segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Visões acerca de um fato: o olhar dominado e o dominador

Este novo imperialismo europeu imposto pelos belgas sobre o povo do congo decorre da Revolução Industrial por isso ambicionava a extração de matérias primas e a dominação do mercado consumidor, além de significar maior contingente para os exércitos reais e canal de desembarque para os excessos populacionais de uma Europa em constante crescimento populacional. A ambição chegava a tal ponto que o rei Leopoldo II da Bélgica manteve o Congo africano como uma propriedade particular por treze anos, no período entre 1885 e 1908, quando vendeu suas terras à Nação tornando-as finalmente uma colônia chamada: Congo Belga.

[...] o livro “O Fantasma do Rei Leopoldo”, de Adam Hochschild (Companhia das Letras, 1999), relata minuciosamente os passos do processo, [...] o Congo Belga constituindo o paradigma da monstruosidade que foi a ocupação européia. O nazismo ali tinha muito a aprender. Começou por convocar em 1876 a Conferência Geográfica, com 24 líderes de outras nações, exploradores estrangeiros e 13 belgas, todos recebidos nababescamente e hospedados pelo próprio rei no Palácio Real, em Bruxelas. O único ausente era o mais famoso de todos, Stanley, que há vários meses desaparecera no ermo africano sem deixar rastro. Leopoldo pediu o auxílio dos presentes para sua obra: o estabelecimento de uma cadeia de postos “hospitalares, científicos e pacificadores” nas vastidões ignotas da África Central, tendo por objetivo ostensivo abolir o tráfico de escravos. E aproveitou o ensejo para obter a anuência de todos os presentes para a fundação da Associação Internacional Africana, ele mesmo sendo eleito presidente por aclamação. O destino do novo organismo é o que se veria subseqüentemente: desativado em silêncio, surgiria em seu lugar, com nome quase igual para ninguém perceber a diferença, a Associação Internacional do Congo, empresa privada de Leopoldo. No ano seguinte, o explorador Stanley ressurge, tendo ido e voltado ao longo do curso do rio Congo desde o Oceano Atlântico até o Índico, percorrendo 11 mil km em dois anos e meio. Desbravara a bacia do grande rio e mapeara seu curso, pela primeira vez. O que o ardiloso rei Leopoldo percebera através de Stanley é que o rio Congo, um dos maiores do mundo, formava com seus afluentes uma enorme rede natural de comércio colonial, ou seja, de penetração mercantil e de escoamento de matéria-prima. Como se viria a concretizar, o território de 3,3 milhões de km equivalia ao tamanho de 75 Bélgicas, ou pouco mais que uma Índia. Tudo isso seria, mediante uma estratégia militar e ideológica de uma inteligência perversa mas rara, açambarcado por Leopoldo como sua propriedade pessoal e privada. A certa altura, através de Stanley, o rei tinha fechado tratados de aliança com 450 régulos africanos da região, pagando a um jurista de Oxford para redigir os contratos em termos impecavelmente legais. Os régulos, que não sabiam ler e assinavam com um X, cediam-lhe em caráter perpétuo a posse da terra e seus bens, bem como direitos sobre caça, pesca, minérios, produtos florestais e mais o trabalho que fosse requisitado. E aqui está a chave para a escravização que se verificou. Em troca, os chefes recebiam, nos termos escritos de próprio punho por Stanley, “tecidos finos, paletós de librés, fardas com alamares vistosos (...), sem esquecer algumas garrafas de gim”. (GALVÃO, Walnice Nogueira. Para não esquecer o rei Leopoldo. 2007. Disponível em:  Acesso em: 04 nov. 2010.)

O trecho do ensaio do livro de Galvão, acima, reflete uma visão acerca dos acontecimentos oriunda do olhar do dominado, repleta de ironias sobre o caráter do rei belga, Leopoldo I. O inquestionável em toda e qualquer situação de dominação é esta postura de duas percepções totalmente antagônicas a respeito de um mesmo fato, afinal para algo como o Imperialismo ser fixado os direitos de alguns terão de ser violados, desrespeitados. No caso da dominação do congo não seria diferente. Sendo assim a citação de nossa professora, Eliza, demonstra dois olhares, a do dominado e a do dominador, no mesmo instante em que lemos podemos perceber que são completamente antagônicas. O dominador se declara herói, salvador, digno de aclamações por seus feitos, enquanto que o dominado se mostra inquieto, alvo de ganâncias, descaradamente explorado. Analisar as duas concepções é fundamental ao oficio do professor, só assim teremos acesso a todo o contexto histórico envolto nesse momento. Levar ambas as opiniões a sala de aula ajuda a formar cidadãos críticos, dotados de auto-censo, capazes de construir seu próprio entendimento sobre o assunto, olhando o mundo com seus próprios olhos.

Os impactos das Revoluções Francesa e Industrial de fins do século XVIII

Juntas, a Revolução Francesa e a Industrial, ambas ocorridas na transição do século XVIII para o XIX, foram responsáveis pela transformação radical do meio social europeu, considerado até então modelo sócio-econômico de desenvolvimento nacional. Desta forma, os reflexos das duas revoluções em questão, vão aos poucos se espalhando pelo mundo, contornando o globo, modificando todo o cenário mundial, moldando assim, o modelo capitalista vivenciado por nossa sociedade nos dias de hoje que caracteriza o mundo contemporâneo. Vejamos com mais detalhes como isso ocorreu:

No dia 05 de maio de 1789 eclodiu em Paris a insatisfação do terceiro estado com a monarquia vigente, através deste golpe proferido por trabalhadores e burguesia, esta última classe pode ascender nas cadeiras administrativas, até então restritas aos membros reais das famílias de sangue azul. Este movimento conhecido como Revolução Francesa trouxe à tona o princípio de Igualdade, Liberdade e Fraternidade demonstrando ao mundo que os homens são absolutamente iguais em direito e deveres, o que hoje nos parece tão corriqueiramente óbvio resultou de uma longa jornada de bravos homens em busca do mínimo de reconhecimento se opondo ao autoritarismo das grandes coroas européias, estabelecendo, desta forma, as bases do Direito atual, espalhando no continente uma onda de pavor entre a nobreza e um sopro de esperança entre as sociedades de todo o mundo.

Também em fins do XVIII eclode um outro movimento, desta vez na Inglaterra, uma potência com capital disponível, posição geográfica favorável e disponibilidade de energias de combustão, a popular Revolução Industrial que quebrou definitivamente com o modelo produtivo manufatureiro e instaurou a possibilidade da produção em massa. Este processo deslocou milhares de homens do campo, vítimas da perda de emprego para as máquinas, para os grandes centros industriais, onde boa parte deles acabou formando as legiões de desempregados, pedintes, prostitutas, catadores de lixo, entre outras situações degradantes em meio a poluição ambiental que crescia com força máxima aos arredores das pequenas e médias indústrias à vapor assim como proliferavam feito pragas os cortiços e instalações miseráveis dos trabalhadores amplamente explorados, mal pagos e maltratados. Em contraponto as cidades eram estrategicamente elaboradas visando seduzir os olhos do público comprador e abrigar luxuosamente os ricos membros desta sociedade, os emergentes industriais britânicos. Foi desta forma que as bases do capitalismo moderno se constituíram, baseadas na corrente do "laissez-faire, laissez-passer": deixai fazer, deixai passar, a crença de que a livre concorrência do mercado levaria a baixa dos produtos e um conseqüente aumento na qualidade de vida, mas não foi o que aconteceu, muito pelo contrário. Pela primeira vez na história o ser humano não dependia do sucesso da colheita pra se alimentar, mas sim do uso estratégico do parco salário mensal, também pela primeira vez  a natureza foi amplamente modificada, não só pelas derrubadas de matas para futuras construções, mas também pela presença da poluição do ar, visual e sonora, pela primeira vez pode ser utilizado o conceito de pobreza em seu sentido epistemológico, pela primeira vez avistamos o contraditório e ganancioso mundo contemporâneo que hoje, infelizmente, não causa mais espanto à ninguém, e do qual, ridiculamente, não há previsão para saída.

O processo de industrialização em Santa Catarina: Schumpeterianos X Periféricos

A interpretação Schumpeteriana do processo de industrialização catarinense: é baseada na concepção do economista austro-húngaro Joseph Alois Schumpeter. Em sua opinião a indústria de Santa Catarina só ocorreu devido ao empreendedorismo dos europeus recém chegados aqui, vindos de uma Europa em pleno processo de industrialização, estavam habituados a investir em poupança e trabalhar com disciplina e entusiasmo, os quais Joseph chamou de: capitalistas sem capital. Os autores schumpeterianos relacionam o desenvolvimento econômico catarinense desvinculado do restante do país, de forma isolada, através do acumulo de capital oriundo dos excedentes da produção de cada região autônoma e especializada em algum produto, excedentes esses escoados pelo sistema dos vendeiros, admitem uma certa participação do sudeste neste processo como nossos importadores, mas não o vêem como o único determinante. Logo, segundo esta teoria, o que permitiu nossa industrialização seria o acumulo de capital pelos imigrantes europeus, que aqui tornaram-se produtores rurais, obtiveram excedentes, venderam-nos por meio dos vendeiros no mercado local e adquiriram certo montante financeiro empregado mais tarde no meio industrial.

A interpretação periférica do processo de industrialização catarinense: surgiu de Fernando Henrique Cardoso e Celso Furtado. Ambos adaptam a teoria cepalina ao contexto regional e desta forma acabam por idealizar o estado de Santa Catarina como a periferia do sudeste brasileiro tendo sua economia voltada ao sustento das grandes cidades, sobretudo São Paulo. Logo, segundo esta teoria, o que permitiu nossa industrialização seria o acumulo de capital dos produtores locais através da exportação às áreas dinâmicas do país, figuravam entre os produtos: certas madeiras, a erva mate, o carvão e gêneros alimentícios, excedentes vendidos com o auxilio dos vendeiros no mercado cafeeiro do sudeste.

Torna-se importante salientar o ponto de comum acordo entre os autores schumpeterianos e periféricos que é a admissão dos vendeiros como forma de escoar os excedentes de produção catarinense, embora que os schumpeterianos percebam o vendeiro como um empreendedor, enquanto que os periféricos o vejam como um explorador.

A Capitania de Santa Catarina e sua função militar-estratégica inicial



A Capitania de Santa Catarina foi criada no ano de 1738, conforme orientação da Coroa portuguesa, subordinada a Capitania do Rio de Janeiro. Seu primeiro governador foi um engenheiro militar chamado Silva Paes. Paes tinha como objetivo principal fortalecer e colonizar essas terras devido sua importância geopolítica, pois era fundamental para alcançar as riquezas do Rio do Prata espanhol via Colônia do Sacramento e também para obter o gado rio-grandense via Laguna; esses dois desejos, o primeiro oficial e o segundo privado, necessitavam do apoio militar que as terras catarinenses ofereciam, sobretudo a Ilha de Florianópolis, isso porque a Serra do Mar nessa região apresenta características próprias, terminando em faixas de terra muito propícias ao porto de embarcações.

Paes iniciou seus projetos construindo três fortificações na Ilha: de Anhatomirim, José da Ponta Grossa e de Santo Antônio de Ratones às quais mais tarde acrescentaram-se as: de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba, de Santana e de Santa Bárbara, juntos estes 6 fortes mantinham militarmente o domínio português sobre a Colônia do Sacramento e o território lagunense por onde o gado sulino alcançava as minas de ouro do Sertão do Cuieté.

A ocupação efetiva das terras garantiria de vez a posse deste território contestado por portugueses e espanhóis, desta forma a coroa lusitana a partir do ano de 1746 incentiva a vinda de casais camponeses da Ilha de Açores ofertando uma série de vantagens para os que aceitassem a proposta de viver no sul brasileiro, os açorianos foram a base da discussão do Tratado de Madri em 1750.

Santa Catarina, como visto, se voltava a proteção do território, por isso, abrigava um contingente enorme de oficiais ociosos que dependiam da agricultura da região, em colapso à época, os açorianos vieram suprir essa necessidade de produção de alimentos. Além desta produção de subsistência, a partir do ano de 1742, foram criados diversos estabelecimentos de caça e extração de óleo de baleias visando amenizar os investimentos militares das fortificações. Desta forma a economia catarinense não passava de uma questão de subsistência apresentando relações de escambo, uma vez que as únicas riquezas daqui extraídas vinham dos baleeiros e seguiam diretamente para as mãos dos portugueses arrematadores e os impostos destas pertenciam ao Rio de Janeiro.

Durante anos a situação se manteve assim, somente com a independência do Prata (e a conseqüente criação do Uruguai em 1828) nossa Capitania se viu livre do sustento de milhares de militares, passando a produzir excedentes tanto na agricultura quanto na pesca que foi liberada ao povo com a decadência dos baleeiros monopolistas. Pela primeira vez na história catarinense foi possível desenvolver uma economia própria, que, seguindo o trajeto histórico, acabou sendo a exploração da natureza local, desenvolvendo um centro comercial forte voltado a exportação de alimentos.

O populismo e o levante ditatorial

Considerando os últimos três governos de nosso país que antecederam a ditadura - gerada pelo golpe militar de 01 de abril de 1964 - é possível observar a tendência dos presidentes aos discursos populistas.

Para esclarecer: estes discursos são caracterizados por uma arte teatral dos governantes dirigida a classe trabalhadora onde o povo é exaltado diversas vezes com um apelo sentimental, é o uso da oratória em busca de apoio no momento da eleição. No Brasil a arte do populismo surge com a ascensão de Getúlio Vargas ao presidencialismo no ano de 1930 e ganha força com a ascensão dos meios de comunicação em massa, sobretudo o rádio.

Voltando a nossa discussão: os últimos três governos brasileiros antes da ditadura foram os de Juscelino Kubitcshek (1956-1960), Jânio Quadros (1960 - 1961) e João Goulart (1961-1964), todos eles apresentavam características populistas muito embora em proporções diferentes. JK era um populista um pouco mais controlado, com discursos mais discretos, Jango por sua vez era um pouco mais exaltado chegando a utilizar o termo "povo" em 60 minutos de discurso até 59 vezes como demonstra o artigo de Marcelo Parker intitulado Jango: O populismo em crise e o discurso de 13 de março, mas o grande protagonista da arte popular exagerada foi sem dúvida alguma Jânio Quadros. A mente de Quadros era demasiada criativa por exemplo:

as atitudes teatrais eram usadas politicamente por Jânio antes mesmo de chegar à presidência. Em comícios, ele jogava pó sobre os ombros para simular caspa, de modo a parecer um "homem do povo". Também tirava do bolso sanduíches de mortadela e os comia em público. No poder, proibiu as brigas de galo e o uso de lança-perfume, criando polêmicas com questões menores, que o mantinham sempre em evidência, como um presidente preocupado com o dia-a-dia do brasileiro.

Estes três governos decorreram em erros político-administrativas que levaram os militares a estreitarem laços e encontrar um meio de subir ao poder. Os erros de Juscelino levaram a uma série crise econômica decorrente, sobretudo, da abertura do país à instalação de multinacionais estrangeiras que os outros dois presidentes não conseguiram controlar, mas as principais brechas para a implementação ditatorial foram deixadas sobretudo por Jânio e João Goulart, ambos caíram numa situação grave, aproximaram-se dos países de governo de esquerda, os chamados comunistas. É neste momento que utilizando da força armada e da desculpa de uma possível instalação de governo vermelho no Brasil que os conservadores militares conquistam o auxílio das demais Forças Armadas e declaram o golpe colocando fim ao governo Jango, mas também à democracia em 01/04/1964.

Chegamos a um dos momentos mais difíceis enfrentados pela sociedade brasileira, a partir do golpe de 64 é instaurado no Brasil um governo forte, repressor da liberdade de expressão e de qualquer forma de contestação a sua maneira de governar, mas este é um assunto para um próximo debate.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"Milagre Brasileiro": às custas de quem?

A década de 60 foi marcada por uma série de revoluções em todo o mundo que pregavam maior liberdade aos indivíduos. Devido a presença dos militares no poder brasileiro tais revoluções praticamente não foram sentidas por grande maioria de nossa população. Nesse contexto o que ocorria no Brasil e chamava a atenção do povo era a expansão das grandes cidades e as oportunidades que vinham a oferecer, não só de trabalho, vale lembrar, mas também de entretenimento. Os trabalhadores rurais recebiam cartas de parentes anunciando a melhoria de uma vida urbana, deixando muitos interessados em partir rumo a estas oportunidades.

Os investimentos do governo na rede rodoviária facilitaram o acesso das populações do campo aos grandes núcleos centrais do país dando inicio a intensa faze do êxodo rural. Despreparadas estruturalmente para receber esse montante de pessoas, as cidades acabam formando grandes periferias: sujas, pobres e más vistas na sociedade.

O presidente Emilio Médici acaba por negar essa realidade partindo rumo ao Milagre Brasileiro fazendo vistas grossas às classes desfavorecidas. O plano era modernizar e enriquecer o país a qualquer custo, e assim foi. As multinacionais tomaram conta dos pólos industriais, os investidores nacionais não conseguiram competir com essas grandes empresas e dessa forma o plano correu errado. Em pouco tempo tínhamos provocado um dos maiores problemas sociais da história brasileira, a grande concentração de terras em poucas mãos, que decorre ainda hoje através das constantes propostas de reformas agrárias não efetivadas por nossos dirigentes políticos. E o Brasil assume sua postura definitiva de sociedade fragmentada entre detentores e não detentores do poder, diferentes classes se enfrentando diariamente sem qualquer previsão de igualdade econômica.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A Historiografia Contemporânea

Durante as décadas de 30 e 40 as contribuições de Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior renovam nossa historiografia. Era um período turbulento de grandes mudanças no cenário internacional, mas também nacional, onde nossos intelectuais buscavam um maior esclarecimento de nosso passado afim de entender o presente para projetar o futuro. Desta forma esses três historiadores acabam escrevendo obras revolucionárias, onde os sujeitos até então ocultos eclodem nas narrativas revelando um Brasil multicultural em sua essência. Embora as participações desses novos personagens tenha sido consideralvelmente tímidas, foram responsáveis por despertar o interesse de uma nova geração de escritores, mais críticos, visionários e acima de tudo preocupados com todo o contexto social não apenas com a história das elites e heróis nacionais como vinha ocorrendo até então.

Tanto a historiografia nacional quanto a catarinense seguiram o mesmo rumo desde sua formação até sua configuração atual. Ambas se apresentavam tradicionais com narrativas em torno da elite baseadas em documentos oficiais, até o momento em que é criada a Revista francesa: Annales em 1929 quando as minorias ganham espaço na História escrita. Depois os Institutos Históricos e Geográficos, tanto o brasileiro quanto o estadual, surgem com o intuito de organizar e sistematizar essas narrativas fundamentando a história de sua região, logo após, a disseminação dos cursos superiores provocam um leque ainda maior de escritores que "desenterram" mais sujeitos e novas fontes. Desta forma, pouco a pouco, a historiografia tradicional voltada aos feitos heróicos encontra uma nova história: simples e cotidiana composta pelos mais variados personagens assim como a conhecemos nos dias de hoje.

Conhecer as bases de nossa disciplina nos propicia uma preparação integral para o momento de reger uma classe de aula. É essencial conhecermos as raízes daquilo que iremos lecionar, desta forma possuíremos uma grande gama de interpretações, formas de considerá-la e transmiti-la. Ao término de nossa disciplina somos capazes de identificar todos os acontecimentos que influenciaram na formação da História como conhecemos atualmente e assim formarmos nossas próprias bases teóricas, nossas considerações, nossa própria maneira de ver os conteúdos e passá-los aos planos de aula e por fim nossa capacidade de remeter todas as vertentes sobre um mesmo tema mantendo a imparcialidade, fornecendo aos nossos alunos a oportunidade de pensar por sí próprios e formar o seu regime de verdades.

A industrialização e formação da sociedade brasileira


O contigente de trabalhadores brasileiros se intensificou por volta de 1850 numa sociedade repleta de injustiças. O cotidiano dos trabalhadores era desumano, sua jornada de trabalho alcançava 12 horas diárias, não havia descanso semanal, férias, direitos em caso de doenças ou acidentes. Para piorar ainda mais a situação em caso de erro os empregados eram punidos tanto verbal quanto fisicamente. Isto tudo ocorreu devido a falta de um regulamento que delimita-se os direitos e deveres existentes na relação proprietário-produtor. Esta situação de emprego rigoroso não era exclusividade urbana se estendo também pelo interior do país. Somava-se a este cotidiano caótico os baixos salários que lançavam o povo a uma vida de privações, vivendo em locais pobres de saneamento e urbanização.

Em poucas décadas os trabalhadores passaram a se organizar em grupos, buscando melhores condições criaram as Associações de ajuda mútua onde os próprios funcionários se auxiliavam em casos de desemprego, doença, acidente de trabalho, gravidez, morte entre outros acontecimentos. As greves causaram impacto no mundo capitalista e aos poucos as oligarquias perceberam que era preciso ceder um pouco para garantir o funcionamento de suas empresas.

Assim que Vargas chega ao poder no ano de 1930 ele faz uso de sua retórica para influenciar as grandes massas ganhando o seu apoio, é neste momento histórico que a classe trabalhadora vai conseguir progresso em busca de seus objetivos. Getúlio ficou conhecido como "Pai dos pobres" e não era pra menos, em poucos anos criou as Leis trabalhistas e o Ministério do Trabalho concedendo privilégios as pessoas menos favorecidas. Logicamente esses avanços não eram simples atos de benevolência, mas sim uma forma de fortalecer seu cargo político, e isto ele alcançou, conduziu o país à mãos de ferro, foi muito criticado por intelectuais e mídia, mesmo assim até os dias de hoje nenhum presidente alcançou tamanho carinho e admiração do povo brasileiro.

Siga em frente: é chegado o momento da República

Conforme nossos historiadores afirmam a República foi mesmo um longo processo pelo qual caminhou a sociedade brasileira, com o detalhe da exclusão do povo nesta nova formação política, assim como o fora no momento da Independência do país.


Podemos conceber este momento como um longo processo porque se originou aos poucos a partir do desgaste do sistema imperial.

As mudanças já haviam passado na área econômica: através do café como salvação nacional e na área social com a abolição da escravatura e imigração estrangeira. Contando estas alterações profundas no meio brasileiro logicamente seria necessário uma nova forma de governo para suprir o então "cambaleante" sistema de D. Pedro II.

Novamente a elite entra no jogo e decide os rumos nacionais, desta vez os militares possuíam vantagem pelo prestígio recém adquirido na Guerra do Paraguai e conseguem temporariamente um lugar no topo hierárquico. E através de um golpe militar conquistamos a tão desejada liberdade proporcionada pelo sistema republicano. "Liberdade"? Uma liberdade em termos literários que para o povo não mudou em nada a realidade que continuou sendo de privações e exclusão nas decisões políticas.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

1808 - Laurentino Gomes



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Após terminar a leitura desta obra decidi redigir um resumo de seus principais pontos e disponibilizar aos interessados. Há meu ver este é um grande projeto, riquíssimo em detalhes e relatos da época que nos mostram muito além da vinda da corte portuguesa para o Brasil, nos traz o cotidiano dos mais diversos personagens desde o mais humilde escravo até o nobre Dom João VI. É impossível conhecer este texto e não se apaixonar de imediato, ele é simples, esclarecedor, verdadeiro além de lindamente ilustrado. Espero que não se contentem ao ler meu humilde ensaio e leiam a obra por completo, afinal são quase 400 páginas de muita sabedoria histórica. Fica aqui minha dica de leitura.
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1808
Laurentino Gomes
A possibilidade de transferência da corte portuguesa para o Brasil já havia sido considerada várias vezes anteriormente devido a outros motivos.
Portugal era uma antiga potência, atrasada, caótica, extremamente religiosa, e carente de infra-estrutura básica, sequer havia criado cemitérios públicos. Sua frota marítima se encontrava em frangalhos, sua população era relativamente pequena, e agora servia somente como um entreposto comercial, pois as riquezas vindas de suas colônias tinham destino certo: as indústrias inglesas, e o pouco lucro que gerava eram abduzidos pelos exageros da corte.
O próprio príncipe, D. José que deveria assumir a coroa no lugar de sua mãe, D. Maria I, morreu de varíola aos 27 anos, pois a rainha o proibiu de tomar a vacina contra a doença. Esta é uma comprovação do quanto àquela população era carola, optando por morrer conforme a “vontade divina” a renderem-se as conquistas científicas. Não podemos esquecer que Portugal foi a última nação européia a abolir a Santa Inquisição.
Quando desobedece a imposição de Napoleão Bonaparte mantendo o comércio português com a Inglaterra, o príncipe regente D. João VI estabelece um jogo ilusório, tentando se manter imune entre as potências francesa e britânica. Mas não obtém sucesso. A marinha inglesa já aguardava no cais e caso a corte não embarcasse para as Américas sobre sua escolta tinha ordens para bombardear o país lusitano.
Ao embarcar no dia 29 de novembro de 1807 a corte segue para nosso país com a escolta da poderosa marinha britânica trazendo seus tesouros (inclusive o ouro empregado nas construções), líderes políticos, religiosos e também bens públicos como os da biblioteca nacional. A maioria dos exemplares acaba esquecida no porto de Lisboa devido à pressa do embarque já que as tropas de Napoleão estavam se aproximando, tropas estas que se encontravam famintas e em frangalhos e poderiam ser vencidas pelo exército português caso D. João resolvesse enfrentá-los.
Essa fuga é um fato inusitado na história, pois pela primeira vez em toda a História uma Corte iria colocar os pés em sua colônia.
A viagem se prolongou devido ao mau tempo e apesar da insistência D. João não aceitou viajar nos navios ingleses (modernos e confortáveis). A corte foi separada em diferentes naus para que, no caso de uma possível catástrofe, alguns membros reais sobrevivessem. Foi uma travessia muito cansativa, longa e repleta de adversidades como a falta de comida, de água, de conforto, e excesso de pragas como piolhos (que levaram a maioria das mulheres a rasparem seus cabelos). Durante uma tempestade os navios acabaram se dispersando na altura do continente africano e tiveram de seguir viagem separadamente.
No dia 22 de janeiro de 1808 a embarcação que trazia D. João abarcou no território baiano e não foi recepcionado como imaginava. Os motivos que levaram a essa escala de última hora em Salvador provoca muitas dúvidas até os dias de hoje, mas a maior probabilidade é a de que o príncipe regente desejava conquistar o apoio desta região que até então era um importante centro comercial e político, a fim de assegurar sua permanência no país. Os líderes baianos estavam descontentes com a transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, então era preciso acalmar os ânimos.
As terras que encontraram eram extensas, fragmentadas, mal exploradas, pouquíssimo habitadas, não usava moeda corrente, não possuía meios de comunicação entre as províncias, a imprensa não tinha liberdade (devido aos transtornos causados pelos ideais da Revolução francesa que vinham se propagando), o modo de vida e costumes eram simples demais sem qualquer sinal de sofisticação, não havia fossas (eram usados os negros “tigres”) e o povo era mal educado. Além disso 2/3 da população era negra, liberta, mulata ou mestiça o que tornava o local ainda mais repugnante aos olhos portugueses. Não existia sequer médico, o oficio era exercido por barbeiros que após medicar por quatro anos conquistavam tal título. Ainda assim a colônia era mais rica do que sua metrópole.
D. João será reconhecido por trazer a bondade ao país por seu longo ritual do beija mão. A chegada da nobreza irá melhorar aos poucos a cidade de Rio de Janeiro.
Padre Perereca será um grande observador da estada real na colônia, foi um escritor atento, curioso e bajulador de sua alteza real.
No dia 7 de março de 1808 toda a família real chega ao Rio de Janeiro que contava com 60 000 habitantes. A recepção da corte foi feita com toda a pompa possível. Mas o local não possuía infra-estrutura para abrigar tantas pessoas, cerca de 10 a 15 000 indivíduos, então as casas começaram a ser confiscadas para o uso da corte: as letras PR (Príncipe regente) eram colocadas nas portas e isso indicava que os moradores deveriam sair imediatamente de sua morada e deixá-la para um recém chegado português, em troca receberia um valor anual estimado, o que raramente era cumprido. Além disso, os impostos sofreram grandes aumentos, pois agora era preciso arrecadar muito mais para poder sustentar o ócio dos milhares de nobres recém chegados.
Em 1811 o arquivista real Luiz Joaquim dos Santos Marrocos chega ao Brasil trazendo consigo os bens da biblioteca esquecidos no cais de Lisboa.
D. João era gordo, bonachão, preguiçoso, feio, depressivo e religioso. Há a suspeita de que tenha mantido um caso homossexual com Francisco Rufino. Casou-se a força aos 17 anos por meio de uma procuração com Carlota Joaquina, na época com 10 anos. O único amor de sua vida foi uma serviçal chamada Eugenia. Tinha medo de trovoadas e crustáceos. Não gostava de banhos nem de roupas novas. Referia-se a sí mesmo em terceira pessoa pelo título de sua majestade. Era repleto de hábitos estranhos, um deles era o de carregar asas de frango nos bolsos do casaco. Contou com o apoio de Conde de Linhares, Conde da Barca e Villa Nova em suas decisões político-administrativas. Apesar de tantas esquisitices foi um grande homem, afinal conseguiu manter a coroa em meio as derrocadas reais provocadas por Napoleão e seus exércitos.
Carlota Joaquina era uma mulher feia, beata, teimosa, carola, falante, maquiavélica, infeliz, inteligente, vingativa e ambiciosa. Gostava de cavalgar, conduzia muito bem um canhão, odiava o Brasil e participou de diversos golpes, inclusive contra seu marido: no ano de 1805 durante uma das crises de D.João ela tentou pegar para sí a regência de Portugal o que ocasionou a separação do casal. Suspeita-se que tenha sido infiel, mas não foram encontradas provas de seu adultério. Seu secretário pessoal pode ter sido um de seus amantes e a traiu escrevendo um livro que destacava suas intimidades. Morreu falida; não se sabe ao certo se por câncer no útero ou suicídio, ainda deixou 1200 missas encomendadas, 100 delas pela alma de D. João.
A corte estava falida, mas continuava exagerada e muito cara. Seus serviçais eram corruptos. Para manter a renda é criado o primeiro Banco do Brasil que só favoreceu quem já era rico e acabou falindo. Seu ouro foi levado à Portugal com o retorno da família em 1821.
A prometida abertura dos portos ao comércio estrangeiro beneficiou muito a Inglaterra, pois naquele momento era a única nação européia livre de Napoleão e capaz de manter relações estrangeiras. Os produtos industrializados britânicos chegavam em grande quantidade e baixo custo, alguns eram verdadeiras quinquilharias que jamais seriam usadas nos trópicos, como grossos cobertores e casacos, patins de gelo, espartilhos, entre outras coisas.
Agora que estava estabelecido em solo brasileiro D. João desejava melhorar o país e expandir o território luso, esta último foi uma empreitada mal sucedida. Mas no que diz respeito a melhorar o Brasil o príncipe regente alcançou bons avanços como: a permissão para instalação de indústrias, abertura de estradas, implantação de ensino laico e superior, instalação da imprensa jornalística e a mudança estética nas fachadas dos edifícios. D. João ainda promoveu a Missão Francesa, onde artistas reconhecidos como Debret vieram ao país para promover o refinamento da população. A música era a arte favorita dos cariocas.
A população no Rio aumenta, com isto cresce também a criminalidade, o número de roubos, assassinatos, pirataria nos portos e gangues nas ruas armadas com facas e estiletes. Os jogos e a prostituição embora fossem proibidos eram praticados a luz do dia. O advogado Paulo Fernandes Viana é eleito Agente Civilizador por D. João ficando responsável por mudar os costumes das pessoas e passa a se intrometer em praticamente tudo que acontecia na cidade. A capoeira e as reuniões de negros foram proibidas e as punições praqueles que as praticassem eram severas. O açoitamento em público não foi mais executado. Era comum andar armado nas ruas assim como a prática das pedradas. Espiões foram colocados atrás de estrangeiros para garantir que idéias francesas não fossem disseminadas. Os policiais de Viana ficaram conhecidos como “morcegos” por agirem sempre a noite. A falta de recursos era enorme. A infra-estrutura e serviços de saneamento eram extremamente precários. Até mesmo a natureza da cidade foi alterada por indicações médicas que afirmavam que a existência de morros dificultaria a circulação de ar, por exemplo. Atualmente a geografia pouco se parece com aquela encontrada pelos portugueses no século XIX.
Atualmente os monumentos e locais históricos da época de D. João VI na cidade do Rio de Janeiro estão abandonados ou mal identificados. O maior entreposto negreiro americano que recebia entre 18 e 22000 escravos ao ano, o Mercado de Valongo, simplesmente desapareceu.
A chegada da corte impulsionou o tráfico. Os maiores comerciantes cariocas eram traficantes com lucros astronômicos, extremamente respeitados e influentes na sociedade. Mesmo assim o risco era alto, em média somente 45% dos negros chegavam ao seu destino final. Foi um dos maiores genocídios da história da humanidade. O espaço reservado a cada negro dentro das caravelas era menor do que o de um caixão. Os naufrágios e piratarias também eram um grande problema, por isto foram criadas seguradoras para os navios.
Os escravos eram baratos, acessíveis até mesmo à classe média, e alguns podiam ser alugados. No chamado Sistema de Ganho o escravo vendia seu trabalho a diversas pessoas, havia uma meta a ser paga a seu senhor e o excedente ficava ao escravo, no entanto, caso não alcançasse esta meta, seria punido. Este sistema era vantajoso tanto pro senhor que lucrava e não se preocupava com as fugas, quanto para o escravo que também lucrava e desfrutava de maior liberdade. Algumas vezes o montante arrecadado pelo negro era suficiente para comprar sua Carta de Alforria.
As punições mais comuns eram dadas através do chicote, do tronco e dos grilhões. Não se recomendava que fosse aplicada uma pena acima de 40 chibatadas ao dia, mas existem relatos com até 600 açoitamentos. Esses castigos eram aplicados pelo senhor nos escravos rurais, enquanto que os urbanos eram punidos por policiais, neste último caso o senhor poderia poupar seu escravo pagando à polícia para liberar seu cativo. A lei exigia condições mínimas de sobrevivência aos negros, estes deveriam ser alimentados, vestidos e abrigados pelo senhor o que era muito melhor do que a liberdade na maioria dos casos, já que, uma vez livre, grande maioria era lançado automaticamente a miséria pela ausência de posses e oportunidades.
Graças à abertura dos portos concedida por D. João, que era uma das imposições britânicas pela escolta até a América, o país recebeu diversos viajantes, os quais através de seus relatos transformaram este em um dos períodos mais documentados da história brasileira. Até o momento era o único porto do mundo que ainda se mantinha fechado a estrangeiros. Estes documentos revelam uma corte caipira, uma natureza abundante e um povo analfabeto e desleixado. Para a ciência essa abertura significou um salto quântico devido à vasta biodiversidade descoberta.
O conflito na Península Ibérica foi o primeiro passo para a derrocada napoleônica. O primeiro erro de Napoleão foi eleger Junot como comandante durante a invasão de Portugal, pois ele era um bom combatente, mas um péssimo estrategista. Com a resistência portuguesa e o fracasso sucessório, Junot acaba se suicidando. Embora a repressão francesa tenha sido dura, dada através de uma série de fuzilamentos, tanto Portugal quanto a Espanha continuaram resistindo às forcas franco-napoleônicas. Para os espanhóis foi um tanto mais dramático já que a corte não teve tempo para fugir e acabou deposta. Na segunda fase da Guerra Peninsular Napoleão faz uso de seus melhores generais além da sua própria presença nas frentes de batalha, enquanto que do outro lado a Inglaterra começa a apoiar portugueses e espanhóis. Em outubro de 1809 engenheiros britânicos começam a construir com a ajuda de trabalhadores lusitanos uma seqüência de cem fortificações em torno de Lisboa, as chamadas Torres Vedras, que se revelaram intransponíveis. Daí para a derrota final de Napoleão em Waterllo seria apenas uma questão de tempo.
Cruz Cabugá chega aos EUA em 1817 para unir-se a franceses exilados com a idéia de conseguir apoio americano, comprar armamentos e libertar Napoleão e assim executar a Revolução Pernambucana. Ao retornar ao Brasil com apenas quatro recrutas a revolução já havia sido sufocada pelo exército real; foram presos antes mesmo de desembarcar. Embora derrotado o movimento abalou a corte uma vez que sujeitos muito próximos a ela participaram do levante. A revolta eclodiu em Pernambuco, mas o descontentamento com o aumento abusivo dos impostos era geral em todas as capitanias. O absurdo era tamanho, que se pagava em Pernambuco a iluminação pública carioca, enquanto que Recife se mantinha às escuras. Esta insurreição pernambucana se deu principalmente pela queda do valor do açúcar e às restrições impostas ao tráfico negreiro. As mulheres deveriam raspar seus cabelos para provar a adesão à causa. Os revoltosos ficaram três meses no poder e a bandeira que desenharam é estendida até os dias de hoje em nome do estado. Isolado o governo acabou se rendendo. Quatro integrantes foram mortos, tiveram cabeças e mãos pregadas a postes e seus corpos foram arrastados por cavalos até o cemitério. Os demais foram anistiados por D. João, entre eles o próprio Cabugá. Com as revoltas contidas começava uma sucessão de pompa real no Rio de Janeiro.
O ano de 1818 foi sem dúvida alguma o mais feliz de D. João no Brasil. Sua saúde estava bem, a colônia prosperava e enriquecia, a ameaça de Napoleão era extinta, as conspirações da Carlota Joaquina haviam sido derrotadas, o reino se encontrava em paz e os hábitos haviam melhorado conforme o planejado. Restava a corte, ainda que pobre, festejar e reconstruir o Império nos trópicos. Os festejos se iniciam em 1817 em Portugal, ano do casamento e desembarque de Leopoldina. O enlace matrimonial acontecido em Lisboa entre ela e o príncipe D. Pedro foi um dos mais caros de toda a história, foram gastos cerca de dezoito milhões de reais na cerimônia além dos “mimos” oferecidos aos convidados. Toda a cidade do Rio de Janeiro foi lavada e ornamentada para a chegada da princesa, até mesmo as praias foram limpas. Os ornamentos eram imitações de materiais nobres e foram mantidos para as cerimônias de aclamação, coroação e aniversario de D. João no ano de 1818, embora já estivessem se desmanchando. O cotidiano do novo rei era calmo e repleto de serviçais.
Durante os treze anos em que D. João esteve no Brasil seus conterrâneos passaram muita fome e sofrimentos nas terras lusitanas. No dia seguinte ao embarque da corte um terremoto sacudiu Lisboa. Os agricultores com medo da chegada francesa fugiram para a capital enquanto quem já estava lá enfrentava uma corrida em busca de suprimentos. O general francês Junot prometeu proteção ao povo português. Suas tropas exaustas e maltrapilhas encontraram uma cidade deserta e começaram uma sucessão de saques. Os bens esquecidos nos cais pela corte foram confiscados. Lojas e casas foram arrombadas. Faltava dinheiro em circulação, a moeda desvalorizou e os preços dos alimentos dispararam. Napoleão enganado por D. João impôs serias punições ao reino português. Parte da nobreza acabou se aliando aos franceses, mas o povo resistiu com todas as forças. Portugal perdeu quinhentos mil habitantes em apenas sete anos devido à fome, a fuga e ao envio para campos de batalha. A capital ficou deserta, o povo migrou para o campo em busca de comida. Com a resistência portuguesa e espanhola os britânicos conseguiram furar o bloqueio continental e vencer as tropas francesas. Na Convenção de Cintra o exército francês se propõe a devolver os bens saqueados e retornar a França. Inglaterra e França acabaram dividindo entre sí o butim de guerra, ignorando os direitos portugueses. Portugal com a ausência da corte se tornou um protetorado britânico comandado pelo marechal Beresford com mãos de ferro. Governadores portugueses alertaram D. João do risco de sua permanência no Brasil frente às idéias revolucionárias do general Gomes Freire. Os impostos cobrados para manter a guerra contra Napoleão não foram extintos mesmo com o fim dos combates enquanto que a concorrência com o comércio industrial inglês fez as vendas despencarem. O tratado comercial com a ilha britânica também não foi desfeito e pra piorar a situação D. João não desejava retornar ao país o que lhe foi proposto dois anos após sua partida. Também se negou ao retorno no ano de 1814 quando navios britânicos vieram para buscá-lo. Em 1820 uma série de movimentos passa a exigir o retorno real. Panfletos espalhados pelas ruas descreviam o Brasil como terra de macacos, pretos e serpentes. Caso retornasse D. João poderia perder o Brasil, que com a influência vizinha acabaria declarando sua independência, mas se permanecesse as ondas revolucionárias o fariam perder Portugal. Num primeiro momento pensou em enviar seu herdeiro D. Pedro, mas este não estava disposto já que sua mulher estava prestes a dar a luz, além de que não queria sair das terras onde havia sido criado. Após muita discussão D. João resolveu ir ele próprio, uma atitude surpreendente vinda de um rei medroso e indeciso.
A partir de fevereiro de 1821 uma multidão começa a exigir a assinatura da constituição liberal, mas apesar dessa atitude o rei era respeitado e aclamado por onde passava. Neste momento D. João declara à Pedro que em caso de separação entre a colônia e a metrópole ele gostaria que o Brasil permanecesse nas mãos de seu herdeiro. Treze anos após desembarcar em terras tropicais D. João reembarca aos prantos, acompanhado por somente um terço da comitiva que o acompanhou para cá. Seu retorno deixou nosso país a mingua, todo o ouro do Banco do Brasil foi levado a Portugal.
Após 68 dias de viagem D. João chega a Portugal no dia 3 de julho de 1821, ainda no cais foi humilhado, insultado e submetido a uma série de imposições. Regressava menos rei do que chegara ao Brasil.
O novo Brasil criado em menos de uma década e meia por D. João era mais respeitável. Somente ele conseguiu manter o imenso território unido. A independência brasileira em 1822 se deu mais devido as diferenças entre os próprios portugueses do que pelo desejo do povo brasileiro. O país ainda não estava pronto para se proclamar independente, continuava anestesiado por trezentos anos de exploração colonial. A República não convinha devido as disparidades entre as classes, assim só uma monarquia forte poderia controlar os movimentos separatistas entre as províncias. Ao contrário dos Estados Unidos da América no Brasil o interesse republicano era restrito às minorias, então em 1822 as tensões sociais foram adiadas pela decisão de que o país se tornaria uma república eleita através de votação. O voto era restrito a elite e só servia para manter a aparência republicana, pois logicamente o poder continuaria nas mesmas mãos em que já se encontrava. Em nome das elites a escravidão foi mantida até 1888 quando foi abolida pela bisneta de D. João, princesa Izabel.
O arquivista Luiz Joaquim dos Santos Marrocos aos poucos se adapta ao Rio e passa a amá-lo e lutar pela independência do país, isso faz com que a relação com seus familiares portugueses esfrie radicalmente. As cartas resposta de seu pai foram se tornando escassas, mas apesar disso ele arquivou todas as de seu filho na biblioteca nacional portuguesa e elas se tornaram uma importante fonte histórica. De 1811 a 1813 o tom das cartas era de repulsa pelo Brasil, a partir de 1814 o tom se modifica apresentando um país lindo e acolhedor. Essa mudança no pensamento de Marrocos tinha nome, Anna Maria, uma carioca filha de uma brasileira com um português. Segundo o arquivista o único defeito de Anna era ser brasileira. A notícia do casamento foi dada aos seus parentes dois meses após o enlace, o que os deixou revoltados. Juntos tiveram três filhos enquanto ele enriquecia e prosperava no Rio de Janeiro. Chegou a tornar-se um alto funcionário do Imperador Pedro I. Em 1824 se afastou definitivamente da biblioteca nacional. Na véspera do retorno da corte, em 1821, Marrocos tentou convencer sua família a mudar-se para cá. Portugal se tornara o velho, a decadência, enquanto que o Brasil se tornara o novo, a riqueza.
No serviço de genealogia dos mórmons americanos existe uma filha de Joaquim: Joaquina dos Santos Marrocos, nascida três meses antes de seu casamento. Este caso é interessante porque a menina foi registrada com nome e sobrenome de sua família genealógica, o que era um caso mais do que raro. Joaquina foi deixada na “roda dos enjeitados”, local onde as crianças eram deixadas para adoção preservando o nome de sua família, geralmente eram filhas de ricas mães solteiras, esse objeto foi trazido de Portugal. O Santíssimo Sacramento onde a menina foi batizada era uma das mais antigas irmandades do país e tinha o costume de dar assistência a estas crianças que não podiam ser aceitas pelos costumes da época que não aceitava filhos extraconjugais.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As mudanças no campo historiográfico

A crise do paradigma dominante proporcionou um grande avanço em todas as ciências, no caso da História não poderia ser diferente; a partir desta crise se estabelece uma reforma no campo historiográfico.

Primeiramente devemos frisar que paradigma se refere ao objeto e sua forma de estudo por uma dada comunidade cientifica. No caso histórico o paradigma predominante até meados das décadas de 60 e 70 era o Rankeneano, caracterizado pela neutralidade do historiador e exaltação dos grandes feitos e personagens políticos assim como o uso de fontes somente governamentais. É lógico que esta história era extremamente restrita e não é difício perceber que sua ampliação era uma necessidade emergente.

Surge na França uma contraproposta histórica na década de 80, a chamada Nova História Cultural. Essa NHC fica assim conhecida após a publicação em 1989 de um livro com este mesmo título, Nova História Cultural do escritor estadunidense Lynn Hunt que será responsável pela popularização deste termo e sua sigla correspondente. No Brasil essas idéias chegam na década de 90. Assim o conhecimento histórico será reelaborado a partir desta crise do paradigma dominante. Este é um momento muito importante porque ocorrerá uma série de mudanças no fazer história.

Os impactos de uma mudança justamente nas bases de estudo são grandes. Primeiramente se enfrenta as críticas e depois de conseguir freiá-las e se estabilizar é o momento de implementar mudanças radicais. A NHC modifica todo o processo de ensino de história pois agora fala-se em histórias. Passa a existir uma série de desdobramentos da disciplina, uma série de olhares, de sujeitos e de objetos. Surge uma multifacetação da história, ramos específicos para assuntos distintos dentro da boa e velha historiografia. Novas fontes de estudo são apresentadas como:

  1. A Micro-História: que reduz a escala de observação para entender o espaço do sujeito dentro de estruturas amplas, rompendo com generalizações e acentuando o indíviduo em sí. É interdisciplinar e parte das idéias marxistas. Descreve o comportamento humano diante dos sistemas reguladores;
  2. A História Vista de Baixo: tráz a massa como sujeito da História e não como mero espectador. Mostra as participações populares em grandes feitos, quebrando com a concepção de heróis responsáveis por seus feitos de forma solitária, desta forma o povo passa a ter uma identidade e se fortalece;
  3. A História Oral: possui um limite etário, mas é importante porque o próprio sujeito do contexto pode narrar o que aconteceu, imprimindo mais realidade nesta narrativa assim como suas emoções que tornam o fato mais complexo e real.
Estas são as principais revoluções trazidas para o campo da História que modificaram a forma de ver e transmitir os fatos. Atualmente o educador pode trabalhar com diversas visões sobre um mesmo acontecimento, isto amplia o conhecimento do aluno e lhe proporciona mais dados para raciocinar sobre até que ponto o que ele sabia era verdade ou estava sendo manipulado por algumas vozes. É importante salientar que a Nova História não pretende substituir o paradigma dominante, mas sim ampliar as verdades históricas a partir de reconsiderações e novos olhares sobre o já estudado.

Tanto a Teoria da História quanto a Historiografia são momentos que revolucionaram a visão do historiador em construção e culminaram na disciplina de História como a conhecemos atualmente. Cada uma delas trouxe constribuições diversas por serem geradas em tempos distintos e nos permitem conhecer os nomes que pensaram e colaboraram para a inserção e aceitação da História no campo científico. Desta forma considero muito importante que elas façam parte de nossa grade curricular, pois considero fundamental conhecermos as raízes do que estamos estudando e que mais futuramente estaremos ensinando. É crucial conhecer profundamente tudo o que se deseja fazer bem, na minha opinião.

As transformações no processo histórico durante os séculos XIX e XX

Em fins do século XIX e início do XX as sociedades européias sofrem mudanças drásticas que afetarão toda a concepção de mundo até então construída, inclusive as idéias que subsidiavam as produções históricas até aquele momento. É neste contexto de transformações estruturais ocorridas em toda a ordem social decorrente das inovações tecnológicas, que novos campos de estudos surgem como a psicanálise e a relatividade, a partir desta situação os estudiosos começam a questionar os métodos, finalidades e objetos de estudo tanto do campo historiográfico como das demais ciências sociais. A história positivista, por exemplo, não resiste a disseminação dos novos armamentos que irão aterrorizar o mundo ao se apresentarem durante a Primeira Grande Guerra. A sabedoria humana estava levando o homem a sua alta destruição, e o pior, em massa. Como manter uma história pautada no apoio as reinvindicações quando se chega a um nível insuportável de intolerância ao próximo?! A corrente marxista será menos agredida por considerar importante a escrita da história econômica, abrindo o leque de informações que era restrito aos documentos e figuras oficiais até então, assim o proletariado fará parte dos estudos pela primeira vez na história, uma caracteristica da historiografia em formação. O mundo se tornava mais ágil e era chegado o momento de mudar as concepções de homem, de sociedade e de escrita.

Através de uma iniciativa de Febre e Bloch no ano de 1929 é fundada a revista francesa Annales d'Historie économique et sociale, a grande revolução proposta por este trabalho era justamente abranger o campo de estudos competente a historiografia. Pretendiam saltar os limites da história política fazendo menção aos fatos sociais, através dos quais seria possível falar sobre os mais diferentes assuntos que compunham o contexto humano. Também trouxeram um olhar crítico do historiador que não pode negar sua influência sobre a construção de uma narrativa, assim além de observar e narrar também era necessário assumir sua intermediação sobre os fatos ali expostos. Estes autores farão diversas alterações nesta publicação pra melhor adequá-la a realidade vivida conforme o passar do tempo. Tanto que ainda hoje sobre mediações desde seu nome até a apresentação e metodologia utilizados.

O conceito de pós-modernidade surge exatamente destas mudanças de perspectivas ocorridas nos mais variados campos intelectuais. Logo a pós-modernidade seria um movimento intelectual com apogeu em algum ponto do século XX enquanto que a modernidade abrange as transformações referentes a Renascença e ao Iluminismo. O pós pode ser visto como uma reação ao modernismo e suas disparidades estão entre a forma como cada um percebe a maneira adequada de dirigir os movimentos intelectuais. Assim a pós modernidade irá trabalhar conceitos totalmente alheios a modernidade com a quebra de fronteiras, da rigidez das verdades, da divisão das ciências em campos distintos. Assim a pós irá trabalhar com o descontínuo, o caótico, o diverso, fatores estes considerados como irrelevantes durante a modernidade. Desta forma é possível perceber que modernidade e pós modernidade são conceitos totalmente antagonicos que convivem ainda hoje no meio social com alternação de opiniões em torno de si.

A Escravidão e o Preconceito Racial

A escravidão faz parte da história da humanidade, mas sem dúvida alguma sua versão mais intensa e cruel foi protagonizada no continente americano durante o contexto de exploração colonial.

Nosso país, devido sua extensão e riqueza natural, recebeu massas imensas de cativos africanos forçados a trabalhar exaustivamente nestas terras afim de enriquecer o outro lado do oceano, a Europa.

Durante décadas nossa historiografia representou essa permanência negra no Brasil como extremamente pacifica, onde essa multidão de homens, mulheres, crianças e idosos eram vistos como meros objetos de propriedade sujeitos a toda e qualquer imposição dos senhores brancos sem expressar qualquer forma de resistência ou indignação. Felizmente esta versão errônea foi superada, e atualmente já possuímos conhecimento das mais diversas formas de luta e busca por alternativas de uma vida melhor por parte da massa escravizada. Falta somente expandir esse cotidiano de luta nas classes escolares, que ainda são dominadas em grande maioria pelas idéias de um negro submisso.

Ser um escravo lhe lançava imediatamente a um mundo de repressões, castigos, exploração, submissão, solidão, torturas; comer, vestir e dormir conforme lhe era concedido. Era uma vida árdua que geralmente acarretava em morte em menos de sete anos de trabalho. Mesmo assim havia situações bastante distintas, um escravo urbano, por exemplo, gozava de um contexto muito mais ameno que um inserido nas plantações de cana de açúcar e cafezais. Possuía trabalhos menos exaustivos, jornada de trabalho um pouco mais curta, melhores condições de habitação e alimentação, maior liberdade de locomoção, de mudar de serviço, de senhor, podia até mesmo desenvolver um negócio próprio e angariar fundos pra comprar sua alforria durante suas horas de descanso. Os escravos também foram usados no sul do Brasil encarregados do pastoreio de gado onde a jornada de trabalho se estendia muitas vezes durante quase toda a noite. Mas de todos os empregos forçados em terras americanas nenhum era mais desgastante do que a exploração das minas que exigia jornada absurda com imersão em água, exposição ao sol, poucas roupas e posição curvada sobre constante vigilância.

As pressões externas, sobretudo a inglesa, levaram pouco a pouco ao fim do trafico negreiro e mais tarde da própria escravidão nas Américas. Mas isso foi um longo processo social onde as relações escravo/senhor foram se moldando lentamente conforme a situação exigia. No fim desse período o escravo já era tratado de forma significativamente mais humana, poupado de diversos serviços que colocariam sua vida em risco já que estava se tornando uma mercadoria cara e escassa. Durante o império a existência da Constituição afirmando igualdade e liberdade ia de encontro a permanência da exploração de mão de obra escrava e desta forma culminou no ato de Absolvição através das mãos da princesa Isabel como todos nós já conhecemos; um outro fato que foi trabalhado como um ato heróico próprio da solidariedade daquela alma, mas a historiografia mais uma vez estava equivocada, pois como sabemos a princesa simplesmente assinou um idéia pensada a décadas e que naquele contexto era algo inevitável para continuar as relações comerciais com o exterior por sermos um país agro-exportador e dependente das grandes nações da época.

O preconceito com o negro é um ato ridículo que prova o quanto ainda somos voltados a uma sociedade hierárquica, antiquada e elitista. Foi através dos braços destes imigrantes sofredores que nos constituímos como país, foram eles que trabalharam para desenvolver nossa sociedade, e são eles que até hoje sofrem uma exclusão social absurda. Temos muito o que crescer intelectualmente, não basta criar cotas de inclusão é preciso modificar a mentalidade fútil de nosso povo. Um preconceito sem razão, somos todos iguais e os negros possuem uma alma muito mais limpa do que a nossa, que durante séculos exploramos impiedosamente nosso semelhante somente por ambição financeira. Os negros são muito mais humanos do que os brancos, sofreram e sofrem muito até os dias de hoje devido nossa mania de menosprezar o diferente, mas nem por isso se sujeitaram a medidas agressivas e segregacionistas como nós o fizemos tantas vezes. São um povo de alma nobre, que sabem perdoar o próximo e lutam incansavelmente, e o mais importante: pacificamente, para ser reconhecidos perante a sociedade e obter o mínimo de dignidade para viver e criar seus filhos.

Como descendente dessa massa tão humilhada durante séculos, peço humildemente que você reflita sobre seus atos e ajude a criar uma opinião mais digna, mais solidária, e nos reconheçam finalmente como seus iguais e freiem esse preconceito racial tão desumano e injusto para com nós.

Atenciosamente: Janaina DA Silva.

O "Perigo Vermelho"

Discordar de Hobesbawn é uma grande responsabilidade, nós que estudamos História sabemos muito bem disso, mas mesmo assim, caso fosse a situação, eu não hesitaria em fazê-lo, porém neste caso eu concordo plenamente com suas palavras.
O interesse da URSS era bastante claro: ampliar, restabelecer e fortalecer seu território e fronteiras, logicamente outros continentes como o nosso, tão distante não lhe interessava naquele momento pós-segunda guerra mundial onde a prioridade era reconstruir os grandes danos causados pelo combate. Assim como relata Reichel em seu artigo:

A América Latina também não ocupava um lugar central no projeto de expansão mundial do domínio soviético. Estudiosos apontam que dificilmente a URSS teria condições ou até interesse de superar a hegemonia norte-americana no continente. Mesmo assim, era preocupante o crescente número de adeptos que o comunismo apresentava na conjuntura do pós-guerra. (REICHEL, 2004, p. 189 – 208).

O governo soviético se encontrava liderado de forma a garantir o desenvolvimento interno:

[...] Seguidor incondicional de Lênin, disputava com Trotsky o cargo deixado pelo líder da Revolução. Sua influencia política e sua hábil capacidade de formar alianças garantiu-lhe o comando do país. Havia sido nomeado pelo Comitê Central do PCUS em 1922, e apesar de sua admiração por Lênin, não agradava ao líder como seu sucessor.
O georgiano Ióssif Vissariónovich Djugashvíli fazia jus ao nome que havia adotado quando adulto: Josef Stalin (“homem de aço”, em russo). Assim que assumiu o poder, tratou de intensificar as perseguições políticas a adversários do regime, usando as forças da polícia do PC, que historicamente ficou conhecida como KGB, contra membros do próprio partido. (Revista: Ditaduras do Século XX, 2009, p. 22 –23).

A Guerra Fria foi ocasionada por divergências políticas protagonizadas pelos dois grandes blocos de influencia da época: Estados Unidos e União Soviética. Culpar somente um dos envolvidos por todo o ocorrido é um tanto arriscado, mas é importante salientar que a situação foi bastante forçada pelo governo americano, que usou de um intenso discurso ofensivo para garantir sua influencia sobre a América Latina. Na realidade podemos afirmar que uma dose de medo assombrou o estado norte-americano que adotou uma postura defensiva imediatamente, e para isso alarmou a população e desmereceu o regime comunista como forma de valorizar a sua própria ideologia.

Na disputa pela hegemonia mundial, os governos norte-americano e soviético passaram a defender ou a tentar conquistar áreas de influência. Através delas, aumentavam seu poder político e econômico, ao mesmo tempo em que evitavam o avanço inimigo.
A América Latina, que era uma tradicional área de domínio do imperialismo norte-americano, passou a ser encarada como uma importante aliada no combate ao comunismo. Apesar de não ocupar lugar privilegiado na política externa do país naquele momento, pois os interesses norte-americanos estavam mais voltados para a Europa e o Oriente, outra atitude não era considerada admissível, da parte dos governos latino-americanos, que não fosse a do alinhamento incondicional à política de contenção ao comunismo. (REICHEL, 2004, p. 189 – 208).

Dessa forma, com grande incentivo americano, foi se desenvolvendo esta grande tensão mundial que caracterizada pelo desenvolvimento de armas nucleares deixou o mundo num intenso estado de ressalva e apreensão.

No encontro que reuniu Stalin, Churchill e Harry Truman em Potsdam, no mês de julho de 1945, ficou claro que o ditador russo não se intimidava com o anúncio do presidente dos Estados Unidos de que seu país dispunha da bomba atômica. Na verdade, Stalin, através de seus serviços de espionagem, sabia da existência da armae a própria URSS também já dera início ao seu projeto nuclear. Anos depois, em 1949, os soviéticos testaram a bomba com sucesso.
Ao atacar com armas nucleares as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, no mês seguinte à Conferência de Potsdam, os norte-americanos mostraram, ao mundo, o nível em que ocorreriam os conflitos armados dali em diante e, aos soviéticos em especial, que não hesitariam em utilizar seu arsenal atômico nas oportunidades em que seus interesses estivessem sendo ameaçados. (REICHEL, 2004, p. 189 – 208).

Termino esta breve consideração acerca do tema Perigo Vermelho, forjado pela própria imprensa dos Estados Unidos da América, fixando minha opinião de que este último foi o grande responsável pela disseminação do terror ao longo período da Guerra Fria, devido sua ambição exacerbada e desenfreada que não cansa de expor nossos países como uma extensão de seu quintal e não mede esforços, passando por cima de cada um de nós, de uma maneira ou de outra, para alcançar seus objetivos futilmente capitalistas.