segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Os "poréns" da escravidão brasileira

(Aquarela de Debret)


O jornalista Leandro Narloch em seu livro: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil causou espanto ao revelar certos detalhes da sociedade escravagista brasileira. O segundo capítulo da obra aborda este tema de uma forma pouco convencional e nunca revelada nos livros didáticos trazendo fatos inéditos que alteram a concepção tradicional que possuímos acerca do sujeito escravizado, por exemplo, o escritor aponta o fato de que:

A escravidão era comum no continente africano ao ponto de pessoas serem utilizadas como moeda em certas transições, praticadas inclusive pelos governos locais. Os escravos eram negros, mas também brancos prisioneiros, assim é possível afirmar que a prática da redução social ao nível escravo praticado em larga escala em nosso país foi aprendido pelos portugueses no solo africano, mas é necessário afirmar que os europeus deram a escravidão uma agressividade e amplitude até então desconhecidas.

Os negros escravizados no Brasil nem sempre eram tratados como meras mercadorias, muitos desfrutavam de relativa intimidade com seus proprietários vivendo sobre o mesmo teto e compartilhando as refeições, outros compravam sua liberdade e há casos onde a herança do patrão é concedida a um de seus escravos. Estes feitos demonstram que a relação não era baseada somente no chicote como aprendemos nos bancos escolares. Tanto que os próprios negros libertos compravam escravos para si.

Os quilombos nacionais não eram sociedades tão igualitárias e pacíficas quanto imaginamos. Existia uma relação social nessas habitações que de uma forma ou de outra abriga pessoas no comando ou fora dele, assim podemos falar numa hierarquia quilombola. O herói negro Zumbi dos Palmares vinha de uma família de guerreiros africanos e dominava a situação em seu agrupamento servindo de porta voz da população em negociações com a sociedade branca colonial. Cada um tinha sua função dentro do quilombo e uma vez que aderisse ao grupo não poderia mais sair, tentativas de fuga eram repreendidas e muitas vezes eram encerradas com derramamento de sangue.

O texto de Narloch realmente é impactante e revelador, por isso mesmo enfrenta diversas críticas no mundo acadêmico. Os historiadores tendem a criticá-lo pelo fato de ser um jornalista de profissão e não alguém relacionado ao mundo da pesquisa histórica. Mas o fato é que seu trabalho é bastante embasado cientificamente através de profissionais reconhecidos nesta área. O livro é claro e instigante compondo uma excelente leitura, desde que sejam tomadas precauções durante a interpretação textual para não suscitar radicalismos.

Para completar os apontamentos sugeridos por Narloch, sugiro uma reflexão sobre a suposta aceitação pacífica por parte dos escravos brasileiros no que se referia aos mal-tratos sofridos. Muitas novelas, filmes e documentários dão a entender ou sugerem que os negros aceitavam sua condição de escravidão sem resistir nem questionar. Qualquer levantamento de dados, por mais simples que seja, revela rapidamente que os negros usavam diversas estratégias de resistência, confira as mais comuns na vídeo-aula que segue:


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