quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Livro: Mistérios e Revelações da Idade Média

(Arquivo pessoal)

A coleção Quero Saber traduzida e lançada no ano de 2009 pela Editora Escala trás pequenos manuais de diferentes momentos históricos vistos do ângulo eurocêntrico. Logo os textos trazem uma linguagem bem restrita, porém esclarecedora destes momentos em que se detêm. Abaixo escrevo um resumo da obra Mistérios e Revelações da Idade Média com tradução de Constantino Kouzmin-Korovaeff.
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Todos os historiadores concordam em um aspecto: o fascínio exercido pelo Período Medieval. Os mais retrógrados acusam estes mil anos de ser uma fase extremamente retrograda vivenciada por um povo oprimido nas mãos da temível igreja católica. Os demais recorrem a uma interpretação mais positiva buscando enaltecer os pontos positivos deste tempo em detrimento do caos que o caracteriza. O fato é que diariamente somos bombardeados por filmes, jogos e contos de fada onde os personagens medievos, desde a mais ingênua princesa até o mais cruel dos cavaleiros, prendem nossa atenção indiscutivelmente.

Sujeitos:
As classes sociais eram consideradas vontade divina e por isso muito respeitadas, a única oportunidade de subir na hierarquia era tornando-se um religioso ou cavaleiro. A sociedade era composta por:
·        Proscritos: pessoas excluídas do circulo de relações, seu dinheiro não era aceito e eram sepultados em cantos remotos dos cemitérios. Entre eles estavam: doentes, assassinos, hereges, carrascos, coveiros, magarefes, lavadores de latrina, prostitutas, malabaristas e atores.
·        Camponeses: os únicos trabalhadores braçais de seu tempo, trabalhavam nas terras dos senhores feudais em troca de proteção, moradia e comida;
·        Clero: composto por religiosos católicos considerados enviados do reino dos céus, portadores da verdade;
·        Cavaleiros: homens (em sua maioria) que protegiam armadamente o feudo em nome de seu senhor;
·        Nobreza: donos de terra responsáveis pela organização e administração da sociedade.
Com o passar do tempo surge a classe burguesa composta por comerciantes e artesãos autônomos revelando que a posição social não era um encargo de Deus. É necessário enfatizar o papel de inferioridade exercido pelas mulheres neste contexto, segundo a igreja elas não teriam coração e serviam somente a diversão masculina, deste modo não deviam se manifestar em publico por isso eram representadas pelos homens de sua família cansando-se entre os 12 e 16 anos de idade; nas cidades essa submissão era um pouco menor que no campo.


Cotidiano, alimentação, transporte:
O povo vivia enclausurado nos Feudos (grandes extensões de terra protegidas por muralhas) uma vez que a ameaça dos povos bárbaros em fins da idade antiga levou ao fim das cidades ao molde romano. Dentro dos feudos a alimentação era invariável, comia-se aquilo que os camponeses plantavam. A nobreza era a única classe que comia carne. Os animais eram geralmente de pequeno porte e viviam soltos freqüentando não só as ruas como o interior das casas. As plantações eram compostas de três faixas de terra, uma para as colheitas de verão, outra para as de inverno e uma terceira que descansavam suas propriedades nutritivas. Produtos como hidromel, cerveja e vinho eram consumidos por toda a sociedade a despeito de faixa etária. Servir a mesa às visitas era questão de honra, recusar era considerado ofensa. As caríssimas especiarias orientais usadas nas cozinhas nobres eram mais apreciadas por seu valor do que pelo seu sabor. A igreja católica pretendia exterminar esses feudos devido o exibicionismo e vaidade entre seus senhores. Os esgotos e canais d’água romanos foram substituídos por poços e valas. Viajar era raro, custava caro, alem de ser muito perigoso, então para se arriscar somente em casos de extrema necessidade ou por peregrinação a Terra Santa. As ruas e avenidas foram abandonadas pelo perigo de ataques, nas poucas que se mantiveram em uso as carroças vazias deviam dar preferências as cheias. O principal meio de locomoção da época eram os rios que chegavam a possuir pedágios sobre as embarcações.


Cultura, educação:
A língua romana, o latim, era utilizada por toda a Europa. Ler, escrever e estudar era pra poucos, só para os religiosos. Estes clérigos decidiram parar de colar os papiros uns aos outros em grandes tiras segundo o modelo egípcio para costurá-los em um bloco, assim surge o livro no formato que conhecemos hoje. Por ser de origem vegetal e se desgastarem muito rápido os papiros foram substituídos por pergaminhos de couro animal. Enquanto isso no oriente os árabes traduziam as obras clássicas de fundo cientifico produzidas nas antigas Grécia e Roma. A infância era restrita até os sete anos de idade, como não haviam escolas publicas, dali pra frente os filhos de camponeses trabalhavam feito adultos, as meninas ficavam com os serviços domésticos e os meninos com os da lavoura. Quando sua família possuía condições de pagar os rapazes poderiam seguir carreira eclesiástica ou cavaleira. Com o passar do tempo os reis passam a financiar estudos em busca de pessoas especializadas para servir ao seu Estado, surgindo então, no século XII as primeiras universidades do mundo, cada uma especializada em um curso, as ciências praticas como o direito se difundem, já as naturais era consideradas demoníacas e seus seguidores eram perseguidos pela igreja.

Moradia, entretenimento, medicina, justiça:
As casas populares eram construídas com lama, tijolos ou no maximo madeira, os castelos eram todos feito em rochas assim como as igrejas, já que pretendiam impressionar os olhos camponeses. Nas igrejas e livros a pintura era fundamental perante esta sociedade majoritariamente iletrada. Os vitrais e desenhos levavam a mensagem bíblica ao povo. Na musica os instrumentos eram de corda, sopro e percussão; as melodias falavam do amor ideal, da valentia cavalheiresca e do louvor a Deus, por não possuir notas mudavam constantemente. A medicina era exercida pelos monges que dentro de 7 ou 8 anos eram sagrados doutores, mas eram casos bastante isolados. Geralmente quando desencadeavam doenças fatais como a peste os nobres e clérigos fugiam da região. A justiça ficava a cargo da Igreja; até o século XII acusado e acusador empunham suas versões do fato aos clérigos que a seguir aplicavam provas de resistência, os vitoriosos eram considerados os verdadeiros, pois Deus havia lhe dado forças pra resistir. Após ser condenado o criminoso deveria pagar por seu alojamento na prisão. Os castigos a um pecador eram comuns, as mutilações banais e sua morte era festejada com dança.

Cavaleiros:
Tornar-se cavaleiro era o sonho de muitos garotos da época, mas isso custava caro, o equivalente a cinqüenta vacas, alem de que o preparo devia iniciar na infância. Aos sete anos o menino era sagrado pajem do príncipe, aos quatorze escudeiro do cavaleiro e enfim, aos vinte e um, um autentico cavaleiro. Pertencer a cavalaria implicava em responsabilidades frente a comunidade como respeito ao senhor feudal, cortesias as damas e obrigações com a Igreja (acrescidas a partir do século X). Os cavaleiros surgiram na antiguidade, mas a invenção medieval do estribo fez com que essa classe ganhasse importância social. É fato que muitos deles usaram de seu poder para praticar atos inglórios como assaltos e assassinatos ao invés de usar seu aprendizado nos torneios. Para se inscrever nestes eventos era necessário provar a legitimidade de seu brasão e pagar um alto valor, nessas ocasiões os nobres exibiam suas roupas e jóias, caso vencesse o cavaleiro recebia prêmios que variavam entre o beijo de uma das damas da alta sociedade e um dote valioso. Entre seus pertences figuravam uma espada, uma adaga por volta de 40cm, uma lança com dimensão entre 3 ou 4m, um elmo e um escudo, além de sua armadura que pesava em torno de 30kg. Importante ressaltar os registros de mulheres membros da cavalaria, não tão comuns, mas dignos de nota.

Religião:
A igreja católica figura como única religião aceita na Europa medieval, por isso muito rica e temida. Abadias e mosteiros “brotavam” do solo. Homens e mais tarde também mulheres viviam sobre a orientação de algum abade ou abadessa. Os filhos mais novos de nobres e reis eram enviados as igrejas ingressando forçadamente na vida eclesiástica com o propósito de rezar em nome de sua família. Para a segurança das freiras os conventos eram erguidos bem próximo ao povo, já os mosteiros apresentam a característica de serem bastante isolados. Estes órgãos da igreja se mantinham através de doações e também pelo arrendamento de suas terras. Por volta do século XI a ameça muçulmana sobre o domínio de Jerusalém levou os católicos a criarem sua própria ordem de cavaleiros enviados às Cruzadas para defender a Terra Santa e proteger a travessia dos peregrinos cristãos. Nas proximidades das igrejas eram estritamente proibidos qualquer embate armado, todas as sextas, sábados, domingos e períodos de quaresma eram santos e por isso as lutas eram interrompidas em respeito a religião.

É imprescindível encerrar este texto alertando para o risco de cairmos em uma interpretação tradicionalista deste vasto período histórico, o maior de todos aqueles que nos foi imposto pela divisão eurocentrica de nossa História oficial. Chega a ser ridículo afirmar que em mil anos de historia a sociedade medieval não tenha deixado um legado produtivo de feitos humanos. Datam desta época a invenção de bens essenciais ao mundo contemporâneo como a pólvora, os óculos de visão, os bancos monetários e as universidades entre outros tão memoráveis como estes. Encerro o ensaio deixando a dica de leitura desta obra lembrando que pode ser encontrada a baixo custo em vários pontos de venda dos Livros Escala, incluindo supermercados, padarias e lojas de artigos importados.

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