segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Visões acerca de um fato: o olhar dominado e o dominador

Este novo imperialismo europeu imposto pelos belgas sobre o povo do congo decorre da Revolução Industrial por isso ambicionava a extração de matérias primas e a dominação do mercado consumidor, além de significar maior contingente para os exércitos reais e canal de desembarque para os excessos populacionais de uma Europa em constante crescimento populacional. A ambição chegava a tal ponto que o rei Leopoldo II da Bélgica manteve o Congo africano como uma propriedade particular por treze anos, no período entre 1885 e 1908, quando vendeu suas terras à Nação tornando-as finalmente uma colônia chamada: Congo Belga.

[...] o livro “O Fantasma do Rei Leopoldo”, de Adam Hochschild (Companhia das Letras, 1999), relata minuciosamente os passos do processo, [...] o Congo Belga constituindo o paradigma da monstruosidade que foi a ocupação européia. O nazismo ali tinha muito a aprender. Começou por convocar em 1876 a Conferência Geográfica, com 24 líderes de outras nações, exploradores estrangeiros e 13 belgas, todos recebidos nababescamente e hospedados pelo próprio rei no Palácio Real, em Bruxelas. O único ausente era o mais famoso de todos, Stanley, que há vários meses desaparecera no ermo africano sem deixar rastro. Leopoldo pediu o auxílio dos presentes para sua obra: o estabelecimento de uma cadeia de postos “hospitalares, científicos e pacificadores” nas vastidões ignotas da África Central, tendo por objetivo ostensivo abolir o tráfico de escravos. E aproveitou o ensejo para obter a anuência de todos os presentes para a fundação da Associação Internacional Africana, ele mesmo sendo eleito presidente por aclamação. O destino do novo organismo é o que se veria subseqüentemente: desativado em silêncio, surgiria em seu lugar, com nome quase igual para ninguém perceber a diferença, a Associação Internacional do Congo, empresa privada de Leopoldo. No ano seguinte, o explorador Stanley ressurge, tendo ido e voltado ao longo do curso do rio Congo desde o Oceano Atlântico até o Índico, percorrendo 11 mil km em dois anos e meio. Desbravara a bacia do grande rio e mapeara seu curso, pela primeira vez. O que o ardiloso rei Leopoldo percebera através de Stanley é que o rio Congo, um dos maiores do mundo, formava com seus afluentes uma enorme rede natural de comércio colonial, ou seja, de penetração mercantil e de escoamento de matéria-prima. Como se viria a concretizar, o território de 3,3 milhões de km equivalia ao tamanho de 75 Bélgicas, ou pouco mais que uma Índia. Tudo isso seria, mediante uma estratégia militar e ideológica de uma inteligência perversa mas rara, açambarcado por Leopoldo como sua propriedade pessoal e privada. A certa altura, através de Stanley, o rei tinha fechado tratados de aliança com 450 régulos africanos da região, pagando a um jurista de Oxford para redigir os contratos em termos impecavelmente legais. Os régulos, que não sabiam ler e assinavam com um X, cediam-lhe em caráter perpétuo a posse da terra e seus bens, bem como direitos sobre caça, pesca, minérios, produtos florestais e mais o trabalho que fosse requisitado. E aqui está a chave para a escravização que se verificou. Em troca, os chefes recebiam, nos termos escritos de próprio punho por Stanley, “tecidos finos, paletós de librés, fardas com alamares vistosos (...), sem esquecer algumas garrafas de gim”. (GALVÃO, Walnice Nogueira. Para não esquecer o rei Leopoldo. 2007. Disponível em:  Acesso em: 04 nov. 2010.)

O trecho do ensaio do livro de Galvão, acima, reflete uma visão acerca dos acontecimentos oriunda do olhar do dominado, repleta de ironias sobre o caráter do rei belga, Leopoldo I. O inquestionável em toda e qualquer situação de dominação é esta postura de duas percepções totalmente antagônicas a respeito de um mesmo fato, afinal para algo como o Imperialismo ser fixado os direitos de alguns terão de ser violados, desrespeitados. No caso da dominação do congo não seria diferente. Sendo assim a citação de nossa professora, Eliza, demonstra dois olhares, a do dominado e a do dominador, no mesmo instante em que lemos podemos perceber que são completamente antagônicas. O dominador se declara herói, salvador, digno de aclamações por seus feitos, enquanto que o dominado se mostra inquieto, alvo de ganâncias, descaradamente explorado. Analisar as duas concepções é fundamental ao oficio do professor, só assim teremos acesso a todo o contexto histórico envolto nesse momento. Levar ambas as opiniões a sala de aula ajuda a formar cidadãos críticos, dotados de auto-censo, capazes de construir seu próprio entendimento sobre o assunto, olhando o mundo com seus próprios olhos.

2 comentários:

Fabinho disse...

Eu comento, tá linda? =)
Nao entendo nada de história, mas li uns textos, gostei do que li. Gostei acima de tudo de ver toda essa tua dedicação e espero que tu continue esse trabalho, porque é algo que tu faz de coração e faz muito bem feito.
Continua assim que esse teu blog vai servir de referência pra muita gente!
Te adoro ;*

Anônimo disse...

Essa realmente é uma história de voracidade, terror e heroísmo na África colonial...

Parabéns pelo blog.