quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Roma, o desprezo pelo trabalho

(Lawrence Alma-Tadema , 1877)
A Roma Antiga ainda é considerada um modelo de sociedade moderna, um exemplo disso é sua arquitetura avançada e imbatível durante toda a sua existência. Entretanto os romanos alimentavam um desprezo pelo trabalho que era tão grande quanto sua ambição. Um povo obcecado com o progresso, completamente oposto a trabalhar. Os romanos impunham acordos de contratação tão rígidos que garantia ao patrão o direito de castigar seu funcionário com a mesma severidade que tratava seus escravos.

Um bom cidadão romano era aquele que sobrevivia de terras herdadas e, por esse motivo, podia se dedicar diariamente ao ócio (tempo livre destinado ao descanso, relaxamento). Estar sem fazer nada era a representação do poder. Este homem poderia dedicar certo tempo para administrar seus bens, negociar produtos e praticar filosofia, medicina, direito, política e poesia,  mas tudo isso não era considerado um trabalho, pois não fazia isso para sobreviver, mas por cobiça própria. Segundo Platão uma cidade bem-feita seria aquela na qual os cidadãos fossem alimentados pelo trabalho rural de seus escravos e deixassem os ofícios para a gentalha.

Como é possível perceber na frase anterior proferida por um dos maiores nomes da humanidade, os trabalhadores eram vistos com desprezo absoluto e sua ocupação era considerada fundamental para evitar que essas pessoas caíssem em desgraça e praticassem crimes com a intenção de superar sua miséria. Aristóteles, outro homem que desperta respeito imediato, chegou a afirmar que escravos, camponeses e negociantes não poderiam jamais ter uma vida feliz (próspera e nobre) porque não possuíam tempo para usufruí-la. Dessa maneira os pobres eram inferiores e não viviam como se devia viver porque não tinham tempo livre para praticar suas virtudes.

Os professores ocupavam a posição mais ambígua possível em Roma Antiga, afinal eles trabalhavam para poder sobreviver, mas ao mesmo tempo estavam se dedicando a uma tarefa nobre, educar. Assim os romanos optavam por chamar os educadores de "amigos" e não de trabalhadores. Até mesmo as esculturas deixavam claro que os trabalhadores eram grotescos e inferiores. Em resumo: trabalhar era uma vergonha, um defeito, e todo homem nobre devia se manter bem longe desse tipo de ocupação. Que estranho não é mesmo?! Ainda mais numa sociedade que se vangloriava de suas construções monumentais e conquistas territoriais intermináveis, frutos de muito trabalho. 

2 comentários:

Raquel Mazera Poffo disse...

Eu vejo que hoje ainda os mais humildes com profissões mais grotescas são visto também com pouco valor. E quem trabalha muito realmente não tem tempo para contemplar o belo, filosofar e curtir as virtudes. Agora também é uma questão de conceito para cada um o que é trabalho. Quem vê como sacrifício, meio de sobrevivência e até escravidão ou quem vê como um ofício, uma missão, uma conquista com prazer.

Marcos Medeiros disse...

Eu amo trabalhar.