(Imagem do continente africano. Fonte desconhecida.) |
O
continente africano foi alvo de esquecimento proposital durante décadas. A
chamada História Tradicional não percebia utilidade alguma em discursar sobre
as terras ou personagens africanos. Tudo isso por considerar historicamente
útil somente os acontecimentos e personalidades europeias. Felizmente o olhar
historiográfico sofreu uma ampliação drástica no século XX com a criação da
Escola dos Annales. Os fundadores da instituição Lucien Febvre e Marc Bloch
foram responsáveis por trazer para o campo de estudo da História algumas
novidades. A principal delas foi o interesse sobre a micro-história, ou seja,
pelos pequenos fatos e personagens.
A
História começou a dialogar com outras ciências, uma delas foi a Antropologia
que revelou verdadeiras facetas sobre a África. Graças às pesquisas no solo
africano foi possível descobrir que os ancestrais humanos mais antigos viveram
naquela região e mesmo assim o grande continente continuou sendo visto com
menosprezo pelo mundo afora, como ainda é nos dias de hoje. O preconceito é
tamanho que muitos europeus defendem que o Egito pertence á Europa devido sua riqueza
e prosperidade. Alguns historiadores afirmam que as terras africanas devem ser
entendidas como duas partes completamente diferentes, a África Mediterrânica e
a África Subsaariana.
Os
historiadores adeptos dessa ideologia utilizam a geografia para justificar a
divisão continental. Para eles o deserto do Saara provocou um afastamento
físico entre as populações do norte e do sul que acabou resultando em
cotidianos tão diversos a ponto de produzir dois contextos culturais
completamente alheios. Dessa maneira seria impossível falar em uma África, pois
a realidade e história são completamente diversas. Logo seria mais adequado
separar as sociedades em África Mediterrânica (ao norte do Saara, em contato
com os povos do Mediterrâneo) e África Subsaariana (ao sul do Saara,
completamente subdividida em pequenas culturas).
Outros
dois argumentos para justificar a existência das “duas Áfricas” são: a grande
quantidade de cataratas ao longo do rio Nilo que inviabilizaram a navegação que
poderia ter estreitado os laços entre o norte e o sul africano e também a
presença da escrita somente no norte que comprovaria a superioridade de seus
habitantes. Entretanto, o número de historiadores que discorda completamente
sobre as “duas Áfricas” vem crescendo rapidamente na atualidade. Eles vêm
defendendo a integridade da África por alguns motivos, entre eles o próprio
Saara. Como?
Os
defensores da África como um único continente alegam que o deserto saariano nem
sempre foi tão seco e árido, logo, há milhares de anos atrás, o ser humano que
ainda estava em evolução conseguia atravessá-lo sem grandes dificuldades. Outro
argumento é de que as cataratas do rio Nilo dificultaram a navegação sim, porém
nunca a tornou impossível, tanto que foram encontrados no norte objetos
produzidos no sul, e vice e versa. Outra refutação é a de que as diferenças
culturais entre o sul e o norte não evitaram seu contato, caso contrário, o
norte também não poderia ter comercializado com o Mediterrâneo.
Seria
inocência negar o fato de que o norte africano manteve uma ligação muito maior
com os povos mediterrâneos do que com o sul africano. Entretanto defender essa
cisão entre as duas partes africanas, para mim, é um grande exagero. Quem sabe seja
até um belo golpe para se apropriar das riquezas incontestáveis da “África
Mediterrânica”. Afinal, não é novidade alguma que desde os tempos do engenhoso
Napoleão Bonaparte os artefatos históricos egípcios vêm sendo desviados para os
museus europeus. Acha isso muito antigo? Então vamos falar sobre os Estados Unidos
da América, outro campeão de exibicionismo museológico africano.
A
África é uma só. Uma linda, plena e injustiçada terra. Um solo de abusos
incontestáveis. O “berço da humanidade” merece muito mais respeito do que tem
recebido até os dias de hoje. E sabem por que o povo não reconhece a grandiosidade
daquela população de onde todos nós viemos? Porque a educação pública não
permite tamanho senso crítico. Nossos jovens não deixam os bancos escolares
lembrando de que os esqueletos encontrados comprovam que o ser humano veio de
lá, surgiu lá, evoluiu lá, todos somos aquilo lá. É obvio, no fundo todos: somos
um só, uma só raça, uma só evolução. E os pobres de espírito ainda enchem a
boca pra criticar a raça negra. Mera ignorância, quanto lamento sinto pela existência
de tais pessoas.
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