sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

África ou Áfricas?

(Imagem do continente africano. Fonte desconhecida.)

O continente africano foi alvo de esquecimento proposital durante décadas. A chamada História Tradicional não percebia utilidade alguma em discursar sobre as terras ou personagens africanos. Tudo isso por considerar historicamente útil somente os acontecimentos e personalidades europeias. Felizmente o olhar historiográfico sofreu uma ampliação drástica no século XX com a criação da Escola dos Annales. Os fundadores da instituição Lucien Febvre e Marc Bloch foram responsáveis por trazer para o campo de estudo da História algumas novidades. A principal delas foi o interesse sobre a micro-história, ou seja, pelos pequenos fatos e personagens.

A História começou a dialogar com outras ciências, uma delas foi a Antropologia que revelou verdadeiras facetas sobre a África. Graças às pesquisas no solo africano foi possível descobrir que os ancestrais humanos mais antigos viveram naquela região e mesmo assim o grande continente continuou sendo visto com menosprezo pelo mundo afora, como ainda é nos dias de hoje. O preconceito é tamanho que muitos europeus defendem que o Egito pertence á Europa devido sua riqueza e prosperidade. Alguns historiadores afirmam que as terras africanas devem ser entendidas como duas partes completamente diferentes, a África Mediterrânica e a África Subsaariana.

Os historiadores adeptos dessa ideologia utilizam a geografia para justificar a divisão continental. Para eles o deserto do Saara provocou um afastamento físico entre as populações do norte e do sul que acabou resultando em cotidianos tão diversos a ponto de produzir dois contextos culturais completamente alheios. Dessa maneira seria impossível falar em uma África, pois a realidade e história são completamente diversas. Logo seria mais adequado separar as sociedades em África Mediterrânica (ao norte do Saara, em contato com os povos do Mediterrâneo) e África Subsaariana (ao sul do Saara, completamente subdividida em pequenas culturas).

Outros dois argumentos para justificar a existência das “duas Áfricas” são: a grande quantidade de cataratas ao longo do rio Nilo que inviabilizaram a navegação que poderia ter estreitado os laços entre o norte e o sul africano e também a presença da escrita somente no norte que comprovaria a superioridade de seus habitantes. Entretanto, o número de historiadores que discorda completamente sobre as “duas Áfricas” vem crescendo rapidamente na atualidade. Eles vêm defendendo a integridade da África por alguns motivos, entre eles o próprio Saara. Como?

Os defensores da África como um único continente alegam que o deserto saariano nem sempre foi tão seco e árido, logo, há milhares de anos atrás, o ser humano que ainda estava em evolução conseguia atravessá-lo sem grandes dificuldades. Outro argumento é de que as cataratas do rio Nilo dificultaram a navegação sim, porém nunca a tornou impossível, tanto que foram encontrados no norte objetos produzidos no sul, e vice e versa. Outra refutação é a de que as diferenças culturais entre o sul e o norte não evitaram seu contato, caso contrário, o norte também não poderia ter comercializado com o Mediterrâneo.

Seria inocência negar o fato de que o norte africano manteve uma ligação muito maior com os povos mediterrâneos do que com o sul africano. Entretanto defender essa cisão entre as duas partes africanas, para mim, é um grande exagero. Quem sabe seja até um belo golpe para se apropriar das riquezas incontestáveis da “África Mediterrânica”. Afinal, não é novidade alguma que desde os tempos do engenhoso Napoleão Bonaparte os artefatos históricos egípcios vêm sendo desviados para os museus europeus. Acha isso muito antigo? Então vamos falar sobre os Estados Unidos da América, outro campeão de exibicionismo museológico africano.

A África é uma só. Uma linda, plena e injustiçada terra. Um solo de abusos incontestáveis. O “berço da humanidade” merece muito mais respeito do que tem recebido até os dias de hoje. E sabem por que o povo não reconhece a grandiosidade daquela população de onde todos nós viemos? Porque a educação pública não permite tamanho senso crítico. Nossos jovens não deixam os bancos escolares lembrando de que os esqueletos encontrados comprovam que o ser humano veio de lá, surgiu lá, evoluiu lá, todos somos aquilo lá. É obvio, no fundo todos: somos um só, uma só raça, uma só evolução. E os pobres de espírito ainda enchem a boca pra criticar a raça negra. Mera ignorância, quanto lamento sinto pela existência de tais pessoas.

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