terra de seus ex dono. Não se libertava escravos que não iriam conseguir sobreviver sozinhos, então os libertos não foram muito comuns e viviam numa contradição, por um lado eram importantes e poderosos, mas, por outro, ainda eram inferiores aos homens que sempre foram livres, por isso eles foram desenvolvendo seus próprios costumes. Mesmo imitando a alta sociedade, não podiam ingressar nela porque tinham origem escrava e acabaram não recebendo educação e cultura, uma vez que crianças escravas não podiam frequentar a escola. O privilégio que teriam em vida era saber que seus filhos seriam homens livres por completo e respeitados como tal.

Qualquer escravo poderia ser libertado, com uma exceção: o tesoureiro jamais poderia ser libertado, nem se seu dono fosse um imperador e desejasse lhe libertar, isso era lei.  Poucos libertos continuavam morando com seu senhor ou trabalhando para ele. Após a libertação o senhor passaria a ser chamado de patrono e os libertos teriam que tratá-lo com fidelidade e engrandecê-lo com duas visitas diárias, não era uma obrigação, mas os libertos que não cumprissem o costume eram chamados de libertos ingratos. O libertador poderá pedir favores pra seus libertos, mas não deve sobrecarregá-los, caso eles não realizem os desejos de seu ex dono, ele podia puni-los, tirá-los da lista de herdeiros, proibi-los de se enterrarem no túmulo familiar ou até lhes dar bastonadas. O liberto, por sua vez, não podia reclamar de seus castigos.

Os clientes (amigos)

Eram homens livres que escolhiam um pai de família (patrono) para ser fiel, eles tinham a obrigação de visitar o seu senhor diariamente assim que amanhecia para lhe prestar homenagem, assim ofereciam o respeito necessário para esse homem ingressar na vida política. Os clientes podiam ser humildes ou até mais poderosos do que o senhor que escolheram respeitar. Haviam quatro tipos de clientes: os que escolhiam um patrono em busca de ajuda para entrar na vida política, os que escolhiam um patrono para os ajudar em seus negócios com sua influência, os que escolhiam um patrono para contar com sua ajuda e esmolas para sobreviver e os que escolhiam um patrono para adquirir seus bens através do seu testamento. Alguns patronos possuíam dezenas ou até mesmo centenas de clientes que faziam fila em frente a sua casa quando o galo cantava com o raiar do sol. Para serem recebidos na antecâmara do patrono e receberem sua gorjeta, eles deveriam estar vestindo sua toga de cerimônia. Nos jantares oferecidos pelo patrono, os clientes recebiam pratos diferentes conforme sua posição social e deviam sentar-se ao lado dos libertos mesmo que sentissem ciúmes destes, uma vez que o patrono confiava muito mais nos seus ex-escravos do que nesses amigos chamados de clientes. As saudações e as pompas que os clientes ofereciam aos seus patronos ainda dão desconhecidas, mas sabe-se que eles eram muito mais comuns na região da Itália.

Os políticos

Eram os nobres e notáveis que faziam parte do Senado ou dos Conselhos Municipais aonde o número de cadeiras era limitado, mas isso não os impedia de comparecer a todas as audiências. Quem possuía um sobrenome importante tinha o dever de estar presente nas reuniões aonde decidiriam os rumos do povo romano. Lembrando que para ser respeitado politicamente, o nobre deveria possuir muitos libertos e clientes lhe prestando homenagens.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Roma, a relação entre marido e mulher

(Cena do filme Spartacus - Fonte desconhecida)

A sociedade romana é considerada um dos principais modelos para o mundo em que vivemos hoje, no entanto, o povo de Roma possuía algumas características muito particulares que não observamos mais entre as pessoas. Agora você vai iniciar uma viagem pelo império romano para descobrir as maiores curiosidades sobre os critérios para a união de duas pessoas nessa civilização poderosa, divirta-se:

O casamento

Em Roma, até mesmo os escravos libertos tinham o direito de se casar porque o casamento era considerado um dever de todos os cidadãos de bem. A união era realizada através de uma cerimônia simples realizada na casa do futuro marido aonde o casal assinava um contrato simples para estabelecer o dote que a esposa receberia de seu pai para formar sua família, sendo assim não havia a presença de juiz, sacerdote ou gesto simbólico. A cerimônia se parecia com os simples jantares de noivado que realizamos atualmente.

A noite de núpcias

A primeira noite do casal era observada pelos convidados do casório que serviam como testemunha da união para o caso de alguém querer contestar aquele casamento. Muitas vezes as esposas se sentiam envergonhadas com a situação e, nesse caso, os maridos poderiam privá-la do constrangimento não fazendo sexo com ela, entretanto, eles tinham o direito de obter prazer com suas escravas ou até mesmo com os convidados da festa que tinham o dever de alegrar o casal durante a noite de núpcias.

O amor

Encontrar amor dentro do casamento era uma questão de sorte. O sentimento não era o motivo para se casar, era apenas uma boa consequência que poderia, ou não, ocorrer. Podemos dizer que não havia amor entre os casais, mas sim um pacto de amizade que deveria ser respeitado porque as brigas eram chocantes e revelavam que os envolvidos não sabiam se controlar. Lembrando que era uma amizade desigual porque a mulher deveria ser a parte submissa da relação.

O papel do marido

Os desentendimentos entre os casais podiam ocorrer, mas o marido deveria aprender a suportar as falhas de sua esposa para tratá-la bem. Se o homem conseguisse fazer isso já estaria mais preparado para as dificuldades do mundo e seria considerado uma pessoa de mérito. Roubar a esposa de alguém ou trair a sua mulher eram erros graves. Um homem de bem sabia que a relação sexual era realizada para ter filhos e não para sentir prazer, por isso, se ele traísse a esposa estaria sendo fraco e seria tão criticado quanto uma esposa infiel. 

A traição

O ideal era manter a monogamia respeitando a pessoa com quem se casou, no entanto, a mulher era considerada um simples instrumento ou, no máximo, uma companheira de seu esposo e, por esse motivo, deveria reconhecer sua inferioridade em relação ao marido e respeitá-lo incondicionalmente. Caso a esposa cometesse uma traição, o marido não seria considerado "corno" como costumamos fazer atualmente, pois isso não era considerado uma vergonha, mas sim uma falta de cuidado. Como sua mulher era inferior, ele seria acusado de não ter vigiado ela corretamente, era a mesma situação quando uma filha engravidava antes do casamento por exemplo. Por isso as esposas só poderiam visitar as amigas sem fossem bem acompanhadas por alguém de confiança da família.

O divórcio

Para se divorciar bastava se afastar do seu parceiro e esse direito era garantido a homens e mulheres. O mais interessante na sociedade romana é que, além de poder se divorciar, a mulher também possuía o direito de levar consigo o seu dote após abrir mão de seu casamento. A desvantagem feminina é que, em caso de separação, os filhos deveriam ficar com seus pais.

Então, para uma sociedade antiga, Roma era bastante moderninha não é mesmo?! Afinal, era a única sociedade da época em que as esposas tinham o direito de se divorciar no caso de insatisfação. Como sabemos, após o fim do império romano as mulheres foram submetidas a séculos e séculos sem qualquer tipo de direito. Sendo assim, quando a questão é a convivência amorosa, parece que temos muito mais em comum com os romanos do que podíamos imaginar.

Espero que tenha gostado dessas curiosidades romanas e deixe seu comentário sobre esse texto para trocarmos ideias, até mais!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Roma, a relação entre pais e filhos

(Família romana - Fonte desconhecida)

A sociedade romana é considerada um dos principais modelos para o mundo em que vivemos hoje, no entanto, o povo de Roma possuía algumas características muito particulares que não observamos mais entre as pessoas. Agora você vai iniciar uma viagem pelo império romano para descobrir as maiores curiosidades vivenciadas no dia a dia de quem nascia nessa civilização poderosa, divirta-se:

A gravidez

Os romanos apresentavam um índice muito baixo de reprodução e, para dificultar ainda mais o aumento populacional, eles costumavam usar algumas técnicas de aborto que variavam entre a contracepção e cirurgias. Havia o costume feminino de se lavar após o ato sexual para evitar a gravidez, existiam drogas que matavam os espermas masculinos e era comum que as mulheres transassem somente pouco tempo antes ou depois do período menstrual para evitar que estivessem em seu período fértil. A própria lei romana afirmava que se uma mulher concebesse três filhos ela já teria cumprido seu papel social e por isso não havia problema se ela quisesse se livrar dos filhos indesejados.

O nascimento

Os partos das romanas eram realizadas por parteiras que colocavam o bebê no chão assim que ele vinha ao mundo, nesse momento o pai se aproximava do filho para decidir se queria ou não que essa criança participasse de sua família. Esse era um costume comum também entre os gregos. Quando os pais aceitavam o bebê deviam pegá-los no colo, já se preferissem se livrar do pequenino deveriam largá-lo em frente a casa ou em algum monturo público para que algum interessado a recolhesse. Essas crianças rejeitadas por sua família de sangue eram chamadas de enjeitadas e teriam a chance de encontrar um bom lar adotivo, mas aquelas que nasciam deficientes geralmente não tinham essa oportunidade porque a maioria era afogada até a morte assim que chegava ao mundo.


A adoção

Filhos adotados eram tão importantes quanto os naturais, o que importava a um pai de família romana era ter filhos, não importando sua origem. Alguns cargos públicos exigiam que os homens fossem pais para assumir a posição e a adoção era uma saída para homens idosos ou estéreis que desejavam determinadas profissões. Também era possível adotar homens adultos que tivessem ficado órfãos e dessa maneira o pai adotivo se tornava dono de tudo que pertencesse ao seu filho recém adotado, essa era uma boa maneira de adquirir terras e poder. Em Roma o seu sangue não importava, o importante era o seu sobrenome e assim alguns meninos humildes acabavam se tornando pessoas respeitadas na sociedade porque foram adotados por senhores poderosos.

A educação

As mães ricas de Roma não criavam seus filhos porque a educação deles era feita até a puberdade por uma nutriz que o amamentava e lhe ensinava a língua grega e um nutridor que fazia o papel de um professor. Assim que nasciam as crianças eram levadas pra morar numa casa do interior que pertencesse a senhora mais idosa de sua família, geralmente a avó. Por regra as avós paternas eram mais rígidas, enquanto que as maternas eram um pouco mais amáveis. Os filhos deveriam morar no campo com sua vice-família (nutriz, nutridor e irmãos de leite) para viver longe das tentações das cidades, lá eles deveriam aprender a resistir ao luxo e a decadência o que não seria possível se vivessem em meio as festas de sua família poderosa. As crianças só iam pra sua casa quando ocorria um jantar especial e não deveriam esquecer de chamar seus pais de domines que significava senhor, o que demonstrava a rígida educação que um pai oferecia ao filho(a). Era dever do pai ensinar seus filhos a suportar o que lhes fará bem mesmo que doa, tanto que eles enfaixavam os bebês recém nascidos para evitar que se deformassem e não importava o quanto a criança chorasse.

A escola

Era comum que meninas e meninos frequentassem a escola antes de completar doze anos de idade e por isso até mesmo pessoas muito pobres sabiam escrever. Mas para redigir um documento público era preciso saber as regras de ortografia que só eram aprendidas pelos meninos ricos que seguiam seus estudos e aprendiam até mesmo a língua grega que era considerada a mais culta da época (Obs.: o interessante é que os gregos nunca demonstraram interesse pela língua romana, o latim.). Depois disso os meninos começavam a estudar os clássicos e a praticar discursos judiciários ou políticos.

A adolescência

Com doze anos de idade os meninos já podiam deixar as roupas infantis e por volta dos quatorze já estava se divertindo como um adolescente. Não existia a maioridade em Roma, por isso eram os pais quem decidiam o momento em que seus filhos deveriam começar a usar roupas de adulto e cortar o seu primeiro bigode. Durante cinco ou dez anos os jovens visitavam prostitutas ou mantinham amantes, também era comum que se organizassem em associações de jovens que saíam para se divertir e que muitas vezes arrombavam portas para abusar de mulheres indefesas já que o sexo não era considerado um pecado, mas sim um prazer que só deveria ser limitado para manter a higiene e evitar problemas de saúde. Os médicos recomendavam a prática de ginástica e estudos filosóficos para conter o desejo sexual dos jovens que só parariam com a busca por amantes e favoritos quando se casassem.

Assassinar o pai

Parece absurdo, mas matar o pai era uma prática muito comum em Roma porque, não importava se o garoto era casado ou não, quem mandava nele e em todos os seus bens era o seu pai que mantinha a posição de juiz sobre o filho detendo o poder de condená-lo a morte se o julgasse culpado de algum ato. Sendo assim, os filhos não podiam sequer seguir a carreira que pretendessem se não tivessem o consentimento e o incentivo financeiro de seus pais. Os homens só se tornavam pais de família (independentes) após a morte de seu pai.

O testamento

Quando um romano morria era realizada a leitura de seu testamento e para ser considerado uma pessoa nobre o morto deveria deixar herança para todos os membros de sua família sem exceção e também para as pessoas que moraram com ele ou lhe consideravam especial: escravos, libertos e clientes. Com a leitura do testamento os filhos homens se tornavam independentes e passavam a ser pais de suas próprias famílias tornando-se definitivamente adultos, já as filhas solteiras recebiam a sua parte da herança e o direito de se casar com quem bem entendesse. 

Então, ainda bem que não mantivemos todos os costumes romanos não é mesmo?! Apesar de toda a organização de Roma, algumas de suas características nos parecem bem assustadoras hoje em dia. Espero que tenha gostado dessas curiosidades romanas e deixe seu comentário sobre esse texto para trocarmos ideias.
Até mais!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Colônia Nova Itália, atual bairro de Colônia

(Vista parcial do bairro de Colônia - São João Batista (SC) em Brasil - Fonte desconhecida)

Os moradores da pequena cidade de São João Batista (SC) estão acostumados a ouvir comentários não muito elegantes sobre o bairro que atualmente se chama Colônia. Entretanto, as pessoas que costumam chamar essa localidade de “interiorzinho” e até mesmo de “fim de mundo” estão um pouquinho mal informadas.

Primeiramente, não se deve julgar qualquer local que seja, afinal quem somos nós para fazer isso?! Mas, em segundo lugar, é necessário conhecer algo para depois expressar sua opinião sobre tal. E, a meu ver, quem menospreza esse bairro provavelmente nunca investigou sua trajetória, tão pouco deve saber que lá se formou a primeira vila catarinense de colonização italiana.

Os primeiros italianos trazidos para Santa Catarina chegaram aqui em 1836 vindos da cidade de Gênova com o auxílio de Carlo Demaria. Eles estavam em busca de uma vida melhor, uma vez que a situação italiana era muito difícil devido a luta pela unificação do país. Na época, as terras de Colônia se chamavam Nova Itália e ofereciam terras férteis regadas pelo rio Tijucas.

Eram cerca de 180 italianos originários da ilha de Sardenha ou da região de Ligúria que carregavam os sobrenomes: Pesco, Riolfo, Alerto, Caviglia, Montardo, Sardo, Gambelli, Buzano,  Mattia, Pislori, Benotti, Grosso, Rilla Zunino, Formento, Ratto, Cognacco, Gnecos, Demoro, Nocette e Pison. As terras eram dividas conforme o número de integrantes de cada família que ganhariam sua posse definitiva após trabalharem dez anos na propriedade.


A vida dos recém-chegados não era nada fácil. Era preciso cultivar algodão para confeccionar suas roupas, cultivar mamona para usar o óleo no acendimento dos lampiões, fabricar canoas para realizar os casórios e produzir dentaduras para aplicar sobre os dentes quebrados que não podiam ser extraídos. Mas, entre todas as dificuldades enfrentadas, a mais cruel era o ataque dos bugres:

Mal a colônia se iniciava, já em 1837, foi atacada pelos bugres, senhores daquelas terras. Os sacrificados pela fúria dos bugres foram Luigi Ratto, Giovanni Benotti, Giovanni Rilla e Bernardo Gambelli mais a mulher e um filho. [...] Como se não bastasse, em 1838, a colônia sofreu uma grande enchente no período de 9 a 11 de março que prejudicou muito a lavoura. [...] Em 1839, houve novo ataque dos bugres, desta feita matando 3 homens e 5 mulheres, deixando mutiladas 3 crianças [...]”. (MAURICI, 2008)

Em meio a essa vida árdua, os primeiros colonos foram construindo esse pequeno bairro enquanto sobreviviam da agricultura, do corte de madeira nativa e da produção de engenhos de açúcar e de farinha de trigo. Foi exatamente nesse lugarzinho simplório que o primeiro calçado batistense foi confeccionado pelo Sr. Manoel Lourenço Peixer.

Será que algum dia o Sr. Manoel se deu conta de seu pioneirismo? A sua iniciativa de transformar um tamanco em sapato de couro após ver um desses em Florianópolis pode ter sido algo sutil para ele. Mas, atualmente, é exatamente da produção desse objeto que sobrevive grande maioria dos moradores de São João Batista, o calçado.

Graças a outro homem simples, mas de muita responsabilidade, a pequena localidade de Colônia cresceu cada vez mais. Lucas Boiteux foi o segundo administrador da localidade e foi ele quem providenciou um grupo policial para conter os bugres, várias estradas para facilitar o comércio, a construção de uma pequena escola para os meninos, entre outras decisões que fizeram a colônia prosperar consideravelmente.

Esse é apenas um pequeno resumo da trajetória deste pequeno grande bairro, mas, se você ficou ainda mais curioso e deseja obter mais detalhes, leia a obra intitulada São João Baptista do Alto Tijucas Grande de autoria da escritora batistense Darci de Brito Maurici. Espero que leia o livro por completo e registre sua opinião aqui nos comentários do blog.

Até mais!
  

São João Batista (SC), os primeiros ocupantes


(Bugres catarinenses - Fonte desconhecida)

A aconchegante cidade de São João Batista, localizada no estado de Santa Catarina, vem recebendo um número significativo de moradores nos últimos anos. A maioria deles chega aqui em busca do sucesso profissional oferecido pela grande quantidade de indústrias de calçados que crescem no mercado nacional e também internacional.

O que podemos nos questionar é: quem foram os primeiros moradores desse município tão promissor? A história nos relata que os primeiros ocupantes foram trazidos das ilhas portuguesas dos Açores através do incentivo dos reis portugueses entre os séculos XVII e XX que queriam ocupar o sul brasileiro para não perdê-lo para os espanhóis.

Para deixar sua terra e vir morar na pequena localidade de São João, era oferecido aos açorianos uma porção de dinheiro, terras, instrumentos de trabalho, sementes, gado e armas de fogo. Durante o alistamento os casais tinham prioridade porque garantiam o crescimento populacional. Aos poucos, famílias inteiras chegavam aos portos de Florianópolis para seguirem seu caminho nos carros de boi até as terras batistenses.

Por volta de 1838 chegaram os primeiros açorianos que precisaram se adaptar ao novo ambiente, clima e alimentação encontrada. Após o período de adaptação, eles foram deixando diversas tradições que mantemos até hoje, como construções em estilo português, engenhos, presépios, terno de reis, festas juninas, procissão de Corpus Christi, boi de mamão, benzimentos, carnaval, farra do boi, bola de gude, pião, peteca, pular corda, beiju, cuscus, broa de polvilho, entre outras.

Ao mesmo tempo em que chegavam os açorianos incentivados pelo governo, também chegavam os italianos através de diversas empresas de colonização que valorizavam os hábitos de trabalho e persistência do povo da Itália. A viagem até São João Batista era muito difícil, mas, sem dúvida alguma, o maior problema enfrentado pelos açorianos e italianos foi a resistência dos grupos que já viviam em São João Batista desde a pré-história, os bugres.

Os nativos da cidade causavam pânico quando atacavam as vilas dos recém chegados da Europa. Sempre que invadiam os assentamentos era para espalhar o terror através de violência extrema, o que fez muitos imigrantes desistirem de construir sua vida em nossa cidade. Mas devemos nos lembrar que os bugres atacavam os homens brancos motivados pelo medo e a angústia de assistir suas terras sendo invadidas repentinamente.

A solução encontrada pelo governo e fazendeiros foi pagar a homens corajosos para se arriscarem pela mata em busca dos bugres. O bugreiro mais famoso de São João foi Martinho Marcelino de Jesus que com 18 anos iniciou sua  profissão, matar os bugres. Enquanto tentavam se livrar dos nossos bugres, os açorianos e italianos compravam pessoas para trabalharem para eles no solo batistense, os africanos.

Isso mesmo que você pensou, a pequenina São João Batista viveu a escravidão dos negros que conhecemos na escola e nem imaginávamos que tivesse ocorrido tão pertinho da gente. E não foram poucos escravos; o escritor Van Leede afirmou que em 1840 já existiam 190 escravos por aqui, todos registrados em cartório e seguindo uma vida de trabalho árduo sem nenhuma remuneração.

É importante ressaltar que não há indícios de que os escravos batistenses tenham sofrido castigos tão assustadores como ocorria frequentemente nas outras partes do país, inclusive alguns deles receberam de seus donos uma carta de liberdade condicional. Mas não é por causa dessa certa bondade que podemos ignorar ou menosprezar essa triste prática de humilhação humana realizada em nossa cidade.

Se você gostou de conhecer um pouquinho melhor a ocupação da pequena São João Batista, sugiro que leia a obra de Darci de Brito Maurici intitulada São João Baptista do Alto Tijucas Grande da editora e gráfica Odorizzi. Garanto que você  vai se surpreender com as revelações da escritora.

Até mais!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

São João Batista (SC), o início

(Portal de entrada da cidade de São João Batista em Santa Catarina, Brasil - Acervo pessoal)
Atualmente o município de São João Batista localizado no estado de Santa Catarina é conhecido por seu sucesso empresarial no ramo dos calçados que tem causado muito progresso aos seus moradores. Mas, no passado, nossa cidade era muito pequenina, embora sempre tenha sido um local de povo muito batalhador e responsável.

São João Batista surgiu da audácia de um único homem vindo de São José, o capitão João de Amorim Pereira, que criou uma boa fazenda próximo ao Rio Tijucas em 1834 somente com o apoio de sua família. Graças ao sucesso de João, outros colonizadores vieram morar na localidade que em pouco tempo foi considerada uma freguesia através da Lei Nº 90 de abril de 1838.

A freguesia tinha seu próprio Juiz de Paz, o capitão João,  mas não era independente, pois pertencia ao município da Freguezia de São Miguel. Em 1841 sua posse foi transferida para Porto Bello, até que em 1848 retornou ao poder de São Miguel. Já em 1860 houve a criação do município de São Sebastião de Tijucas, então as freguesias de Porto Bello e São João Batista foram incorporadas a ele.

Somente em 1958 São João Batista se tornou um município independente de Tijucas através da Lei N° 348 de 21 de junho. Porém, até esse dia chegar, os batistenses passaram por uma série de modificações em sua forma de viver nessa terra fértil repleto de madeiras de lei. Estudos indicam que nossa cidade foi formada por imigrantes açorianos e italianos que contaram com o trabalho escravos negros em suas fazendas que frequentemente eram atacadas pelos "índios" locais, os bugres.

No princípio, o rio Tijucas era fundamental para a sobrevivência de todos porque ele facilitava o transporte de mercadorias que eram vendidas em outras localidades. Atrás da atual loja Penhk ficava um dos principais portos de barcaças que saíam daqui repletas de madeira, cana, mandioca, gado, fumo, feijão, milho, entre outros produtos.

Quando os produtos não eram levados até as freguesias mais próximas, os tropeiros vinham para São João descendo a serra carregados de charque, queijo, pinhão, mel de abelha e fumo de corda para trocar aqui por produtos de seu interesse. Para sua comodidade contavam com o apoio das casas do Sr. João Vicente Gomes e do Sr. Benjamim Duarte aonde podiam se alimentar e descansar.

Praticamente todas as famílias batistenses possuíam engenhos de cana ou de farinha, mas aos poucos muitas delas foram se dedicando somente a troca de produtos e passaram a abrir as primeiras casas de comércio de nossa região, algumas delas existem até hoje como a Loja Calcebem do Sr. João Vicente Gomes, o Supermercado Remael do Sr. Walmor Goedert, o Supermercado Puel do Sr. Abílio Puel, entre tantas outras.

Entre todos os estabelecimentos criados, sem dúvida alguma, o que mais fez sucesso foi o Cine São João inaugurado por volta de 1940 pelos irmão Leopoldo e Irineu Campos. O local foi um verdadeiro sucesso exibindo os filmes de uma empresa de Curitiba, que muitas vezes eram criticados pelo vigário. Com a chegada da televisão por volta de 1988/89, o cinema acabou sendo fechado.

Com tanta movimentação surgiu a necessidade de estabelecer as primeiras picas (estradas de barro abertas á mão) para o movimento de pedestres e carroças em 1841, o responsável pelas obras foi Anastácio Pereira. A primeira grande estrada foi traçada entre Nova Trento e Porto Belo passando por Tijucas, ela seria útil para carroças, caminhões e automóveis e foi inaugurada em 27 de abril de 1890.

Em 1918 São João foi agraciada com a construção de sua primeira ponte fabricada com madeira e zinco que permitia a passagem de um veículo por vez. Sua inauguração foi somente no ano de 1921. E assim, aos poucos, a pequena freguesia do capitão João de Amorim Pereira foi se transformando nessa cidade promissora que não para de crescer.

Se você gostou de conhecer um pouquinho sobre a trajetória da pequena São João Batista, sugiro que leia a obra de Darci de Brito Maurici intitulada São João Baptista do Alto Tijucas Grande da editora e gráfica Odorizzi. Você  vai se surpreender com as revelações da escritora.

Até mais!

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A Revolução de 1930 e o Vale do Rio Tijucas

Com toda certeza você aprendeu na escola que durante os anos de 1894 e 1930 a política brasileira foi dominada por dois poderosos estados brasileiros, São Paulo e Minas Gerais. Esse período era conhecido como Política das Oligarquias, mas também foi apelidado de República do Café com Leite já que a maioria dos presidentes eram cafeicultores de SP ou criadores de gado de MG, graças a um acordo político estabelecido entre eles.

O fato é que em 1930, segundo o acordo entre os dois estados, o presidente eleito deveria ser o apoiado por Minas, entretanto isso não aconteceu porque o estado de São Paulo fraudou as eleições oferecendo o mais importante cargo político brasileiro para Júlio Prestes. O candidato derrotado ilegalmente, Getúlio Vargas, se uniu aos militares brasileiros organizando a Revolução de 1930 que partiria de seu estado, Rio Grande do Sul, até a capital do país, o Rio de Janeiro, aonde pretendia ocupar o cargo a qualquer custo.

O que provavelmente não lhe ensinaram nos bancos escolares é que, durante sua jornada rumo ao poder,  Vargas invadiu diversas cidades usando muita violência e obrigando milhares de jovens a se unirem a seu grupo armado em direção ao Rio. Outro detalhe que com certeza não lhe repassaram é que três grupos getulistas passaram por Santa Catarina espalhando o terror em cidadezinhas pequenas que sequer entendiam muito ao certo tudo o que estava acontecendo no cenário político brasileiro, tão pouco haviam tomado alguma posição favorável ou contrária á Revolução.

Tijucas, que abrigava famílias importantes para o cenário político, foi rapidamente dominada tendo seus prefeito e delegado substituídos por gente de confiança de Vargas enquanto a população fugia durante a calada da noite com medo do que poderia lhes acontecer. Em São João Batista os revolucionários cativaram dois irmãos que ingressaram em suas tropas e revelaram orgulho por ter participado desse importante movimento brasileiro, eram eles Hercílio João Fraga e Gerson Fraga. No entanto, em nosso Vale do Rio Tijucas, a cidade que se destacou nesse período foi Nova Trento.

Você deve imaginar que os trentinos tenham se destacado pela valentia ao se juntarem ou combaterem as tropas de Getúlio, certo? Errado. Os colonos da pequena cidade trentina se destacaram por sua engenhosidade. Quando souberam da aproximação dos revoltosos decidiram fugir para trás do morro Bezenelo e, como havia chovido muito nos últimos dias, tiveram a ideia genial de subir o local de costas. Dessa maneira, quando as tropas de Vargas viram o morro, logo imaginaram que as pessoas haviam descido o local e estavam no centro de Nova Trento.

Esse exemplo de estratégia de guerra é facilmente compreensível levando-se em consideração que a maioria dos colonizadores trentinos já haviam vindo para Santa Catarina para se refugiarem da terrível situação que assombrava a Itália, tudo o que desejavam era a paz e a obtiveram de maneira muito sábia. Isso é somente um pouco do contexto de nossas pequenas cidades catarinenses durante o grande momento histórico do fim da República das Oligarquias e consequente ascensão de Getúlio através da Revolução de 1930.

Caso você tenha se interessado pelo assunto, sugiro que busque mais informações no sensacional livro intitulado Histórias da Vida Real. Uma obra de muita sabedoria popular produzida por uma personalidade incrível de nosso estado catarinense, o Dr. Wilian Duarte da Silva. Leia a obra e poste seus comentários para debatermos mais sobre essa importante obra a cerca de nossa história regional.
Até mais!

Vilazinha de Fernandes, doces lembranças

(Capa da obra Vilazinha de Fernandes: doces lembranças - Acervo pessoal)

Em novembro de 2014 o escritor Ademar Campos nascido em São João Batista e residente em Tijucas, lançou um livro de memórias intitulado Vilazinha de Fernandes: doces lembranças. A obra contou com a colaboração de alguns colegas do autor, da prefeitura de São João Batista e do Instituto Mathilde Bayer.

O mais interessante durante a leitura é perceber a pesquisa detalhista realizada sobre o modo de vida dos fundadores do bairro de Fernandes, localizado no interior da cidade de São João Batista (SC). As famílias precursoras são citadas com uma riqueza de detalhes que começa em seu ramo de trabalho e termina nos próprios vestuários e costumes diários dos integrantes mais singulares.

Algumas pessoas nascidas na localidade tiveram uma pequena biografia exposta para ressaltar sua importância social, outras foram valorizadas com fotos familiares, enquanto que as mais pitorescas tiveram seu trabalho explicado em detalhes, como foi o caso da benzedeira Ignes Barnabé Serpa que teve seus benzimentos repassados ao escritor por uma de suas netas.

Eis a maior façanha desse pequeno livro, usar a memória e as fontes orais para recontar a micro história regional revelando a vida dos pequenos personagens e quebrando completamente com o paradigma mundial de exaltar somente os grandes "heróis". Uma iniciativa incrivelmente ousada em nossa região que segue o rumo da nova forma de contar história que está sendo fixada no mundo.

Além de trazer a tona o cotidiano, os costumes e as crenças dos carneirinhos (como eram chamados os moradores do bairro de Fernandes), o texto conta com pequenos causos populares da cidade de Canelinha e é encerrado com a participação brilhante de uma adolescente tijucana que revela as principais crendices populares de sua cidade natal.

Em resumo, esse livro singelo em tamanho pode ser considerado um imenso salto na História de São João Batista e demais localidades relacionadas. Durante a leitura é possível perceber que alguns erros ortográficos passaram despercebidos e que infelizmente não houve muito investimento na parte gráfica,  mas nada que prejudique o valor real deste trabalho tão delicado envolto em memórias tão doces.

Indico a leitura da obra por completo para que deixe sua opinião nos comentários abaixo e me ajude a divulgar o livro de meu colega querido. 
Até mais!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Salvador Allende

(Caricatura de Salvador Allende - Autor desconhecido)
Salvador Allende Gossens nasceu em Valparaíso numa família rica aonde iniciou seus hábitos de equitação, natação, tiro ao alvo e passeio de veleiro. Ao amadurecer ingressou para a ordem secreta de um grupo maçônico seguindo os exemplos de seus pai e avô, passou a usar óculos de aros grossos, entrou num curso de medicina em 1926 e assumiu um discurso radical a favor do marxismo-lenista quando conheceu um sapateiro italiano anarquista.

Seu fanatismo pelo modelo político socialista era mantido até mesmo dentro de casa aonde chamava suas próprias filhas de "companheira Carmen", "companheira Isabel"... Ninguém duvidava do fato de que Allende era um democrata convicto, assim ele se tornou o primeiro presidente marxista eleito pelo povo por 36% dos votos a seu favor. Ao assumir o cargo, Allende assinou um juramento prometendo respeitar o Estado, as Forças Armadas, a liberdade de opinião, a pluralidade sindical, a autonomia das universidades e a indenização aos proprietários de terras expropriadas.

Em pouco tempo ele debochou desse documento passando a ignorar todas as suas promessas, tanto que deixou clara a sua intenção dentro do governo do Chile: "estabelecer um Estado revolucionário que possa libertar o Chile da dependência e do atraso econômico e cultural e iniciar um processo de socialismo. A violência revolucionária é inevitável e legítima [...]". Assim, as pessoas que foram morar em terras chilenas para fugir da ditadura brasileira, passaram a assistir Allende criando grupos paramilitares apoiados por Cuba.

Rapidamente os seguidores de Allende passaram a tomar fazendas e fábricas usando a força das armas e colocando uma faixa nos portões: "Essa propriedade foi tomada pelo povo.". Os donos dos locais deveriam ir embora, mas muitos deles foram assassinados antes disso, alguns se suicidaram e outros morreram de ataques cardíacos. Entre novembro de 1970 e abril de 1972, 1.762 fazendas foram invadidas pelos grupos armados do presidente. O povo chileno começava a vivenciar uma das fases mais tristes de seu país.

Jornais e rádios começaram a ser atacados ou comprados pelo governo de Allende que passou a controlar a venda de antenas de transmissão, tinta e óleo para regular as notícias publicadas no país. Para se proteger da reação popular, o presidente criou uma guarda pessoal chamada de GAP e pretendia criar uma Escola Nacional Unificada aonde crianças e jovens seriam educados segundo os conceitos de uma sociedade não capitalista com o intuito de não se voltarem contra as decisões governamentais.

Os canais de televisão também foram tomados pelo governo assim como o cinema que só poderia exibir filmes aprovados pela Chile Films. Em três anos a produção industrial caiu 12%, a agrícola 30%, a de carne bovina 20% e a de cobre 2%. A área de terra cultivada diminuiu em um quinto, as colheitas de arroz caiu 20% e a de trigo diminuiu em um terço. As reservas internacionais caíram de 400 milhões de dólares para 0. A população teve de aceitar o aumento de 1.000% nos preços e sofrer com o sumiço dos produtos nas prateleira do comércio.

Para controlar o que as pessoas podiam comprar, Allende criou as Juntas de Abastecimento e Preço que distribuíam os produtos para o povo pelo preço fixado pelo presidente e, para piorar, cada pessoa recebeu um cartão de racionamento que regulava a quantidade de cada produto que a pessoa podia comprar para sua família. Perante essa situação, muitos pais de famílias assistindo seus filhos passarem necessidade começaram a desviar produtos das empresas em que trabalhavam.

O desvio não era difícil, uma vez que o presidente havia proibido a existência de cargos mais importantes dentro das empresas extinguindo a existência de chefes que fiscalizassem os funcionários. Dentro da empresa todos eram iguais e não tinham como punir os colegas que desviassem ou roubassem alguma coisa dentro do ambiente de trabalho. Ao que tudo indicava, a única coisa que ainda funcionava no Chile eram as fábricas de bandeiras e ao perceber essa situação o presidente foi até a União Soviética pedir ajuda econômica, mas teve o pedido negado.

Allende acreditava que alguns tipos humanos teriam de ser eliminados para evitar alguns problemas dentro da sociedade. Ele criou uma tese com duas categorias de vagabundos, os de origem étnica como judeus e os de origem econômica como mendigos, e sugeriu em 1939 um Projeto de Lei para a Esterilizaçãção dos Alienados completamente baseado nas ideias de eugenia usadas por Hitler na Alemanha. Quando uma pessoa era indicada para a esterilização ela ocorreria em no máximo 30 dias e, caso a família se negasse a aceitar a decisão, o serviço seria feito com o auxílio da polícia.

Felizmente, esse projeto não foi aceito por muitos médicos de renome e acabou abandonado antes mesmo de ser apresentado ao Parlamento. Mesmo com essa oposição a suas ideias nazista, Allende se negou a expulsar Walter Rauff do Chile, mesmo sabendo que ele era o criador dos caminhões de gás que exterminaram meio milhão de pessoas na Europa por desejo do governo alemão. Mas o projeto que mais chamou atenção durante o governo de Allende foi o "Plano Z".

O Plano Z estava marcado para 25 de agosto de 1973 e devia deter oficiais e pessoas da oposição já fichados pelo governo para levá-los a lugares de retenção e eliminação. O plano também incluía a sabotagem de aeroportos, pontes, ferrovias, vias de comunicação e estradas para isolar as cidades e impedir um possível contra golpe. O plano não chegou a ser colocado em prática por falta de tempo porque os chilenos já começavam a criar complicações para o presidente, principalmente as mulheres que organizavam greves batendo panelas nas ruas e jogando milho nos pátios dos quartéis.

A atitude feminina sobre os quartéis do exército chileno insinuavam que os militares eram covardes feito galinhas e que por esse motivo não tomavam nenhuma atitude contra Allende. O que de fato não era completamente equivocado porque os militares só se manisfestaram contra o governo quando o presidente ordenou a prisão dos 63 maiores empresários do país. O general que organizou o ataque contra Salvador Allende foi justamente um de seus homens de confiança, Augusto Pinochet

O próprio presidente afirmava que não era o presidente dos chilenos, mas sim de um terço da população que o colocou no poder. Como ele estava longe de agradar o povo, a Câmara dos Deputados também era composta por pessoas que estavam insatisfeitas com a presidência e acabaram declarando que o governo de Allende era ilegal com 87 votos.  No dia 11 de setembro de 1973, ás duas horas da tarde, Salvador Allende se suicidou com um tiro de fuzil AK-47 na cabeça que havia ganho de presente de Fidel Castro.

Pinochet acabou assumindo o poder do Chile e instaurando uma ditadura que durou 17 anos e assombrou a população de uma tal maneira que Allende passou a ser considerado um bom homem quando comparado a ele. Desta maneira nosso personagem passou a ser considerado um sonhador, um homem que queria tornar seu país um local mais justo redistribuindo terras e destruindo a classe dos patrões. Mas será que é justo lembrá-lo como um idealizador comunista mesmo tendo cometido tantos erros graves?

Creio que o mais correto seja alertar o mundo sobre sua face sanguinária. Então, caso você tenha se interessado por esse texto e queira saber mais a respeito desse importante personagem americano, sugiro que consulte o livro Guia Politicamente Incorreto da América Latina escrito por Leandro Narloch e Duda TeixeiraEspero que formule sua opinião a respeito de Allende e deixe nos cometários abaixo para que possamos saber cada vez mais sobre esse homem tão marcante na história chilena.

Até mais!