quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Brasil, a terra dos "lançados"

(Fonte desconhecida)

Após a oficialização da "descoberta" do Brasil no ano de 1500 pelo navegador Pedro Alvares Cabral o reino português ficou envolto em mistério. Tudo nas novas terras era exótico e provocante, assim não tardou para que lendas das mais diversas figuras sobrenaturais começassem a circular entre os portugueses. A cartografia da época tentava controlar os boatos negativos apresentando belas imagens das terras americanas, valorizando a riqueza da fauna e flora, provocando a curiosidade, buscando despertar o desejo de conhecer as novas terras.

Atrair colonos para a Terra de Santa Cruz era um problema. Todos tinham medo do desconhecido. A nudez dos aborígenes espantava, era a personificação do pecado original, assim, em pouco tempo, o território se tornou uma espécie de purgatório para aqueles que não eram bem vistos em Portugal. O Brasil passou a ser um verdadeiro depósito de degredados, náufragos, desertores e lançados. Esses últimos eram homens da pior índole, condenados por crimes hediondos em terras portuguesas. 

Esses homens foram a saída encontrada para explorar o desconhecido. Se não sobrevivessem não fariam falta ao reino, agora, caso tivessem sorte e vivessem, poderiam ser úteis a coroa cedendo informações sobre as terras brasileiras. E, dessa maneira, em 1511 já haviam registros do embarque de lançados rumo ao nosso país. Essas pessoas repudiadas em sua terra natal acabaram ajudando-a porque alcançaram lugar de destaque entre os nativos, conseguindo, junto deles, auxiliar a colonização portuguesa e a expulsão francesa do litoral brasileiro.

A figura dos ameríndios era a mais polêmica dentre as novidades encontradas aqui. Os portugueses, inicialmente, enxergavam os índios como seres puros, inocentes, pouco racionais e gentios (pessoas a serem catequizadas por desconhecerem a doutrina cristã). Associavam sua forma física aos ideais de força e beleza romanas representadas por Hércules e Apolo. Mas o contato direto com os nativos, aos poucos, desperta outra concepção acerca desses povos.

A nudez indígena causa alvoroço entre os religiosos e carolas. As nativas passam a ser acusadas de provocar o canibalismo com essa exposição carnal, sendo associadas as bruxas medievais. Os aborígenes são vistos como os "filhos do cão", a personificação da maldade, algo a ser combatido, e nesse momento a missão de catequizar e impor a religião católica eclode como o bem a ser feito, era necessário salvar os povos da terra do fogo do inferno e essa boa ação é usada para justificar a colonização.

A fé de cada um lhe fazia enxergar a América como o paraíso na terra ou o inferno do purgatório nesse primeiro contato com o desconhecido. Mais tarde os portugueses conseguiram se estabelecer no litoral, um pouco depois abandonaram as fortalezas penetrando no interior do país provocando a fuga desenfreada dos índios amedrontados, porque embora estivessem em número maior, estes se viam ameaçados pelas geringonças de metal que faziam um barulho aterrorizador. 

As armas portuguesas apesar de antigas e de péssimo funcionamento causavam panico, para os índios elas eram mágicas, assim, exerciam um poder muito mais psicológico do que militar. Poucas tribos se arriscaram a guerrear com os homens brancos. Algumas foram vencidas pela tática de terra arrasada, outras por guerras bacteriológicas, ambos os procedimentos foram adotados pelos governadores gerais. São Vicente, atual São Paulo, foi o maior foco de resistência nativa do país. 

Depois de expulsar, escravizar e massacrar os indígenas, os portugueses perceberam que a estratégia dos lançados não daria conta de colonizar tantas terras e garantir sua posse a coroa portuguesa, tampouco a população se mostrava inclinada a abandonar a Europa para vir morar na selva. Então a miscigenação surge como alternativa. Portugal passa a incentivar o amancebamento de brancos e índias com o intuito de povoar a vasta terra de Santa Cruz, livrando-a, enfim, do cargo de depósito de lançados.

Mais informações sobre esse processo no livro Por Mares Nunca Dantes Navegados de Fábio Pestana Ramos. Boa leitura.

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