Nascida em 2 de novembro de 1755, a princesa austríaca
Maria Antônia Josefa Johanna von Habsburg-Lothringen ficou conhecida
mundialmente como Maria Antonieta, a última rainha da França. Sua pele branca,
sua boca carnuda, seus cabelos louros e seus olhos azuis se tornavam ainda mais
encantadores durante seu caminhar delicado e seus passos de dança elegantes.
Segundo relatos até mesmo Mozart teria se apaixonado
por Maria Antonieta e lhe dito que casaria com ela quando fossem adultos. Na
época o compositor estava com apenas sete anos de idade e teria se
impressionado com a bondade da menina que o ajudou a levantar após uma queda no
palácio de Viena contemplando-o com um beijo na bochecha como despedida.
Educada como a filha caçula entre 15 irmãos, a pequena
desfrutava de uma vida alegre e religiosa em seu país sem imaginar o quanto seu
cotidiano seria alterado em abril de 1770 quando sua mãe resolveu casá-la com
Luis XVI, o príncipe herdeiro do trono francês.
A cerimônia foi realizada por procuração numa igreja de Viena e serviria
como um importante arranjo político que traria maior tranquilidade aos austríacos.
A jovem de apenas 14 anos de idade não imaginava que
estava sendo condenada a uma vida monótona e repleta de rituais cansativos. Por
exigência de sua nova pátria, ao chegar à fronteira com a França, Maria
Antonieta foi obrigada a deixar para trás tudo o que tivesse alguma relação com
a Áustria. Não apenas seu enxoval e suas damas de companhia, mas até as roupas
que usava. Maria Antonieta despiu-se e recebeu um vestido dourado para
continuar a viagem.
Ao chegar à sua nova residência, o grandioso Palácio
de Versalhes, Maria Antonieta ficou encantada com a beleza do lugar. Porém,
logo percebeu que em seus 700 quartos dormiam mais de 3.000 nobres desconhecidos
que fariam parte de seu dia-a-dia e, a maioria deles, não disfarçava a repulsa
por sua origem austríaca. Segundo relatos, seu sogro Luis XV era quem mais agradava
e convivia com Maria porque rapidamente se encantou por sua alegria e beleza.
As complicadas regras de etiqueta francesas rapidamente
começaram a irritá-la. Sua privacidade era praticamente inexistente, até para
lavar as mãos após o almoço era necessário ser observada pelos membros da
corte. Entre todos os costumes franceses, o que mais irritava Maria Antonieta
era o fato dos nobres terem amantes “oficiais”, como seu sogro, Luís XV, que,
viúvo, levava às festas da realeza a ex-prostituta Madame du Barry.
Os apertados espartilhos franceses a incomodavam,
sobre tudo porque gostava de sentar no chão para brincar com os filhos dos
criados. Essa simplicidade incomodava a corte francesa que elegeu a madame de
Noailles como cuidadora da jovem princesa para vigiá-la e mantê-la dentro das
regras de etiqueta. Não demorou muito para que Maria Antonieta começasse a
reclamar de sua rotina sem graça.
Em 10 de maio de 1774 o rei Luis XV faleceu, assim
Luis XVI assumiu o trono transformando Maria Antonieta em rainha. Seu novo
título lhe concedeu uma relativa liberdade que desfrutou dispensando boa parte
das antigas damas de companhia, povoando a corte de gente jovem e fugindo para
Paris durante as noites para frequentar bailes de máscaras, peças de teatro,
óperas e apresentações de dança.
Como ela gostava de jogar cartas, Luís XVI instalou um
cassino particular em Versalhes, na estreia da nova atração a rainha jogou
durante 36 horas seguidas e perdeu uma boa quantia de dinheiro dos cofres da
coroa, mas nada comparável ao que ela gastava para aumentar sua coleção de
diamantes ou comprar aproximadamente 170 vestidos por ano.
Tempos depois seu marido a presenteou com o charmoso
palácio do Petit Trianon que se tornou o verdadeiro paraíso para Maria
Antonieta. Ela mandou instalar um inovador sistema de espelhos automáticos que
cobriam as janelas, ordenou as construções de um terraço, um templo, um teatro
e uma pequena fazenda.
No Trianon Maria recebia seu cabeleireiro e sua modista
três vezes por semana, oferecia festas a fantasia aonde brincava de criada e abrigava
seus melhores amigos. O povo francês não apreciava a intensa convivência da
rainha com sua melhor amiga, Polaigne, e com um conde sueco chamado Axel Fersen.
Assim surgiram boatos de que ela mantinha casos amorosos com eles.
Maria
Antonieta usava a moda como uma forma de aumentar e sustentar sua autoridade em
momentos de críticas sérias como essas. Por meio de novas roupas, sapatos e
penteados, a rainha se impôs, colocando-se acima de qualquer mulher francesa. Por
gastar tanto com seu visual, em pouco tempo, foi apelidada de Madame Déficit e
se tornou alvo de caricaturas vendidas nas ruas.
Seu
exibicionismo foi uma atitude inédita para uma rainha. Antes dela, as soberanas
francesas tinham de apresentar uma imagem dócil e viver discretamente. Quem
tentava se envolver em política e exibir seu poder por meio de roupas luxuosas
eram as amantes dos reis. Mas a futilidade da rainha não era o que mais preocupava
seus súditos, o que realmente os preocupava era o fato dela não engravidar.
Um herdeiro
para o trono francês era fundamental para agradar a população, tanto que o
irmão da monarca, Joseph, foi até Versalhes para visitá-la e saber o porquê da demora
em gerar filhos, o que aconteceu somente sete anos após o casamento. Quando teve os últimos dois filhos, um menino e uma
menina, ela se recusou a dar à luz em público, quebrando a tradição da corte
francesa.
Maria Antonieta parecia viciada em provocar sua
própria impopularidade. Ela substituiu o tradicional espartilho francês por
cestos de palha cobertos por anáguas, chocou a corte e os plebeus ao
cavalgar pelos campos, organizar corridas de
cavalo e se divertir em passeios de
carruagem a toda velocidade. Além de praticar todas essas atividades
tipicamente masculinas, ela ainda começou a usar calças durante os
esportes.
Os gastos de
Maria com seus pequenos caprichos não tinham limites, somente o seu enxoval
custou entre 18.000.000 e 26.000.000 de reais. Para guardar suas roupas eram
necessários 3 quartos em Versalhes. E, enquanto a rainha gastava tanto, o povo vivia
a maior crise financeira da história francesa.
Maria
Antonieta sabia muito pouco sobre os problemas que começavam a se tornar
insuportáveis para a população humilde. O inverno rigoroso destruiu as
plantações e as pessoas começaram a se atacar nas ruas por um único pão. Esse
produto, que era a base da alimentação francesa, chegou a custar o preço de um
salário comum na época.
Muitas pessoas acusaram Maria Antonieta de ser
negligente com seus súditos, mas a verdade é que Luis XVI não a deixava meter a
colher na política e preferia mantê-la de fora dos problemas sociais que
surgiam. Tanto que em 1784, durante a grande Revolução Francesa, o rei ofereceu
mais dois palácios de presente a sua esposa, nem ele mesmo tinha ideia do que
ocorreria com eles em breve.
O povo estava determinado a retirar Luis XVI do poder da França por sua falta de habilidade política e os altos impostos que cobrava somente da
classe mais baixa do país. Maria Antonieta era o maior símbolo dos privilégios da
nobreza, por isso foi atacada pelas peixeiras que invadiram o palácio de
Versalhes determinadas a matá-la, mas optaram por levá-la como prisioneira até
Paris.
Uma das melhores amigas da rainha não teve a mesma
sorte, a princesa de Lamballe. Ela foi linchada pela multidão enfurecida e sua
cabeça foi enfiada na ponta de um pedaço de pau e levada até a janela da cela
de Maria, que entrou em pânico e desmaiou. Maria Antonieta até manobrou nos
bastidores da revolução para que seus parentes austríacos atacassem a França e
salvassem a vida de sua família, mas isso não foi possível.
Seu único
filho homem foi arrancado de seus braços e doado a uma família que o matou com maus
tratos. Em 16 de outubro de 1793, com 37 anos de idade, Maria Antonieta foi
condenada a morte na guilhotina. Relatos afirmam que ela não chorou nem se espantou
com sua pena. Pelo contrário, encarou o caminho até seu carrasco em silêncio
após se defender inutilmente de maneira forte e inteligente no tribunal.
Ao
fim desse texto é impossível não nos questionarmos: será que Maria Antonieta
foi apenas uma rainha esnobe como costumamos ver nos filmes? Ou será que ela
foi simplesmente uma monarca jovem e assustada que recorreu a compras excessivas
para se adaptar a uma vida triste e um país tão contrário a ela? Reflita um
pouco e construa sua opinião sobre essa personalidade tão famosa mundialmente,
até mais.
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