sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

"Independência ou Morte!"

("Independência ou Morte" ou "O grito do Ipiranga" de Pedro Américo, 1888)

O famoso grito proferido por Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga foi eternizado na memória nacional através do famoso quadro de Pedro Américo intitulado "Independência ou Morte". A imagem apresenta a proclamação da independência do Brasil de maneira heroica e grandiosa, no entanto, esse acontecimento se deu no ano de 1822, enquanto que o quadro foi confeccionado somente em 1888. Será que a tela realmente expressa o fato com fidelidade?

Os relatos de alguns acompanhantes do imperador mostram que não. As descrições feitas por esses homens revelam que a montaria utilizada pelo monarca nem de longe se assemelhava ao belo alazão pintado por Américo, na realidade era uma simples mula, o único animal que suportava aquele trajeto íngreme. E quando Dom Pedro menciona sua mais famosa frase: independência ou morte, ele não estava desembanhando sua espada com altivez às margens do Ipiranga.

Nesse momento o proclamador da república estava aproximadamente a 400 metros de distância do famoso rio, que, aliás, não possuía águas límpidas e azuis como retratadas na tela, mas sim vermelhas e enlameadas. Além de que sua postura não poderia ser das mais elegantes uma vez que vinha sofrendo com fortes dores intestinais desde que acordara. Essas informações foram retiradas de documentos escritos pelo padre Belchior, o alferes Canto e Melo e o coronel Marcondes, amigos do príncipe regente presentes nessa ocasião.

A guarda de honra que acompanhava o futuro imperador do Brasil também não poderia estar vestindo tales trajes, uma vez que o uniforme militar ilustrado na pintura foi criado somente anos mais tarde para designar os Dragões da Independência, os mesmos que fazem a guarda do presidente da república até hoje. Além destas controvérsias ainda há a extrema semelhança da obra com um quadro confeccionado treze anos antes para celebrar uma famosa vitória de Napoleão Bonaparte, indicando uma cópia quase idêntica, observe:

(1807, Friedland, de Jean-Louis Ernest Meissonier, 1875)

Isso quer dizer que o célebre pintor enganou seu público? Não, ele simplesmente estava cumprindo sua função que era registrar uma cena importantíssima para a nação de forma a engrandecê-la. Era seu dever, através daquela tela, reportar os brasileiros a um momento sublime de nossa história. Fazia-se necessário construir um passado nacional do qual se orgulhar, até então não passávamos de mera colônia a ser explorada por Portugal, a partir desta data precisávamos nos enxergar enquanto uma nação.

Nação forte, sólida, capaz de seguir com suas próprias “pernas”. O apoio da sociedade era fundamental e sem dúvida alguma a pintura era mais impactante do que a realidade, que cá entre nós, era um tanto cômica, diga-se de passagem. Caso tenha gostado do assunto e queira se informar melhor leia o livro 1822 do jornalista Laurentino Gomes, uma leitura leve repleta de conhecimento e curiosidades, você não irá se arrepender. Até mais.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito boom Jana.Parabéns mesmo =D
Tay

Anônimo disse...

Prometo tentar esquecer aquela visão leiga do D. Pedro I empunhando a espada. Realmente é isso que sempre vem a memória quando o assunto é Independência. Parabéns pelo texto.
Charles